por: Kalu
No instante em que ele foi fecundado senti uma forte energia dentro do meu corpo: duas listrinhas para confirmar a gestação inesperada. Senti meu cabelo se avolumar, meu corpo ficar sonolento e enjoar. Minhas formas se arredondaram. Nasci mãe naquele instante da fecundação.
Mas ao meu lado, um companheiro que gestou do lado de fora a idéia de ser pai, tentando ser presente mesmo estando a 800 km. Era a mesma barriga e imaginar um bebê ali dentro exigia certa imaginação. Começo a entender porque os obstetras gostam de ultrasom e as parteiras não precisam. Talvez eles sejam como um pai que se sente como tal vendo a imagem daquele feto. Lembro da felicidade e emoção do Maurício quando ouviu a batida do coração acelerado dentro do meu corpo . Mãe sente e ponto.
Aí aquele barrigão começa a reagir diante daquela voz grave, após receber um carinho e ser chamado de meu filhinho. Chega a hora do parto, eles se descobrem aliados de uma grande guerreira. Recordo-me de meu marido com os olhos cheios de lágrimas a cortar o cordão e entregar-me meu pequeno. Mas junto com o pai admirado, corajoso e instintivo, nasce uma leoa.
E o bebê precisa só de peito e mãe, nada mais. O outro se sente sem espaço, faz birra com criança mimada que perdeu seu brinquedo. E perdeu muita coisa além do corpo quente da mulher: ganhou um ser barulhento que pouco interage e não sabe se é dia ou noite, além de não respeitar horários comerciais.
Até 1 ano o universo do bebê é a mãe, que sabe de tudo (até que um ruído significa a expressão de um desejo específico). Confesso que demorei a perceber o quão grande havia me tornado nessa relação e não deixava espaço para o outro.
Com 2 anos o bebê começa a descobrir o mundo, as outras pessoas e inclusive, o pai. Mas ainda volta muitas e muitas vezes para os braços da mãe. E quando chega os 3 anos um milagre acontece: aquele que estava aparentemente como coadjuvante da história passa a ter seu estrelato.
É difícil perceber o quanto se deixou de delegar. Aqui só aconteceu quando cheguei ao meu limite emocional e pedi ajuda. Aquele que até então nunca havia levantado uma noite para fazer o bebê dormir, transformou-se no herói da escuridão. Quando Miguel chora é o pai que segura sua mão e o faz dormir. Com este pequeno ato meu filho verbalizou:
- Pai, gosto mais de você porque agora você cuida de mim.
Ele agora, quando se machuca, chama algumas vezes por mim, outras pelo pai. Come ao lado de seu herói, imitando o mesmo nas escolhas do alimento, das roupas e falas. Que alegria ver seus olhos brilhantes a fazer xixi simultaneamente ao lado de seu pai. Tive que abrir mão de minhas verdades e deixar que meu companheiro fizesse o que ele considerava melhor: Que importa se pijama virar roupa de brincar ou vice-versa? Que diferença faz se o sapato não combina com a meia, que não combina com a roupa? Se dormir um dia sem escovar os dentes ou se ganhar uma bala fora de hora?
A gente procura se alinhar nas orientações e rotinas, mas que cada um faça do seu jeito. E hoje tarde cheguei. Encontrei uma casa cheia de brinquedos espalhados, um menino dormindo abraçado ao lado de outro. Sorri com a alma, porque meu coração dizia que estava tudo bem. Não fiz uma ligação para saber se Miguel comeu, o quanto comeu, se tomou banho ou escovou os dentes.
Na minha leveza eu permito que Miguel descubra o pai que ele escolheu. E desta forma ganho mais tempo para que meus outros papéis voltem a cena. E cada dia, abrindo mão do meu ego e verdade, descubro que assim como eu, nos seus defeitos e virtudes, Maurício é o melhor pai do mundo, porque só ele tem a chave para os aprendizados do meu menino de luz.
Foato: Kalu Brum/Arquivo pessoal
Olá!
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7 comentários:
Querida Kalu,
no meu caso foi um pouquinho diferente... meu maridão sempre colocou o filhote pra dormir (por que quis), e a noite é, e sempre foi por ele que ele chamou, sei que nós somos a excessão e não a regra... sabe quando eles começam a confundir e chamar todas as mulheres pelo nome de "mãe" pois é o papai sempre foi uma super mamãe também...
De uma maneira ou de outra é mais que maravilhoso que estas crianças possam conviver com seus pais, ter esse carinho diferente, esse aconchego masculino, principalmente hoje em dia quando as relações familiares estão cada vez mais frágeis, é um acalento muito bom saber que este serziho tem realmente dois pais!
Um grande beijo!
Bia
Que lindo post Kalu, a foto do Miguel e seu herói diz tudo!!!Aqui em casa meu filho que vai completar 2 anos tb é super agarrado ao pai e gosta de imitá-lo em tudo!!!beijos
Val e Gui
Que lindo filho e pai!!!Essa reflexão aquece a alma. Kalu ele é a cara do pai viu!? bjs
Adorei o texto Kalu! por sinal, meu pai também é Brum, será que são parentes? Ele é do interior do RS
Amei o texto, meu amor! Mas mais que isto amo o momento, o MEU MOMENTO COM ELE.Como tudo mudou. Ele agora me procura para ter colo, a qqer hora do dia.Náo que eu tenha sido ausente, pelo contrário,sempre acompanhei e participei de todas as fases, só que num 2º plano.Mas agora: "Tomei, pq o filho é meu". Rsrsrsrs.
Kundrie, Deve ser parente sim pq sei que Brum é aqui, no Rio e no Sul, sua terra. Mas não conheço muitos não...
Por aqui também foi diferente, pois tentei, desde o começo da gravidez tentei fazê-lo se sentir parte de tudo. Acho muito egoista o ato de que, só porque a mãe carrega, só ela tem contato.Papai sempre conversou com a Gabi, as vezes madrugadas inteiras fazendo planos. E, no dia do parto, assim que ela veio prar o meu colo, com o papai ali ao lado, ele disse 'Oi' e ela vidrou nele. Era o reconhecimento daquela voz que ela já amava. E agora, depois de um ano e tres meses a convivencia só melhora, inclusive com aquela troca de olhares que só eles entendem. E acho otimo.
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