por: Kalu
Quem não viveu uma louca paixão desmedida que nos fez acreditar que sexo e amor bastam para sermos felizes?
Com o tempo a gente aprende que nenhuma relação vive só de amor e amar é algo muito mais complexo que exige mais ação, aceitação que esta visão adolescente da paixonite. Não podemos comparar nossas ações, pensamentos, sentimentos com 15 e 30 anos.
Com maternidade é a mesma coisa: não basta só amar e a medida que vivemos aprendemos com a possibilidade de fazer diferente. Amor é fundamental, mas antes de tudo, para mim, a maternidade é algo que nos faz querer o melhor, lapidar nosso barro interior, futucar as feridas e renascer dentro de uma nova consciência.
Tenho uma visão da responsabilidade do maternar: acima de tudo estamos deixando um grande legado para este mundo e esboçando a obra de arte das futuras gerações. Ouço muita gente dizer: eu nasci de cesárea, não fui amamentada, apanhei, comi porcaria, assisti Xuxa e sobrevivi.
Sim, eu também nasci de cesárea, não fui amamentada, apanhei, comi porcaria, assisti Xuxa, aprendi a perdoar minha mãe por suas escolhas, reconheci seu amor nos acertos e erros. Mas minha responsabilidade é fazer diferente e melhor naquilo que hoje sinto na carne e na alma não ser o correto e buscar meus erros e acertos assim como minha manifestação de amor.
Uma das grandes magias da maternidade é que a gente cresce e amadurece todos os dias. Existem os conceitos, os traumas, o peso cultural, o instinto. E em cada momento da maternidade as balanças se desequilibram. Muitas são enganadas por seus médicos na primeira cesárea, buscam caminhos para um parto normal. Sucumbem diante da dor da amamentação e numa segunda oportunidade persistem e vencem seus limites.
Parir, amamentar, não-bater, ficar com as crias, dormir com as crias são ações que não fazem ninguém melhor ou pior que outrem. Cada uma de nós tem sua própria história de potencialidades e dificuldades que nos tornam únicas e incomparáveis. E em cada fase da nossa vida, (como mulheres, mães, seres humanos, almas em evolução e aprendizado) temos um nível de consciência. Aprendemos e nos espelhamos em nossos antepassados, buscando outros caminhos diante das possibilidades sociais, culturais e individuais.
Minha avó teve 3 cesáreas, não amamentou nenhum dos filhos, voltou a trabalhar quando os mesmos tinham 4 meses e contratou uma babá para deles cuidar. Isso era a década de 60, em que as mulheres começaram a conquistar o mercado de trabalho, lutar por seus direitos. Minha avó fumava em locais públicos, casou com 28 anos e transgrediu a moral e ética da sua época. Foi uma mulher moderna que apanhava calada do marido alcoólatra. Ela fez diferente de sua mãe que não pode trabalhar nem estudar, pariu os filhos em casa e perdeu um casal de gêmeos que nasceram prematuros e ficou viúva com 3 filhos pequenos que vendiam doce na estação de trem.
Na sua dor, minha avó queria trabalhar para que seus filhos pudessem ser crianças, ter comida e conforto, algo que ela não teve. Minha mãe engravidou com 18 anos, não cursou enfermagem na USP para cuidar exclusivamente das filhas. Para ela essa era uma lacuna importante que queria e fez diferente. Foi para a universidade quando eu e minha irmã tínhamos terminado a nossa. Buscou ocupações que ganhava um dinheirinho e ficava perto das filhas. Não me amamentou até 6 meses porque engravidou e o médico indicou leite artificial para que ela não ficasse fraca. Não conseguiu ou quis parto normal porque para ela não era importante, mas amamentou minha irmã até 2 anos, ficou em casa cuidando das crias
Eu fiz escolhas diferentes que couberam para meu nível de consciência: já me tratava com homeopatia, reiki quando decidi por um parto domiciliar, mas ainda assim, me submeti a um pré-natal convencional com médico de plano de saúde. Trabalho em casa desde que meu filho nasceu, tenho uma babá que fica com ele parte do dia enquanto trabalho, mas que me permite brincar vez ou outra ou dispensá-la em um dia tranquilo. Eu escolhi não bater, gritar, ameaçar porque estas ações me deixaram marcas profundas que me curo ao agir diferente. Claro que cometo meus erros e tropeços, mas com a certeza de que constantemente busco sair da zona de conforto e construir dentro das minhas possibilidades e limitações a maternagem que me cabe, buscando sempre aprender, expandir e crescer. Em cada etapa evoluímos. Com cada filhos aprendemos. E não nos cabe culpa por não ter feito isso ou aquilo. É como exigir de uma menina de 15 anos a maturidade de alguém que já passou dos 30.
