Neste momento estou escrevendo este texto, sentada do lado de fora da minha casa, iluminada apenas pela luz da lua que está quase cheia, unindo-me simbolicamente à Hora do Planeta. Luzes apagadas de todos os cômodos para desligar o brilho artificial e ligar a consciência.
Despertar a consciência adormecida é o ideal que me mobiliza todos os dias a vir aqui e falar sobre minhas experiências de maternagem. O Mamíferas, para mim, é mais do que 3 mulheres compartilhando suas experiências. É uma semente do que penso ser a verdadeira revolução ecológica para construção de uma nova consciência.
Mais que apagar as luzes, ter uma casa ecológica, reciclar o lixo, evitar brinquedos de plásticos, o consumismo, valorizar alimentos orgânicos, substituir a parafernália tecnológica por presença, nossa proposta é devolver a guiança deste mundo para as mulheres.
Quando nos deitamos com nossos corpos limpos e higienizados para que um homem faça nosso parto, entregamos um valioso poder feminino e nos tornamos pior que o pior dos homens.
Quando perdemos a conexão com nossos corpos, aceitamos ser monitoradas, checadas, visualizadas, televisionadas e decretadas como doentes e incapazes. Alguém precisa fazer o que a nossa natureza não pode realizar. Retiram o bebê do ventre, na hora dos homens, que é tocado, observado, desamparado. Uma sociedade autosuficiente e dependente de desejos que nunca se realizam é formada na hora de nascer e nos passos que seguem.
Michel Odent disse: para mudar o mundo é preciso mudar o modo de nascer. Quando uma mulher é capaz de parir com toda força de seu feminino ou pelo menos experimentar este potencial, esta dança de hormônios, ela se reconecta a grande Terra, Gaia, a mãe de tudo que vive e aqui habita. Da mesma forma que os ciclos naturais, a biodiversidade, os biomas estão sendo aniquilados em nome do crescimento tecnológico e desenvolvimento econômico, nós mulheres nos afastamos de nosso maior poder: de gerar e guiar o caminho da humanidade.
Dentro de cada lar, de cada menina que nasce pelas vias normais, em seu tempo, num ambiente harmônico e respeitável, cresce a semente de um novo mundo. Não estou desmerecendo aos homens, de forma alguma, mas como diz Woody Allen no filme poderosa Afrodite, a última palavra é dos homens: sim senhora. O quanto nossos companheiros se transformam por nossas ações? O quanto nossa paixão por nossos filhos, por nossos ideais é capaz de contaminar quem está ao nosso redor? Somos nós quem compramos ou fazemos a lista de compras, somos nós quem convencemos nosso companheiro que vale a pena pegar as economia pra investir num parto domiciliar. Somos nós que junto com nossos filhos ensinamos a reciclar, apagar as luzes, economizar o recurso do planeta. Somos nós que acordamos a noite para dar peito, que não compramos chupetas e mamadeiras. Somos nós, guerreiras mulheres, que com pequenas atitudes salvamos nosso futuro.
E quando nossos hormônios são naturalmente respeitados, quando nosso ambiente é acolhedor, nos parimos em paz. Assim como quando um ambiente é preservado, a biodiversidade e os ciclos naturais de Gaia voltam a funcionar em harmonia reequilibrando a teia da vida.
Cada criança que chega a este planeta sem drogas é a vitória do feminino a tecnocracia que vem aniquilando nosso planeta. Cada vez que uma mulher vence a dificuldade da amamentação e não se permite seduzir pela indústria alimentícia que fortalece o imaginário de que leite bom é de vaca, cessamos uma cadeia de consumo. Quando atendemos ao choro de nossos filhos, quando nos fazemos presentes, estamos criando seres mais seguros que não precisarão de carros, celulares para se sentirem amados.
Quando reduzimos a nossa carga horária ou abdicamos de nosso trabalho para ficar com nossa cria, fazendo malabarismos com o orçamento, descobrimos que precisamos bem menos para viver e menos ainda para ser feliz.
Quando temos criatividade e disposição para brincadeira, reduzindo o tempo de exposição de nossos pequenos à televisão, impedimos que sua infância seja trocada pela construção de consumidores ferozes.
E não importa se você não faz nada disso, se faz algumas coisas, se você está lendo este texto, há dentro de você uma semente mamífera, que vai florescer e mudar o mundo, tão forte e profundamente como sua consciência.
E nesta hora do planeta eu apago as luzes e desperto da matrix.
Um comentário:
Olá Kalu! :)
Adorei o seu texto, lindo mesmo! :D
Aliás gosto muito da forma como escreve. Até já coloquei textos seus no meu blog. Espero que não se importe.
Continue a escrever dessa forma tão inspiradora!
Beijos
MJ
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