Vida feliz

por: Kalu

Eu não quero que meu filho seja o mais veloz, nem o mais inteligente, muito menos que exiba precocidade pelo mundo afora. Não me importa que ainda precise de meu peito para dormir, que às vezes chore como um bebê e faça xixi na cama. Desde o dia que ele chegou a minha vida, minha única meta é que ele seja feliz. Essa felicidade pauta todas as minhas escolhas.

Ao escolher o modo pelo qual chegaria ao mundo, imaginei que ele seria mais feliz vencendo por sua própria força e a seu tempo. A visão de sua retirada pelas vias tortas nunca me pareceu uma cena feliz. Pensei que estaria mais feliz se nascesse no lar que fora concebido e segurado pela primeira vez, pelas minhas mãos despertas e fortes. Estaria mais feliz se mamasse em meus seios, aquecido pelo meu amor, ao invés de ficar isolado, sozinho e observado num berço de plástico artificialmente aquecido.

Imaginei que ele seria mais feliz se seu pai cortasse seu cordão, ao invés de um desconhecido e que sentiria a mais profunda felicidade em ficar, todo tempo desde sua chegada, no colo de sua mãe amada, sugando o quanto quisesse o seu corpo etérico em forma de leite.

Sempre pensei que meu filho seria mais feliz sendo atendido todas as vezes que chorasse, fosse por sono, frio ou medo da solidão e do vazio do mundo. E por isso, todas as vezes atendi suas solicitações com disposição e alegria, não importando se era dia ou noite, nem que havia adormecido a apenas 10 minutos.

Achei que meu filho ficaria mais feliz coladinho no meu corpo, mamando, se quisesse, enquanto fazia as coisas do mundo. Muito mais do que virado para frente em um carrinho, que aliás, ele nunca se adaptou. Sempre acreditei que meu filho estaria mais feliz crescendo comigo por perto, buscando oferecer meu tempo para apreciar seu desenvolvimento. Por isso não hesitei de me encolher para o mundo para estar mais tempo desfrutando da delícia de ver crescer sem pressa, saboreando cada descoberta com os olhos encantados

E em nome da sua felicidade física e emocional, escolhi não medicá-lo ao nascer e ao enfrentar suas mazelas ao longo da vida certa de que o calor da febre, a presença das bactérias e vírus é o que faz o seu corpo ficar mais forte. Escolhi adotar uma educação não violenta e nunca um tapa lhe dei. Algumas vezes falo mais alto, mas é algo também que sempre procuro olhar, corrigir para não mais errar.

Em nome de sua felicidade, busco também a minha própria. Por que sei que sou um espelho para você e a felicidade deve ser a verdadeira motivação desta vida. Por isso acabo sendo feliz, tanto em uma reunião de negócios, como deitada na grama com você olhando o céu (confesso, que quando longe estamos, sempre olho para sua foto para me lembrar do grande tesouro que tenho).

Sua felicidade é meu farol porque ela, de fato, é o grande legado que lhe deixo. Sendo feliz com suas riquezas e imperfeições você será livre, para fazer o que quiser, como quiser, com a certeza que foi amado com tanta força que uma mulher foi capaz de mudar sua vida, descobrir a felicidade divinal entre fraldas, poemas, textos, brinquedos, barulhos, choros e gargalhadas, para lhe dar o mais precioso dos tesouros: a possibilidade de ser feliz.

E diante da sua felicidade, nada mais me importa. Eu só sorrio, esse sorriso bobo de apaixonada, por ver em seus olhos brilhantes a certeza de que minhas escolhas foram certeiras. Seu andar seguro, sua alegria contagiante, sua presença cheia de luz e vida é o grande fruto doce que saboreio, grata e feliz por eu mesma ter feito escolhas tão diferentes do mundo em prol da sua vida feliz.

Foto: Arquivo pessoal