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por: Tata
Engraçado como a gente aprende com os filhos a todo momento, quando se permite se abrir para o tanto de coisas que eles têm a nos ensinar.
Ultimamente, tenho vivido com a Ana Luz, uma das minhas filhotas mais velhas, que completam 5 anos em maio, uma grande oportunidade de encontrar o equilíbrio entre ensiná-los e orientá-los para seguir caminhos que acreditamos serem corretos, e respeitar a individualidade de cada filho, seu jeito de ser, seus gostos e preferências, sua personalidade, que eles já têm, desde que nascem.
Ana Luz é uma 'peruinha saída dos contos de fadas'. Se vocês derem um pulo no blog delas, onde conto as peripécias e descobertas diárias das duas (ops, agora, das três!), verão que essa definição faz parte inclusive da apresentação da pequena, que recentemente acrescentei à lateral do blog. Realmente, é um traço marcante e característico dela, que ama rosa, frufruzices, princesas, vestidos, babados, sapatos de salto, maquiagens e outras peruices.
E eu? Bem, quem me conhece sabe que sou o contrário disso tudo. Nunca fez parte da minha personalidade essa feminilidade-padrão, dos vestidos rodados e decotados, das pernas elegantemente torneadas pelo salto, das unhas bem-feitas e do rosto impecavelmente pintado. Sou feminina sim, sou vaidosa. Mas do meu jeito, que não tem nada a ver com frufruzices ou peruagens. Meus rituais de beleza se restringem a passar um gloss clarinho de vez em quando, pintar as unhas sempre que possível e cuidar dos cabelos na hora do banho - porque fora dele, nem pentear eu penteio. Aliás, foi com a Ana Luz crescendo que comecei a dar mais atenção a alguns detalhes, passar hidratante diariamente, adornar o pescoço com um colarzinho, pequenas coisas que a mocinha repara e comenta sempre, super bacana.
Quando minhas meninas eram ainda duas bebezinhas rechonchudas e rosadas, eu, na minha infinita ignorância (rs), acreditava que elas cresceriam muito parecidas comigo, nesse aspecto. Ledo engano, minhas pimentas já haviam vindo 'de fábrica' cada uma com o seu jeitinho de ser, que eu teria que aprender a aceitar, respeitar e amar.
E quando eu me vi às voltas com uma filhota toda 'aprincesada', que tem loucura por rosas, brilhos e babados, que suspira dengosa, cheia de fascínio, pelas princesas dos contos de fadas, que morre de vontade de passar um batom e pintar as unhas, acabei tendo uma oportunidade bem bacana. Aos poucos, fui aprendendo como lidar com o jeitinho dela, como respeitar sua maneira de ser sem abrir mão de passar para ela os conceitos e limites que julgo importantes. Fui aprendendo - aliás, ainda aprendo, todos os dias - a dosar o controle para que ela não acabe indo além do limite do que é adequado para sua idade, e a liberdade para que ela possa ser quem ela é.
Aqui, com diálogo e muito amor, temos encontrado nosso caminho do meio. E foi caminhando por ele que compramos para nossa peruinha Ana Luz, no natal (ops, nós não!! quem trouxe foi o papai noel...), uma linda fantasia de Bela Adormecida, toda rosa, de saia rodada e cheia de brilhos. Isso, além de uma maletinha de cabeleireira devidamente pink, com todos os apetrechos para que ela brinque e fantasie à vontade.
Esse é o nosso limite. Não vamos permitir que ela pinte as unhas, vá ao cabeleireiro, passe um batom (nem mesmo aqueles que são 'teoricamente' feitos para crianças) ou use uma sandália com salto, por menor que seja. Porque nada disso é adequado para meninas de 5 anos. A infância não é a época de se preocupar em estar bonita. A infância é o tempo da fantasia.
Mas um vestido rodado, para que ela se sinta uma linda princesa por algumas horas, uma maletinha com batom, blush, escova e secador de cabelos de faz-de-conta, para que ela possa de se empetecar toda como tanta vontade ela tem de fazer, deixa que ela seja peruinha sem deixar de ser o que é: uma menininha de pouco menos de 5 anos. O que ela ainda não pode ser mas gostaria, ela faz-de-conta. E fazer de conta é uma das melhores coisas de ser criança.
