///por: Tata
Hoje eu queria compartilhar com vocês algo que escrevi de todo o coração, a uma amiga que acaba de dar à luz seu primeiro filho, e vive a intensidade do furacão dos primeiros dias de maternidade...
"(...) sabe, a chegada de um filho é uma transformação imensa na vida. do primeiro filho, especialmente. durante a gravidez, a gente imagina mas não dimensiona totalmente como a nossa vida vai mudar quando aquela pessoinha chegar do lado de fora.
aí o bebê chega, e tudo vira de ponta cabeça. a gente já não é mais o centro das atenções como era qdo o bebê estava do lado de dentro, a gente tem saudades da barriga e da plenitude da gravidez, que é um momento que a gente se sente tão inteira, e o cansaço vem com tudo, o bebê acorda e acorda e acorda, e a gente tem vontade de gritar de cansaço e se culpa porque afinal de contas como pode não ser 100% feliz com aquele bebê lindo saudável gostoso tudibom ali do lado né? mas é flor, é assim. somos humanas, somos contraditórias e cabe tudo dentro do peito. às vezes é assim mesmo, tudo ao mesmo tempo agora.
eu me lembro que qdo as meninas eram pitiquinhas muitas vezes eu me fechei no banheiro e chorei, chorei de lavar a alma, de soluçar. chorei porque tinha saudades de dormir a noite inteira, porque queria ser dona da minha vida de novo e escolher que hora ia comer e tomar banho sem ouvir um chorinho do lado de fora, chorei porque me sentia uma porcaria de mãe por estar chorando qdo devia estar cheirando e curtindo minhas bebês. chorei sem nem saber porque. eu acho q esse sentimento é legítimo, é intenso, e a gente tem o direito de viver.
ter um filho, acolhê-lo nesse mundo, é uma transformação. e transformação dói, pq pra se transformar a gente precisa deixar-se morrer um pouquinho. uma pessoa que você foi está morrendo pra dar lugar a uma nova pessoa que está chegando. e você tem todo o direito de chorar a perda dessa pessoa. mas não se esqueça que a nova que está vindo aí será sem dúvidas uma pessoa mais forte, mais apaixonada pela vida, mais consciente, mais safa, mais segura, mais entregue, mais determinada e mais um montão de coisas que os filhotes trazem de presente pra gente quando chegam ao mundo.
crescer dói, flor. e a gente cresce um bocado quando vira mãe. e dói, mas é bom. porque é como se a gente crescesse pra ser um pouquinho mais do que a gente pode ser, entende? é como se os filhos alargassem os nossos horizontes, fizessem a gente descobrir um tanto de coisas que a gente pode, que a gente é, e nem sabia. eles fazem a gente melhor. porque quando eles estão aí, a gente quer ser pra eles tudo o que puder ser, pq eles merecem isso e muito mais.
e sabe de uma coisa? eles crescem. tão rápido, tão. esses primeiros dias são tão cheios de transformação que às vezes a gente se sente meio esmagada, pensando que nunca mais vai ter a vida de volta, que nunca mais vai ter um tempo pra ser só a gente mesmo, sem ser mãe. dá um desespero inconfesso lá no fundo do peito de pensar que aquele serzinho vai ser sempre tão dependente, tão grudado, tão precisado da gente pra tudo. e a gente, onde fica? mas a gente redescobre o nosso espaço, isso vem com o tempo. eles crescem tão rápido, muito mais rápido do que a gente está preparado para aceitar. quando a gente menos espera, aquele bebezinho que só chorava e mamava e tantas vezes não aceitava outro colo que não o nosso cria outros laços, descobre o mundo do lado de fora, quer explorar, desvendar. e aí a gente fica do lado de cá com o tempo embrulhadinho pra presente, pra fazer o que quiser com ele. então vem o aprendizado de novo, a gente saber voltar a ser só a gente.
a vida dos pequenos é feita de fases. umas são mais exigentes e a gente leva mais tempo pra se acostumar. outras a gente se adapta rapidinho. mas o melhor de tudo é que todas elas dão uma saudade imensa quando a gente olha pra trás.
eu sei que nesse começo a roda-viva é tanta que a gente sente mesmo como se eles sugassem a gente todinho, sem deixar nada. e eles sugam, mesmo. mas devolvem depois. uma imensidão de alegria e aprendizado e colorido que nem que a gente quisesse dava pra retribuir.
chora, flor. chora tudo o que quiser, pede abraço, pede colo, pede ajuda. tudo isso é direito teu. teu e dela, porque vocês vão passar por isso juntas. e tudo isso vai fazer parte do caminho lindo que vocês estão começando a caminhar, de mãos dadas.
e vai te acostumando com esse aperto no peito, insistente, porque é assim: a gente ama tanto que dói. e vai doer pra vida inteira, mas é uma dor boa. é uma dor de vida, de amar por inteiro. é dor de inteireza."
