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por: Tata
Quando eu digo por aí que planejei dois partos domiciliares, sempre recebo olhares de espanto e incredulidade. Há uma pergunta que quase sempre se repete: "mas em casa, dá pra tomar anestesia??".
Acho engraçado ser essa a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas. Certamente são ranços daquela visão tão deturpada do ato de parir, reforçada em filmes, novelas, cenas e mais cenas de mulheres dando à luz sempre descabeladas e desesperadas, com muitos gritos e muito sofrimento.
Quando digo que não, que não é possível tomar anestesia ao parir em casa, mas que a idéia era essa mesma, ou seja, parir naturalmente, sem remédios e sem intervenções, quase todos arregalam os olhos e comentam: "nossa, que coragem!!". Eu sorrio por dentro, acho curioso o raciocínio. Porque pra mim, é preciso coragem muito maior para se deixar submeter a uma cirurgia de médio porte, para deixar que lhe cortem sete camadas de tecido para tirar o bebê. Tudo isso, claro, quando não há necessidade.
Na maioria das vezes, um pouco de conversa revela que a grande maioria das pessoas não entende por que, afinal, em pleno século XXI, mulheres optam por parir sem anestesia. Para que abrir mão de uma facilidade? Se é possível dar à luz sem sofrer, por que não?
Acho que muitas vezes, as pessoas têm dificuldades para compreender que há uma enorme diferença entre dor e sofrimento. Parir dói, sim. Mas não é sofrido. Pelo menos, não precisa ser.
Eu escolhi parir sem anestesia porque para mim, o momento do nascimento das minhas filhas seria uma experiência única, especial, e eu queria vivê-la intensamente. Eu queria estar consciente, alerta, queria ser ativa no meu parto, não passiva. Não queria que na hora P os médicos precisassem me dizer como e quando fazer força. Queria que o processo estivesse nas minhas mãos, e não nas mãos de outros.
Também queria estar absolutamente consciente, presente, no primeiro encontro com as minhas filhas. Não queria que nosso primeiro contato olho no olho fosse sob efeito de medicamentos que me tirassem o foco, a energia e a presença.
Outro fator que me fez optar por parir sem anestesia foi saber que qualquer medicamento que eu tomasse durante o trabalho de parto seria absorvido pelo corpinho delas, também. Eu não queria que elas chegassem ao mundo já sob efeito de substâncias químicas, 'dopadas por tabela'.
Eu também sabia que, durante o trabalho de parto, o uso da anestesia pode ser a porta de entrada para o que costumamos chamar "cascata de intervenções": muitas vezes, quando aplicada a anestesia, o trabalho de parto passa a caminhar mais vagarosamente, ou até mesmo estaciona. Isso leva à aplicação de ocitocina para acelerar as contrações e fazer com que o trabalho de parto entre novamente em bom ritmo. A aplicação de ocitocina transforma as contrações, antes suportáveis, em verdadeira tortura chinesa, pois a dor é intensificada, e o ritmo já não é aquele natural, ditado pelo nosso corpo, com o qual vamos aprendendo a lidar aos poucos. Com isso, a parturiente se exaure mais rapidamente, e o final dessa história já sabemos como será: cesárea, cesárea, cesárea.
Além disso, pulsava dentro de mim um desejo pessoal, muito particular, e também por ele fiz as opções que fiz. Trazer minhas filhas ao mundo era algo que eu desejava e sabia que podia fazer por mim mesma, sem ajuda, sem deixar que fizessem por mim. Parir, para mim, também foi de certa forma uma jornada de auto-conhecimento, de superação: eu queria descobrir a força que tinha, queria saber do que era capaz.
A escolha pelo parto sem anestesia, portanto, tinha pra mim esses significados: eu queria parir ativamente, queria estar alerta e consciente para vivenciar o momento, queria estar presente e inteira para receber minhas crias nos braços, não queria tornar-me vítima da falta de controle sobre o processo, e queria conhecer minha própria força, saber até onde eu poderia chegar, sem nenhum 'empurrãozinho' no meio do caminho.
E vocês, como escolheram parir? Optaram pelo parto com ou sem anestesia? Por quê?
Imagem extraída do livro "Nasce um Bebê... Naturalmente", de Naolí Vinaver
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
17 comentários:
optei por parto normal, talvez natural... Saí do hospital com baita corte na barriga e a sensação de ter falido!!! Mas daki a dois anos estarei pronta, para um parto natural, hospitalar, pq marido não deixa ser em ksa, mas sairei do hospital desta vez de alma lavada!!!
Meu parto foi hospitalar, mas sem anestesia. Por todos os motivos que você escreveu aí: queria estar consciente, não queria que a neném nascesse meio dopada, queria evitar intervenções... mas tão importante para mim foi que eu fazia questão de saber como é de verdade, como as mulheres fazem há milhões de anos, desde que o homo sapiens é homo sapiens. E que agora há uns poucos anos os médicos decidiram que ela não conseguem mais. Eu consegui, como todas as minhas antepassadas conseguiram, e é maravilhoso. Para mim, foi a realização máxima de ser mulher.