Afinal, ela terá a vida inteira para ter seus cuidados de beleza, para se preocupar com o penteado, com a maquiagem ou com a roupa que a deixe mais bonita diante do espelho. Tudo a seu tempo, sem atropelos. É como nós acreditamos que deve ser.
E pra mim, ela é a princesinha mais linda do mundo. Seja penteadinha depois do banho ou com os cachinhos desfeitos e bagunçados. Seja com o rostinho lavado ou a boquinha toda suja de sorvete de chocolate. Seja cheirosinha de sabonete, ou com os pezinhos enegrecidos de pisar descalça o chão do quintal.
De uma coisa, eu tenho certeza: não há no mundo, seja nos contos de fadas, nas histórias infantis, nos livros das prateleiras ou nas capas das revistas de beleza, princesa alguma que irradie mais felicidade e doçura, que tenha olhos mais brilhantes, ou um sorriso mais intenso e cativante.
Imagem: arquivo pessoal (Ana Luz toda contente em seu figurino - criado por ela mesma - que eu apelidei de 'miss lixo')
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
9 comentários:
miss lixo foi demais!!! se ela crescer e for toda perua essa foto vai ser uma bela recordação.
Bravissimo a sua percepção de como e quando dar limites. `
Penso fazer o mesmo com a minha Clara qdo ela começar ter suas próprias vontades !?!?!
Bj
Pois é, Rê. Tb paguei minha língua, rsrsrs. Vaidade pra mim, já basta o que tenho que usar pra trabalhar: terno, tailler, salto alto, toda a formalidade de advogada, que só uso mesmo no trabalho ou em festa. Mas a Sofia é uma peruazinha de mão cheia.
Nossa, ela ama rosa. Princesas, se sente a própria cinderela. Quer tudo o que é desse mundo de fru fru e eu vou costurando por aqui como dá.
Saltos, só os meus pra brincar, pra ela se sentir princesa uma sapatilha de plástico que se tornou o sapatinho de cristal da cinderela! As unhas que fazia aqui em casa eu parei porque ela queria pintar de todo o jeito e eu acho muito cedo.
De resto, uma mesa de cabelereira com sombras e batons falsos sim, muitos vestidos e todos os dias inicia a fantasia dela.
É um barato o tanto que a gente aprende, né?
Beijos
Essa foto está um show a parte.
Adoro as idéias que encontro nesse blog e por esse motivo o visito constantemente, sempre tive essa idéia, de que criança tem que ser criança, fantasiar com sua imaginação e sem perder a inocencia tipica da idade.
nunca vou esquecer uma vez que vi uma menina de dez anos, super produzida para uma reiveillon, com maquiagem pesada e profissional, cabelos feitos no salão e um vestido que mais parecia ser da mae, sem contar o saltos e brincos, ficou uma imagem pesada e enquanto a mae achava lindo eu me chocava com aquela imagem.
"Afinal, ela terá a vida inteira para ter seus cuidados de beleza, para se preocupar com o penteado, com a maquiagem ou com a roupa que a deixe mais bonita diante do espelho. Tudo a seu tempo, sem atropelos. É como nós acreditamos que deve ser."
...será que a infância não é a fase em que a gente tenta prevenir que aconteça exatamente a fase neurótica de uma mulher adulta que não consegue sair de casa e se divertir com os amigos sem usar roupa cara, de marca, que a deixe atraente? Daquelas que não tem coragem de sair na rua com a cara limpa de maquiagem?
"Realmente, é um traço marcante e característico dela, que ama rosa, frufruzices, princesas, vestidos, babados, sapatos de salto, maquiagens e outras peruices."
Sinceramente, eu a acho muito inocente de achar que isto aí é o 'jeito' de ser de sua filha.
Estas preferências são coisas ensinadas às meninas em desenhos animados, na escola e indiretamente pela própria família.
