
por: Flavia Penido
Foi em um a quarta-feira a tarde que a bagunça começou. Minha filha se queixava que aquilo não era justo. Ela tinha seus planos e queria uma resposta. Foi para o seu quarto com papel e lápis, chamou os irmãos fechando a porta atrás de si.
Voltaram de lá em tom solene. No meu colo depositou um papelzinho, e nele estava escrito: Greve geral!Todos estão convidados às 19 horas na sala de estar.
Quando chegou a hora é claro que eu estava lá, e já entendia do que se tratava. Essa menina saliente tinha feito um cartaz, com um gráfico colorido e as razões de seu protesto! Junto a seus irmãos explicava seu cartaz. Queria o direito de escolher o brinquedo do dia da criança. Barulho bom eles já fizeram, só faltou o panelaço, mas creio que não conhecem o conceito ainda.
O que estava em jogo não era o puro consumismo deslavado. Minha casa não tem TV, o que meus filhos vêem são filmes alugados, assim eles estão livres da exposição às propagandas. Eu estava segura que meus filhos fariam uma escolha adequada, afinal eles não têm implantados o desejo do consumo em suas cabeçinhas.
Desde pequenos eu expliquei que brinquedos eu daria em dias certos, aniversário, dia da criança e Natal. Mas os livros seriam sempre que se desejasse ler, sempre que sentissem aqueles livrinhos coloridos e as letrinhas brincalhonas saltando para fora das paginas.
O que então me fazia balançar o pé energicamente disfarçando o nervosismo? O que me deixava estranhamente perturbada naquela engraçada manifestação organizada? Fui buscando no fundo da alma para trazer à consciência esse nozinho embaçado... Meu Deus, quem diria? Eles crescem!
Minha filha (tem nove anos) estava claramente delimitando seu espaço de criança- pessoa:
- Quero ir a loja escolher o meu brinquedo.
Aquilo que sempre me pega na curva é o fato de que eles são indivíduos com desejos e necessidades suas, que eu não vou ter como influenciá-los por toda vida. O pai, que vive isso desde sempre, (nunca teve barriga para carregar), topou na hora a brincadeira e para meu desespero quase começou o barulho com eles!
Deixar viver é para muitas mães um passo difícil a de se dar. Eu vivo meus filhos como parte de mim, pedaços de mim, mas sei, na minha intuição, que eles precisam voar.
Sempre que me pego tentando exercer minha vontade sobre a dos meus filhos me dou conta que não se trata de uma questão de poder. Educar não é exercer poder. Não se trata de democracia ou ditadura. Não se trata de decidir quem manda no pedaço!
Quando a gente assume a maternidade com propriedade, ama e cuida dos filhos, os papeis estão sempre bem claros e não há necessidade de se provar nada a ninguém.
Raizes e Asas é a missão que nos convém dar aos filhos. Mamífera convicta, sei das raízes que plantamos, mas as asas que eles abrem nem sempre serão fáceis de apoiar.
Difícil para mim é incentivar meus filhos mesmo quando não concordo com suas escolhas. Necessário muito, mas muito, amor para isso. Vou treinando assim minha mente e coração para a adolescência!
Imagem: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/images/Greve.jpg
10 comentários:
estou encantada com seu blog, adoreii muito,meu sonho é ser mãe tenho 21 e tive um grande amor fiquei gravida aos 19 mais infelizmente tive uma gravidez complicada e a perdi..
Quando vejo criança fico louca, as vezes até choro sozinha imaginando como ela seria.. mais enfim vc ta de parabens..
fique com Deus!