Olá Tata!!!
Eu Graças a Deus tive um maravilhoso parto normal, na maternidade, recebi a anestecia quando estava com 8 dedos de dilatação!!!
Foi tudo muito, muito bom!!!! Meu marido ficou ao meu lado o tempo todo!!!
Quando ouço as mães dizendo que vão ter cesária, por ter, já digo na hora, que pena....nada como sentir e literalmente clocar o seu bebê no mundo!!!
Tata, tb tenho um blog...por favor visite-o...
www.depreposparto.blogspot.com
Bjs
Obrigada pelas lindas postagens!!!
Julien.
Eu não quero anestesia, e, se tudo correr bem, pretendo tentar um PD também.
Porém, não condeno quem toma a anestesia, já assisti a alguns partos longos e cansativos que a anestesia ajudou bastante a mulher a poder descansar um pouquinho para depois ter forças para parir... acho que devemos sim tentar todas as possibilidades e se informar MUITO antes de tomar a anestesia, mas, cada mulher conhece seus limites.
Bjos!
Eu escolhi um parto normal. Senti contrações por mais de 12 horas. Até que as contrações tinham intervalos de 2 minutos e minha dilatação não passava de 4 cm... Me mandaram pra uma cesárea de emergência. Uma pena, pq eu realmente queria ter participado do meu parto, ativamente, como imaginei durante os 9 meses. Mas o mais importante é que minha bebe nasceu linda e com muita saúde :)
Eu quero muito um parto com o mínimo de intervenções. Se houvesse condições de ter um PD assistido em minha cidade, essa seria minha opção, mas sei que dependeria de dinheiro e de apoio da família e sei que não contaria facilmente nem com uma coisa e nem com a outra.
Estou tentando ao menos ter um PARTO e não uma cirurgia de extração do meu bebê. Tomara que eu consiga... infelizmente no Brasil parece que é preciso mais sorte que qualquer outra coisa pra que se consiga parir..
Tata!!
O seu post de hj me fez voltar ao dia do nascimento da minha filha. No meu bolg, durante a gestaçao, eu escrevi que gostaria que não tivesse a intervençao de anestesia, mas na hora do P eu nao soube administrar direito a dor e, por insegurança, talvez, pedi a aplicaçao da peridural. Queria que fosse sem anestesia por ter buscado informaçoes sobre o assunto.
De uns tempos pra ca tem sido "praxe" nas maternidades aplicarem a anestesia em dose minima, para que a dor passe naquele momento e, se a parturiente nao "renovar" a dose, cujo dosador fica nas suas maos, ela volta a sentir as dores. O mais interessante disso é que, pelo menos pra mim, fiquei consciente durante o trabalho de parto e tao logo voltei para o quarto pude andar e ir ao banheiro sozinha. FIcou aquela dor chata no meio das costas e nao fiquei com as pernas paralisadas.
Mas o que eu gostaria mesmo de dizer é que a esccolha de ter o parto sem anestesia vai mais alem... Li no livro entitulado "elever son enfant autrement" (algo como educar sua criança de outro modo, com outra mentalidade), que existem estudos de que a anestesia aplicada durante o parto, que dopa a mae, esta ira, via de consequencia, "dopar", o bebe. Isso traria efeitos mais tarde, pois o cerebro do bebe ja experimentou algum tipo de "droga" antes mesmo de sair do ventre materno.
Talvez ai esteja uma das justificativa para encontrarmos hoje uma geraçao de pessoas "drogadas", com propensao a dependentes quimicos, pois o cerebro ja teria "aceitado" as sensaçoes "de estar" dopado ha muito tempo, sensaçao esta, renovada, quando a pessoa toma contato com os quimicos qdo ja adulta... Fica ai para pensar... Achei muito ousada a colocaçao e o que mais dizem sobre esse assunto, mas é impossivel nao ficar com a pulga atras da orelha e se questionar: sera??
Ta ai mais um motivo para se almejar um parto o mais natural possivel!
Beijo grande importado dasZoropa : )
Olá meninas,
Adorei esse cantinho pra mamães corujas.Eu também me preparei nas duas gestações para ter partos normais ou naturais, porém por ironia do destino, nenhum dos dois quis vir ao mundo naturalmente. Tive que ceder nos dois partos e fazer uma "portinha", rs.Apesar de terem sido super tranqüilas as duas cezarianas, ainda assim gostaria que tivessem sido normais!!Quem sabe fica pra próxima.
Passa lá no RECOMADRES, um cantinho criado por mamães corujas,pra trocarmos experiências e alegrias, em fim, uma lugar de gente que não trocaria por nada o desafio de ser mãe!
