por: Vanessa Rosa - Mamífera Convidada
Fiquei muito lisonjeada com o convite para escrever no Mamíferas, mas ao mesmo tempo apreensiva com a responsabilidade de compartilhar algo que realmente agregue e que seja motivo de discussão, reflexão e aprendizagem.
Sou uma apaixonada por todo tipo de assunto que permeia o mundo infantil e da maternidade, desde gestação, parto a nutrição e educação.
Decidi, então, relatar e compartilhar o meu espanto quando descobri que hoje em dia se usa sistema apostilado de ensino até mesmo na Educação Infantil. Eu ingenuamente acreditava que este tipo de material fosse usado apenas do ensino médio para frente, quando os alunos já demonstram ter um senso crítico mais apurado, são mais questionadores e este tipo de material seria apenas complementar, um apoio. Já estava desgostosa com o fato de perceber entre meu círculo de amigos e familiares que a escola está iniciando a alfabetização precocemente, desconsideram a individualidade da criança, se ela tem interesse e maturidade para aprender a grafia dos números e letras ou não.
Sou mãe da Sarah, de 2 anos de idade e estou novamente vivendo a incrível experiência de gestar. O Matheus nascerá no início de 2010. Nossa família não poderia começar o novo ano de uma forma mais intensa e feliz do que esta.
Eu e meu esposo optamos por não colocar nossos filhos na escola antes de estarmos seguros da real necessidade e maturidade deles. Acreditamos que nos primeiros anos de vida, as crianças precisam do convívio com os pais, especialmente com a mãe. Alguns escritores, como a americana Ellen G. White (escritora adventista), o britânico Steve Biddulph e o pediatra brasileiro José Martins Filho, de certa forma acabam por reforçar as nossas crenças.
Por isso, eu abri mão da minha carreira pela maternidade. Falei um pouco desta experiência no meu blog abandonado. Para ler clique aqui. Eu faço questão de praticar uma maternagem muito ativa e consciente, cometo também minhas falhas, mas pelo menos em casa eu sei que meus filhos têm um ambiente muito propício para o desenvolvimento deles, que eles podem explorar e serem estimulados à medida que demonstram interesse e maturidade.
Mas, há um mês atrás percebi que a Sarah sentia falta dos amiguinhos com quem ela brinca nos finais de semana. Começou a verbalizar esta necessidade, perguntava por eles e pedia para ir à escola (acredito que se referia à Escola Sabatina da igreja que frequentamos, porque é a única referência que tem).
O clima na cidade que moro não colaborava para nossas saídas, moramos muito distantes dos familiares e os amiguinhos da Sarah frequentam a escola desde cedo, de forma que comecei a me preocupar e cheguei a pensar em colocá-la numa escola apenas para brincar com outras crianças.
Foi neste contexto que comecei a fazer perguntas a meus amigos e vizinhos, profissionais da área de educação que conheço, liguei em algumas escolas próximas à minha casa, pesquisei alguns assuntos relacionados no Orkut e coloquei o assunto em discussão numa lista que participo e no fim fiquei mais decidida a retardar a ida dos meus filhos à escola. As escolas que se alinham ao que eu que eu considero aceitável numa escola infantil (professoras carinhosas, muita brincadeira, contato com a natureza, alimentação saudável, entre outros) são caríssimas, as demais, como administradora de empresa me lembraram Ford, linha de produção. Muitas escolas não têm uma proposta pedagógica própria, que tenha sido discutida, analisada criticamente e testada. Não dão espaço para a criação. Os professores e alunos são meros reprodutores daquele material pronto, engessado, que muitas vezes pouco tem a ver com a realidade dos alunos.
O que me entristece mais ainda é ter discutido este assunto com profissionais da área e constatar que os próprios pais, talvez até inocentemente, na ânsia de querer o melhor para os filhos, exigem que eles sejam alfabetizados precocemente, como também este tipo de parceria com sistemas de ensino e que para a escola é lucrativo e confere a elas um certo status.
Enfim, felizmente o calor chegou e tenho conseguido prover meios da minha filha interagir com outras crianças com a frequência necessária, sem recorrer a escola. Mas, ainda assim a problemática a meu ver existe e precisa ser discutida pela sociedade.
Eu temo pelo excesso de estímulos, pelo que fica perdido na infância e que é importante ser vivido.