E chamar sua filha de 'peruinha saída dos contos de fadas' só legitima este padrão de comportamento.
E é ser muito determinista dizer que personalidade é algo que crianças já têm, desde que nascem.
Arslem,
seu perfil tem acesso negado. vc não assinou, portanto não sei se é homem ou mulher, nem se tem filhos. tem?
que as crianças já têm personalidade, não tenho a menor dúvida. eu, q tenho 3, vejo perfeitamente o quanto cada uma já nasceu com seu jeitinho de ser, com seus traços particulares. certamente, muito vai sendo moldado ao longo da vida. mas há muito que é inato, sim. achar que podemos ter total controle sobre como serão nossos filhos é ilusão. eles são seres individuais.
minha filha não tem em casa exemplos desse tipo de feminilidade, já que nem eu, nem as avós, nem madrinha, nem nenhuma das mulheres adultas com quem ela tem contato mais próximo, temos esse perfil. ela também não vê televisão, não está exposta aos apelos da propaganda, portanto. e ela só entrou na escola há menos de um ano, antes disso já tinha demonstrado essas características de q falei. então essa teoria de q isso vem de família, escola ou tv está furada...
é dela, e a mim como mãe cabe respeitar e orientar para que ela possa ser o que é sem cair em armadilhas sociais, sem neuroses e sem patologias.
sobre a neurose das mulheres adultas com beleza, não foi o que eu quis dizer. quis dizer que ela pode ser uma mulher que se preocupe com a aparência, que mal há nisso? entre preocupar-se com a aparência e deixar-se escravizar-se por ela há uma grande diferença. não significa que ela tenha que se neurotizar para se encaixar nos padrões. o que eu acredito estar ensinando a ela hoje é justamente que a beleza é algo muito além do que vemos nas capas de revista. e aprendendo isso, acredito que ela possa crescer e alimentar a vaidade que é tão natural nela, sem deixar de ser feliz com o que é e de se respeitar.
abs
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http://shoujo-cafe.blogspot.com/2010/01/volta-do-cor-de-rosa-e-domesticacao-do.html
arslem,
conheço as teorias a respeito e sinceramente, acho que essa é uma questão que vai muito além da cor. a questão aí são as meninas feminilizadas precocemente, vivendo uma realidade que não faz parte da infância, como rotinas de beleza, manicure, salão, preocupação com as roupas, blábláblá. minha filha não tem nada disso. ela fantasia, apenas isso. e nas suas fantasias, liberta seu jeito de ser, delicado, doce, o tal jeitinho que eu chamei carinhosamente - e que certamente, vc entendeu mal - de "peruinha saída dos contos de fadas". mas ela é uma criança de 5 anos, e nada disso vira neurose ou preocupação pra ela. ela não se preocupa em não brincar nas festas para não sujar ou amassar as roupas, por ex. não se preocupa em se lambuzar de chocolate ao tomar um picolé, não se preocupa se o cabelo está arrumadinho quando está brincando. nada disso. existe uma grande distância entre fantasiar e viver as coisas na realidade. fantasiar é saudável, faz parte da infância. e pra que caminhos levam as fantasias, isso vai variar de criança pra criança, e vc acreditando ou não, não somos nós, pais, que determinaremos isso.
e voltando ao rosa... minhas filhas, qdo bbs, não tinham absolutamente nada dessa cor. o quarto delas era verde, as roupinhas brancas, azuis (sim, azuis), verdes, amarelas, laranjas, roxas, tudo, menos rosa. avisei meus amigos para não darem nada dessa cor, e realmente elas não ganharam nada cor-de-rosa. mas quando elas foram crescendo, a ana luz foi manifestando a preferência por essa cor. hoje mesmo, ela tem ainda pouquíssimas roupas cor-de-rosa. mas quando ela vai escolher alguma coisa, é sempre no rosa que ela vai. tenho o direito de reprimir isso??? sob que argumento? você não vai comprar o caderno rosa pq eu não gosto?? pq vc está se rendendo às pressões da sociedade e se deixando domesticar, enquanto mulher? acho que não...
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