Beijocas,
Cristina João
(www.recomadres.blogspot.com)
Minha bolsa rompeu, fiquei 9hs em trabalho de parto e a minha dilatação de 4cm não progrediu, portanto fui mandana pra sala de cirurgia e graças à Deus tive um parto CESÁRIA maravilhoso!!!Tomei anestesia e nem por isso perdi os sentidos, recebi meu filho na maior alegria do mundo, escutei seu chorinho, tive o momento olho no olho com meu bebê, o cheirei, o senti foi mágico...Meu filho nasceu com apgar entre 9 e 10 ou seja excelente!!!Não vejo problema na cesária muito pelo contrário, ela salva muitas mamães e bebês alguns médicos tentam até o ultimo o parto normal mesmo quando não há condição!Isso sim é triste!!!
Tata,
Eu achava que ia ficar sem a anestesia, achava que era phodona, mas não me preparei para tal... não investi numa doula, achando que o obstetra "humanizado" me bastava. Entrei na anestesia e com 9cm de dilatação fui para uma cesárea aos prantos...
Hoje tenho certeza que a anestesia atrapalhou e MUITO meu tão sonhado parto. Na hora que tomei eu senti meu filho subir na barriga e não desceu mais. Sei que atrapalhou o giro dele.
Mas a gente é muito besta na primeira vez!! Acreditei quando me disseram que não faria diferença, que poderia até ajudar!
Enfim, na próxima eu vou me cercar de Muuuiiito apoio para poder ficar sem a anestesia e conseguir meu VBAC!!
Bjs,
Carol
Oi Tata!
>>Adoro o blog das mamíferas.<<
Pari com 19 anos, sem anestesia, após oito horas de trabalho de parto caseiro, no hospital.
Levei uma episiotomia "de brinde", o que me deixa muito aborrecida até hoje.
Não pedi anestesia por um motivo muito simples: "medo de dar algo errado". Medo de ter uma agulha gigante na minha coluna!
Credo.
Meus próximos partos serão domiciliares! ;D
Queria muito parto normal, mas quando entrei na 38 semana, minha pressão subiu para 14/10, o médico me passou remédio, mas ela não abaixo. Como minha mãe já tinha passado por isso nas duas gravidez e na minha teve pre´-eclampsia, fiquei muito assustada e o médico não me tranquilizou e após 4 dias sem pressão abaixar, fui para uma cesária. Não sei se era necessária mesmo.
um beijos a todas do Mamiferas, leio o blg todos os dias.
Oi Rê,
Bom, eu tive parto domiciliar, claro sem anestesia! E fui sortuda, sei disso: o trabalho de parto da Sofia durou apenas 1h47m.
Tomara que o marcos aqui venha rápido do mesmo jeito que a irmã.
Beijão
Oi Tata,
nao sei de onde veio nem para onde vais. . .
mas nisso somos do mesmo planeta, tive 2 partos em casa, SIM, pq engravidei naturalmente, um pênis ejaculou espermas em minha vagina.
E vaginalmente deixei minhas filhas saírem, queria todo a completude do meu corpo de mulher, há diferentes corpos. . .eu-corpo gosto assim todos os detalhes de minha capacidade, minha capacidade é infinita é há mundos vastos que eu ainda não descobri, para além das dores e dos prazeres.
Ser viva é bão demais, sô.
beiju, Ale.
Ah, Tata,
este livro que vc usou para o seu post, foi traduzido no Br pela minha parteira - bicha amorosa que só. . .
E Naoli, bom, é amiga delas, das minhas duas parteiras.
que dizer, eu fico dizendo "minhas parteiras' só para prolongar relembrar em mim o inesquecível momento (2x) em que tiveram comigo, pq elas só são delas mesmas . . . e das muitas e variadas coisas que vivenciam.
beiju, Ale
Quando eu pari pela primeira vez, queria muito um parto totalmente natural porque achava simplesmente lindo e emocionante.
Tive, por sorte, um parto normal hospitalar com tudo que tinha direito(intervenções), mas por falta de ter alguém para falar:
"Olha, eu fiz, é possível!"
Na segunda foi natural e foi muito bom!
Eu tive natural domiciliar, após 41semanas e 5 dias de gestação, 15 kg a mais, 11 horas de TP, 1 circular de cordão e uma leve laceração espontânea de períneo (nada se comparada a uma episio). E como doeu pra mim!
E se tiver mais filhos nascerão em casa também!
Mesmo doendo muito, porque dói, mas passa! E não é nada perto de tantas coisas ruins que passamos na vida e é o momento mais importante da vida de uma mulher, pelo menos da minha foi, pra eu delegar essa responsabilidade a outra pessoa!
Fiz um post defendendo o parto que tive: http://maenatural.blogspot.com/2010/01/parto-anormal-esse-eu-nao-quero.html
Bjos, Catherine
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