
por: Tata
Agora há pouco, ouvindo minhas filhotas mais velhas brincando com o pai na banheira enquanto curtem um banho a três, fiquei pensando em como é importante respeitar esse espaço de convivência entre pais e filhotes, sem a tutela da mãe sempre por perto.
Nós, mães, temos um instinto sempre à flor da pele, que nos faz querer estar sempre presente, saber de tudo, controlar tudo. Quando o bebê nasce, a gente vai construindo com ele uma relação tão forte, tão intensa, que a vontade que dá é mesmo estar sempre juntinho da cria, acompanhando cada passo, ter controle sobre tudo, absolutamente tudo o que acontece e como acontece, para não ter a menor dúvida de que tudo vai caminhar sempre da melhor forma.
Acontece que muitas vezes, na ânsia de seguir esse instinto, que é tão profundo e tão verdadeiro, a gente acaba - muitas vezes sem nem se dar conta - atropelando essa figura que é também parte dessa história, uma parte importantíssima, aliás, sem a qual esse sonho, e essa relação tão linda, não teriam sido possíveis: o pai.
A relação de um pai com um filho é totalmente diferente da relação com a mãe. E a graça é essa mesmo! As brincadeiras são outras, o jeito de lidar com as dificuldades é outro, o jeito de demonstrar carinho é diferente, a presença se mostra de outra forma. Se não bastasse o fato de que cada um é cada um, e tem seu jeito próprio de maternar, ou 'paternar', também tem o detalhe de que pais e mães têm funções diferentes na vida da criança. É saudável que seja assim. Com cada um, os pequenos estabelecem um tipo de relação, e ambas são importantíssimas para que a criança elabore sentimentos, aprenda a se relacionar, descubra, compreenda seus afetos.
Quando a gente permite que eles tenham seu espaço longe da nossa interferência, pra construir uma relação que seja só deles, com seus combinados, acertos e desacertos, dificuldades e delícias, a gente ganha de presente a oportunidade de assistir de camarote o florescer de um amor que não é o amor de mãe e filho, é outra coisa. Mas é belo, imenso e intenso na mesma medida. É amor de pai e filho.
Confesso que esse tem sido um aprendizado diário pra mim. Eu, que sou mãe leoa, que vivo sempre o impulso de aninhá-las sob minhas asas protetoras, tenho aprendido aos poucos. Saber a hora de ficar de lado, ser apenas observadora, e deixar que minhas pequenas construam essa relação tão colorida, tão linda, com o paizão maravilhoso que elas têm, sem interferir, sem palpitar, sem querer que seja feito tudo do jeito que eu faria.
Ele tem o jeito dele de fazer, eu tenho o meu. Nenhum dos dois é melhor que o outro, são apenas diferentes. E quando há respeito pelo espaço do outro, tudo fica mais fácil. E mais gostoso também.
E no final das contas, o que fica disso tudo é a sorte imensa que elas têm: duas pessoas que, com muito amor, sonharam a chegada delas no mundo, que têm por elas um sentimento que de tão imenso não se compara a mais nada, e que desejam, sempre e antes de qualquer coisa, vê-las felizes, caminhando pela vida com um sorriso no rosto e muito brilho nos olhos.
Imagem: arquivo pessoal (foto que eu adoro, do paizão com suas pimentinhas mais velhas - na época as únicas - curtindo um domingo de sol no museu do ipiranga. elas tinham pouco menos de um ano)
5 comentários:
Aqui em casa acontece de forma parecida. Estou sempre policiando os momentos "pai e filha". Pior que percebo que muitas vezes vou além, falo demais, dou dicas demais. Meu marido deve pensar que não acredito que ele sabe cuidar da nossa filha! rs
Mas já conversamos sobre isso, já falei que é apenas coisa de mãe, sempre por perto, sempre espiando e buscando o melhor pra pequena.
Mas vou me esforçar e tentar deixar essa relação pai-filha rolar ainda mais solta.
Adorei o post!
Beijos
Vich, por aqui eu sou muito largada. Pra mim, que fico com eles o dia inteiro, é um alívio dar espaço para o pai, deixar ele ficar junto, brigar, brincar, conversar, ensinar... Hoje eu estava arrumando o quarto das crianças com o esposo na sala com as duas e Mariles começou a chorar. Chorou, choramingou e de repente abriu o berreiro. E eu de repente me vi pensando: não preciso me mexer. Se for necessária, serei chamada. Sei que ela está sendo muito bem cuidada nesse momento e que está recebendo tudo de que precisa.
Nunca tinha parado para pensar nisso. Isso me deu uma paz tão grande!
Às vezes o esposo conduz as coisas diferente do que eu conduziria - na forma, não na essência - mas eu tento me calar, porque embora as duas relações de interliguem no bordado da vida, elas também precisam ser independentes, ter suas próprias regras e o espaço para que os envolvidos se reconheçam e aprendam um sobre o outro.
Nós temos coerência na essência, mas mater-paternamos diferentes, e eu gosto do resultado.
Ai, pra mim é impossível não dar palpite. Eu tento, até porque já foi motivo de muitas brigas, deixá-lo fazer do jeito dele, mas o jeito dele sempre me parece errado! Acho que agora que ele estará sempre sozinho com Benjamin, talvez fique mais fácil deles construirem o relacionamento deles... Mas concordo inteiramente contigo! Beijão
Nossa, Tata. Exatamente isso! Somos tao controladoras que temos que nos policiar para nao interferir nas relacoes dos filhos com o pai. Eu sempre deixo que o dois se entendam, mas sempre tem um "Mae, o pai mordeu meu braco!" ou "Mae, a Dani bateu no Pai!"… é hilário e delicioso ver como eles se entendem de forma diferente. Beijos e parabéns pelo texto!
esse é um grande aprendizado para as mamíferas. Abri espaço para o pai construir sua relação. Adorei o post!
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