por: Paula Mandel (Mamífera Convidada)
Fui com ela para a escola de ballet. Preferi não entrar na sala para não atrapalhar a dinâmica da aula. Fiquei do lado de fora, observando pelo vidro da janelinha, mandando beijinhos e fazendo caretas quando nossos olhos se encontravam. No primeiro pliê agradeci aliviada o fato de ter a janelinha para me esconder. Quando aqueles bracinhos rodaram desajeitadamente graciosos, o orgulho foi enchendo meu peito até transbordar dos meus olhos em forma de água.
Uma cena entre mãe e filha?
Não. Ela é minha enteada e eu sou sua madrasta. Ela é a minha Flavoca e eu sou a sua Pauloca.
Quando nos conhecemos, ela tinha acabado de fazer 5 anos. Hoje tem quase 9. Logo no início ela me perguntou como eu havia conhecido o homem que ambas amamos (seu pai, e também o amor da minha vida). E eu respondi:
Quando nos conhecemos, ela tinha acabado de fazer 5 anos. Hoje tem quase 9. Logo no início ela me perguntou como eu havia conhecido o homem que ambas amamos (seu pai, e também o amor da minha vida). E eu respondi:
- “Um dia seu pai estava pescando e ouviu um canto desafinado. Era uma sereia. Eu. Ele pulou do barco e quase se afogou na água. Eu o salvei e nos apaixonamos perdidamente. Só que ele não poderia viver dentro do mar. Ele tinha você e te queria sempre por perto. Então eu decidi trocar minha cauda de sereia por um par de pernas para que pudéssemos estar sempre pertinho de você.”
A bem da verdade, ganhar enteados não é mera conseqüência de uma relação amorosa com alguém que tenha filhos. É uma escolha voluntária. Nos envolvemos com alguém com filhos e compramos o pacote todo. Nos casamos com o marido, mas também com sua família, mãe, pai, irmãos e filhos, abraçando um compromisso consciente. Enfim, largamos a cauda de sereia e nos mudamos para a terra.
Aprecio muito relações construídas e cultivadas, como as amizades. Se os amigos são a família que escolhemos, os enteados são os filhos nascidos fora da barriga, mas dentro de nosso coração.
Ter a Flavoca em minha vida não foi acaso, mas privilégio e oportunidade. Privilégio de exercitar meu instinto materno antes mesmo de sonhar engravidar. E oportunidade de ensiná-la e com ela aprender.
Ter a Flavoca em minha vida não foi acaso, mas privilégio e oportunidade. Privilégio de exercitar meu instinto materno antes mesmo de sonhar engravidar. E oportunidade de ensiná-la e com ela aprender.
Desde pequena acho que as histórias infantis devem muito às madrastas. Elas sempre foram encenadas como a encarnação do mal. Não podia ser bem assim. Eu já sentia isso, mas depois da Flavoca passei a desconfiar abertamente de todos os contos de fadas. As fadas e princesas foram destronadas. Afinal, se existem madrastas boas, também existem bruxas boas e também existem princesas enxeridas e fadas malvadas. E todas, boazinhas e malvadas, têm chulé!
Não por outra razão, procuro ser sua BOADRASTA, e assim poderemos viver felizes para sempre!!!
Depois que engravidei da Nara, no entanto, minha sólida carreira de madrasta, computando uma promoção a boadrasta, foi ainda mais longe. Descobri que boadrasta não era o topo da carreira, porque ainda fui promovida a MÃE DE CORAÇÃO.
Eu e meu marido conversamos sobre isso e concluímos que a gravidez reformulou as referências da Flavoca. Tendo pai e mãe separados, ela precisou se reconstruir, se encaixando numa família harmoniosa, de pai e mãe conviventes.
Quando Nara nasceu, Flavoca passou a reclamar de saudades e constantemente pede para passar mais tempo conosco, o que, infelizmente, não depende só da gente... Ela demonstra tristeza e muita vontade de aumentar o convívio.
Desde o nascimento, foi incluída na rotina da irmãzinha. Ajuda a dar banho, trocar fralda e faz questão de dormir no mesmo quarto, transformando onde dormia antes em quarto de brinquedos.
Como procuramos mostrar que Nara não veio para tirar algo dela, mas para acrescentar, Flavoca não sente ciúmes.
Não bastam palavras, são necessários gestos. Dizemos o tempo todo quanta saudade sentimos, mas fazemos questão de inclui-la em todos os momentos importantes de sua irmã, pelo bem de sua saúde afetiva.
Não só a relação entre mãe e filhos, como também entre madrasta e enteados deve ser cuidada, pensada. Afinal, a boadrasta é uma referência feminina impactante na vida da criança. Querendo ou não, é um modelo de conduta, um exemplo ambulante para as crianças absorverem como esponjas. Logo, o amor e a proximidade de minhas duas meninas: minha filha e minha enteada (filha de coração) me estimulam a ser uma pessoa melhor.
Imagem: arquivo pessoal (Flavoca, Pauloca e Nara Minúscula)
6 comentários:
Simplesmente amei o blog.... muito bom mesmo. parabéns pela iniciativa. Vou lê-lo todo...
esse post veio muito a calhar para mim...
Vou linkar vocês no meu blog... espero visitinhas ok!!!! Ah, e vou seguí-las...
Beijos
Coisa boa uma relação tao gostosa entre enteados e boadrstas!
Parabens pelas suas meninas lindas!
bjinhus
Ainda bem que existem madrastas assim, que se dispõem a agradar, conviver em harmônia e não ficar de ciuminho! Parabéns!
Adorei o texto!
:D
Lindo texto Paula, e te entendo completamente! Eu fui mãe antes de ser mãe em função dos meus enteados (já escrevi sobre isso aqui no mamíferas tb), e só posso dizer que o Maurício e a Marina são os filhos que a natureza me mandou para que eu aprendesse a amar pra valer. Eles vieram morar comigo há 11 anos, hoje a Marina tem 18 e o Mau 21, e não sei o que seria da minha vida sem eles. Ser boadrasta é muito bom. É a escolha, voluntária, para o amor.
Beijos à sua família
Muito legal a história.
Também seria interessante reservar um momento só para a Flavoca e outro só para a Nara... pelo menos foi o que observei aqui, com minhas duas princesas.
Momentos juntos são lindos, intensos e muitos. Mas ter a manhã ou tarde sozinha com a mãe ou com a boadrasta também é ótimo!
Beijos!
meu Deus, chorei, que bela sua experiencia de vida,obrigada por compartilhar!
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