As areias do tempo nos trazem as rugas e a serenidade da maturidade. Mas, em todas as fases existe o amor. Tenho certeza que minha avó, mãe e eu amamos nossos filhos e fizemos nossas escolhas baseadas no amor e na possibilidade social, espiritual e de consciência de cada momento. O que não é devido é justificar nossos erros e limitações nas escolhas alheias, sejam elas de nossos antepassados ou de nosso círculo social. E que nunca nos esqueçamos de nossa responsabilidade e compromisso de buscar a nossa evolução e a semente dela que plantamos em nossos filhos.
Olá!
Mudamos de endereço.
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7 comentários:
Kalu,
muito bem escrito e maduro.
Obrigada.
Lindo texto. Concordo plenamente o amor tem que ser a força primordial na criação dos filhos, mas melhorar sempre, afinal errar é humano, mas insistir no erro é burrice, mas consola sabermos que os amamos mais que tudo e que os erros que cometemos por não saber acertar ou por não poder fazer t. Afinal ficar nos martirizando pelo passado não trará mesmo nada de bom para os filhos.
consciência, responsabilidade e busca pela evolução deve pautar nossas escolhas... em todos os campos da vida. Mais ainda quando se trata de uma vida que trouxemos ao mundo ou que por outro motivo está sob nossos braços e coração.
Linear, objetivo. Belo texto, parabéns.
falou lindamente, kalu.
amar é a base de tudo, mas tem que ir além. aliás, o amor é exatamente a força que impulsiona e faz ir adiante, buscar ser mais e melhor sempre. em resumo, não basta amar, tem que deixar que esse amor te transforme.
bjo bjo bjo
Pena que as mesmas pessoas que te parabenizaram pela sua "imperfeiçao" nao tenham tido a oportunidade de te elogiar novamente, mas desta vez por ser uma mãe tao diferente, que nao repete os erros fáceis maioria, que tenta e mtas vezes consegue, sim, ser uma mãe perfeita.
Parabens de coraçao por vc nao se acomodar e despertar em cada oportunidade que a maternidade te dá.
Belissimo texto.
Sinceramente, mto mais profundo do que o anterior.
So que esse nao tem ninguem tanta gnt para se satisfazer.
Sua fã Dydy
Kalu, apesar de discordar de ti em alguns pontos de vista; devo dizer que concordo totalmente com o que escreveste. A maternidade transforma de uma maneira muito particular, é uma experiência única e uma grande chance de evoluir como ser humano, como mulher. Eu agradeço todos os dias pela minha filha me fazer buscar ser uma pessoa melhor, fazer nelhor, tentar com muito afinco fazer e ser diferente em muitas coisas (em relação às minhas próprias experiências como filha).
Concordo que só amor não basta, esse amor é a mola propulsora, o que dá coragem para ser mais e ir além.
Belo texto, parabéns!
Kalu, amar não basta, e isso tem ser dito meso, em alto e bom som! O que nós temos que questionar e nossas histórias de vida é que muitas vezes a nivel de nossa subjetividade fazer o que é diametralmente oposto a alguém é fazer mais do mesmo. Muito mais muito importante para toda mãe é elaborar nossa vivência de maternidade na nossa infancia, sim, elaborar lá no amago das questões mais dificeis e então diluir.
Extremamente necessário nós lubrificarmos nossas mentes, corpos e alma com aquilo que desconhecemos, buscar assim algo totalmente novo para de viver com nossos filhos. Este é o maior desafio psiquico!
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