Imagem de Patricia Metola, em http://tipika.blogspot.com
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
14 comentários:
liiiiiindaaaa! fiquei igual uma boba chorando e me sentindo. liinda. me encantas!
beijo Tata. és abençoada!
* ainda bem que não sou só euq ue sinto essa culpa. hahaha.
;*
Chorei feito uma criança agora... Parece que vc escreveu essa carta pra mim... que sensibilidade, Rê. Muito obrigada por partilhar tantas coisas importantes como vc faz.
Um beijo enorme no coração.
Texto irretocável, não precisa acrescentar nada. É exatamente assim que toda mãe-mulher se sente...fiquei emocionada.
Nunca vi uma mãe gostar tanto de ser mãe igual a vc! Lindo...Mas só lindo...espero entender isso um dia
re, que coisa linda, intensa, verdadeira, simples, maternal, né?!
chorei aqui. fiquei até com saudade do turbilhão de ter um recém-nascido em casa, acredita?!
toda amiga recém-parida deveria receber uma dessas. já encaminhei pra duas minhas, inclusive! (com os devidos direitos autorais, claro!).
saudade de vcs. mta coisa aconteceu na minha vida. muita! gostaria de escrever pra cá um dia...
um beijo enorme, em todas!
Obrigada, me fez um bem enoooorme
Amei esse texto! O melhor que eu já li aqui no mamíferas, porque fala das verdades da maternidade do início do ciclo. Só quem já passou por este turbilhão consegue entender essa dor de deixar um pouco do que vc era antes do bebê chegar para trás e aprender a ser mãe, uma nova vc. Obrigada pelo texto, trouxe paz ao meu coração!
Linda!!! Apesar de ainda não ser mamãe, mas ser treinante (estou tentando há 2 meses engravidar), fiquei emocionada. Você retratou em poucas linhas o que é ser mãe. Disse todas as alegrias, preocupações e conflitos que a maternidade traz. Parabéns pela sensibilidade e sinceridade.
Ass: futura mamãe blog (www.odespertardeumanjo.blogspot.com)
Tô chorando!!! Tu-do a mais PURA VERDADE!!!
E olha que eu me sinto um pouco assim e já tenho 2A e 1/2 de maternidade.
Bjkas, Carol da Luna e de mais um anjinho no ventre
Rê, estou sempre por aqui e comento pela primeira vez. Essa carta é perfeita, exatamente de mãe para mãe dando aquela força para quem está começando nessa jornada. Qualquer recém parida recebe esse carinho como uma luva nos primeiros dias. Enviei para minha cunhada recém parida e ela adorou. Bjs
Texto de mãe para mãe. Intenso, verdadeiro e emocionante. Lindo demais... Parabéns pela percepção! Vou ler e reler para absorver porque ainda me vejo em alguns momentos do seu texto, pois meu filhote está com 3 meses.
Comecei a escrever um blog recentemente e espero ajudar as mamães como vc me ajudou: sou normal, as mães sentem mesmo o que eu estou sentindo!
Se tiver um temoinho, visite:
diretodoutero.blogspot.com
e é por isso que esse espaço nunca deve morrer... pq nos serve de consolo, nos dá suporte, é como um abraço, um carinho... sempre que eu venho aqui leio algo que me beija e me acalenta.
Obrigada mamíferas!
Obrigada Tata,
Bjos de uma recém mamãe esgotada e plena de amor.
=*
meninas,
muuuito obrigada pelos comentários tão doces, tão carinhosos. a pessoa para quem escrevi a carta é alguém que amo muito, e escrevi transbordando sentimento, mesmo. tanto que não revi depois, não corrigi, não revisei. deixei do jeito que veio, visceral e puro sentimento.
fico contente que tenha tocado tanto vocês. e podem mandar pra quem quiser, acho que pode ser mesmo um lindo alento na hora do furacão...
bjo bjo bjo
rê (tata)
Estou gestando minha primeira filha e imginando o tanto que a maternidade irá me absorver. Eu sei que nada se compara a vivência, à experiência, mas considero tão importante refletir sobre certos detalhes; tentar entender que nem tudo será um mar de rosas, que irei me sentir cansada as vezes, com sono muitas outras, que me sentirei desesperada em algumas situações... e que muitas vezes ninguém poderá fazer absolutamente nada por mim, seremos eu e minha filha, apenas nós.
Por mais que o nosso companheiro seja presente, ele não tem peito, né? O leite é nosso, a responsabilidade nesse começo acaba sendo quase exclusivamente nossa tb.
No fim das contas, enquanto lia esse texto, pensei nele como se tivesse sido escrito pra mim. Algo me diz que daqui há alguns poucos meses eu tentarei voltar aqui pra ler de novo e lavar a alma.
Pode deixar que, se for o caso, farei questão de registrar.
Abraços mamíferos!
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