E aí? o mais importante, PARA MIM, vc não contou? Deixou sua filha demonstrar a vc a personalidade dela, indenpendente de influência de quem quer que seja? Permitiu-se conhecer a genuína pessoa que cada um é? Vc, o mundo, as outras pessoas e a sua filha? Meus melhores momentos com minhas filhas é quando tenho prazer, gostando ou não, de ver as expressões no cotidiano sobre quem são essas pessoas desconhecidas que passaram por minha barriga, mamaram no meu peito, mas são estranhas, são outras pessoas que não eu . . . adoro conhecer pessoas.
ri imaginando a cena dessa galerinha fazendo "greve"!!
Tenho 20 anos (faço 21 domingo), e ainda estou descobrindo muita coisa de mim, do mundo, formando opinião, mudando opinião, e me surpreendo comigo mesma a cada progresso, nem posso imaginar quando isso começar a acontecer com meu filho! Ontem falava com uma amiga que se dependesse de mim meu filho não assistiria televisão, tbm estou começando a mudar meus hábitos alimentares pensando na minha saude e do bebe que ainda tá na barriga.. enfim, é bom ouvir da mãe experiente que esses momentos vão chegar, e que a gente precisa aprender a ceder pra não nos tornar os monstros que criticamos !
parabéns pelo texto!
Se o mundo parisse mais mães como a Fla, em poucas gerações teríamos um lugar melhor para viver!
Ah, mas que atrevida eu sou, diminuindo a uma sílaba uma mulher tão super-heroína!
Super Flavia e Super Mamíferas, parabéns pela parceria! Cresce o blog, crescemos todas nós!
Flavia
Ter filho é conviver com as diferenças, mas com certeza, mesmo nas idas e vindas é de vcs. que será linha mestra da educação.
Voce já escutou muitas vezes: que tudo que é proibido é melhor.
Mas mesmo assim não hesite, crie seus filhos da sua maneira.
É um trabalho árduo mais com certeza vale a pena acreditar em si mesma.Bjos
Amo vcs
Nelma
Para mim é um presente uma mulher ter um ser que saiu de suas entranhas ser tão igual e diferente ao mesmo tempo, é um presente conhecê-los no estranhamento...como quando senti o cheirinho amargo e doce de minha filha ao nascer, tão conhecido e tão estranho. Enfim achei que o desfecho era obvio! kkk mas sim nós rimos muito juntos, da brincadeira deles e fomos todos a loja escolher. Voces iam gostar de conhecer minha filhota crescida!!
Denise serei sempre Fla para voces mamiFERAS, obrigada pelo carinho
BJS
Gostei muito da leitura.Outro dia comentei com minha filha de 14 anos que a mae da amiguinha tinha muita tatuagem e que tinha uma aparencia agressiava,ela quase me bateu! Disse que achava a mae LINDA!E que nao nao fizesse mais tais comentarios!Tai , nem mais comentar seus gostos a gente pode quando se tem filha adolescente!Vai acostumando flavia!A brincadeira so esta no comeco!
bjs
veva
Flávia,
querida amiga, fiquei muito feliz em ver você no Mamíferas.
Fique tranquila porque o seu exemplo de vida é muito forte e ele vai direcionar bem o caminho de seus filhos. Uma curiosidade, um momento rebelde faz parte né!
Outro dia eu li que o que nós fazemos, a nossa prática pessoal, influencia muito as crianças. Mesmo que elas não vejam, a energia fica no ar.
Beijos,
Lídia
Eu sempre tive que me conter em contrariar meus pais quando criança, e o hoje faço de tudo para os meus filhos me contrariarem e mostrarem suas opiniões.
Fico com os olhos cheios de agua ao vê0lo desde pequenos defendendo aquilo que acreditam, ganhando o poder da argumentação e o principal é que fazem isso com muito respeito.
É uma nova fase que começa e me faz ver o quão diferente os filhos são uns dos outros e de nós mães também.
beijo
Fla, adorei esse post também!! rsrs
Que novidade, mamíferas é um colírio para minhas vistas cansadas...
É tão, mas tão impressionante pensarmos que estas coisinhas, agora não tão miudas, saíram de dentro de nós!
Maravilha!!
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