Como tem sido a experiência da vida escolar de seus filhos? Vocês concordam ou não com a alfabetização precoce e com o uso de sistemas apostilas nas escolas? Vamos repartir opiniões e experiências?
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
14 comentários:
Querida Vanessa. Adorei seu post. Um assunto muito legal de se discutir.
Minha filha vai completar 8 meses daqui uma semana. Várias pessoas me perguntam: "mas vc não vai voltar a trabalhar?" Sim! Mas não sei quando... por enquanto sou mãe 24h com muito orgulho, aliás: eu trabalho. Ser mãe é profissão tb!! Acredito na importância da presença materna mais do que 4 ou 6 meses (que é a licença maternidade). Nossos filhos são dependentes de nós sim!! Mas muitos pais querem que seus filhos sejam independentes desde o momento que saem da maternidade. A pressa não é só com a alfabetização, é com tudo! Pressa que o filho comece a engatinhar, comer, andar, falar... E pra isso, uma imensa quantidade de estímulos!!
(falo sobre essa "pressa" num post em meu blog http://isabellaisolani.blogspot.com/2009/10/pressa-muita-pressa-nessa-hora.html)
Sobre a escola, tb escrevi um post no meu blog falando de uma experiência que tive ao visitar uma escola Waldorf: http://isabellaisolani.blogspot.com/2009/11/o-nosso-cordao-dourado-que-passa-por.html
Beijos. Isa.
Ei Vanessa. Concordo totalmente com você. Esse assunto muito me preocupa e graças ao bom Deus consegui achar uma escola que vai no caminho que acredito. Optei por colocar minha filha aos três anos. Pensava que poderia esperar mais, mas ela mesmo queria um "tempo para ela". A escola não é perfeita, nem a escola dos meus sonhos, mas é uma escola que aceita minhas sugestões, que conversa comigo, que minha filha se sente bem e que, acima de tudo, não se preocupa com a alfabetização agora!
É... criar filhos é bem complicado, requer muita paciência, pesquisa, enfim... mas é bom demais!
Também optei por largar meu trabalho para criar minhas filhas. Escrevi aqui no mamiferas, sobre isso!
Grande beijo!
Letícia
Van...
Primeiro, parabéns pelo post. Depois... Em fevereiro meu filho vai ingressar em uma filial do objetivo. Sim, sistema apostilado. Estou infeliz com isso, mas foi o melhor que encontrei. Eu acredito em tudo que você acredita e percebo que tudo na vida das crianças é para ontem. Pesa sobre os ombros dela uma expectativ a de îndependência para "desafogarem" os pais, imagino, nem sei...
Quando fui conversar com a diretora, deixei claro: não faço questão de que meu filho seja alfabetizado tão cedo. Quero apenas que ele seja criança. Ela então contou da ferocidade do Mercado de Trabalho e eu disse: não me preocupo com isso agora. Quero que ele aprenda a ser feliz com o pouco, a respeitar os outros e a si mesmo, a reconhecer sua própria identidade, e lutar pelo que quer e a ceder, quando necessário. Quero que ele tenha o direito de ser ele mesmo e de aprender no seu tempo.
Triste...
Carinho, respeito, afeto...
Puxa... não sabia que existiam escolas com apostilas já nessa idade! Fiquei pasma!
Minha filha tem 3 anos e meio, vai à escolinha desde os 5 meses. Não pq eu ache necessário, mas pq PRECISO de cuidadores para me substituir enquanto trabalho (e PRECISO trabalhar), e no meu caso, a melhor opção que encontrei foi o berçário.
Bom... ela já frequenta a Ed. Infantil agora e está escrevendo o nominho dela e mais algumas letrinhas. Mas pelo que eu acompanho na escola, tudo é trabalhado de forma lúdica e respeitando o desenvolvimento de cada criança. Tanto que ela é a única da sala que desenvolveu esse lado. Os outros só rabiscam, porém cada um têm um lado aguçado e a escola aproveita para "trabalhar" o que a criança está mais aberta, de forma individual e espontânea.
No caso de minha filha foi a escrita... realmente ela demonstra um interesse notório por isso.
Não acho que assim seja nenhuma "forçação de barra".
Bom, como falei, minha necessidade em relação à escolinha nessa idade é em relação à CUIDADORES. A parte pedagógica vêm por acréscimo. Tb não tenho necessidade em apressar nada no momento. Eles terão uma viiiiiiida pela frente com obrigações nos estudos e não há necessidade de impor isso desde já.
Vanessa, parabéns pelo post.
Comecei a escrever sobre esse assunto semana passada, mas a insipiração vai e vem e hoje estava terminando quando vc deixou recadinho no meu blog.
Espero que goste do que postei.
Obrigada pela visita.
Pois é! Alfabetizar precocemente faz parte desse pacotão de vida corrida e ansiosa e competitiva que impera atualmente... que faz com que as pessoas, seguindo os pilares da nossa sociedade captalista e consumista, enfeite a própria casa para o Natal ainda em final de outubro, por exemplo! Gente eu acho isso uma aberração, viver de datas e cada vez antecipando mais a expectativa tensa de sua chegada.
Ah! desculpa desviei um pouco, hehe... enfim posso resumir essa questão numa faixa que vi em frente a uma escolinha... língua estrangeira e informática a partir dos 2 anos!!!
E então? nesse ritmo aos 5 vão oferecer o que? MBA? especialização? ... aos 7 uma vaga de trainee??? Aos 11 um cargo de executivo senior??? PÁRA ESSE MUNDO, POR FAVOR!!!
É, sem dúvida, a Era da Ansiedade desenfreada, e no meio dessa loucura toda, crianças que só querem e precisam ser CRIANÇAS!
Também estou procurando uma escolinha para minha Kamila que fará 2 anos ano que vem e se eu não encontrar uma escola mais humanizada vou abrir mão numa boa, porque a minha intenção principal é que ela interaja com outras crianças, aprenda a dividir, respeitar e tudo aquilo que achamos que as crianças devem aprender para serem ser humanos melhores e não executivos melhores, pelo amor de Deus!!! Além da ausência dos pais muitas vezes, de amor, atenção, a tendência é virarem só cabeções, sem contato com seus sentimentos, corações e isso realmente me preocupa!
Parabéns pelo post, Vanessa e parabéns por suas decisões conscientes, corajosas e que não se deixam levar pela essa maré de loucos!
Beijos
Cris
Vanessa, pelo que percebi do pouco que li a seu respeito, é que vc deveria procurar uma escola waldorf. Sou ex-aluna e professora waldorf e minha filha está frequentando um jardim maravilhoso!
Vale a pena você procurar!
Beijos
Lara
Olá, eu que nem tenho filho ainda já me preocupo com o tema. Criei um irmão mais novo e optei por matriculá-lo em colégios que estimulem a criatividade. Graças a Deus, no Rio e em Brasília - onde ele mora atualmente - encontramos escolas com modelos de aprendizado que nos atendam. Trabalho com edução e todo o processo de aprendizado me interessa muito, por isso pretendo participar ativamente quando meu bb nascer.
Obrigada pelos comentários.
Eu acho as escolas Waldorf muito interessantes, mas o problema para mim é a questão da espiritualidade, que é muito diferente do que cremos e isto não posso relevar, pq é muito importante em nossa família.
Bjs,
Van
Olá, Vanessa, Adorei o post. Minha filha tem 5 meses e 1/2 e muitas pessoas me falam em coloca-la numa creche, ja que tenho que trabalha, no entanto acho muito mais "seguro" deixa-la em ksa, sob os cuidados (até meio mimados) da sua avó. Eu cai nessa de querer super-estimular minha filha, e vi que nem funcina não, ela tem o tempo dela e eu não posso desrespeitar isso. Adorei a sua opnião que deu mais animo pra eu insistir na minha maternidade ainda mais consciente e ativa!
Vanessa, que legal este blog! Muito bom o alerta do seu texto. Realmente, a escolha da escola tem que ser feita com muito critério. E na web há ótimas discussões sobre isso.
Quanto a apostilas na educação infantil (e no restante das séries) É MUITO POUCO!!!!! Os pais têm dificuldade em reconhecer isso. Acham que é um sistema estruturado de ensino, mas na verdade é uma viração de página. Criança de verdade tem que correr, que fuçar, que amassar, que girar, que rabiscar, que melecar, experimentar, ir e vir e nada disso é possível quando se tem uma apostila a preencher e a seguir.
Sabe que até para o meu filho no 6º ano, quando a escola resolver adotar apostilas, eu mudei-o de escola. O ensino apostilado é pobre, massificado, indigesto. E dizer que é melhor do que muitos por aí, é nivelar por baixo.
Muito obrigada pelo alerta. As coisas vão mudar quando perceberem que mais pais pensam como nós. Boca no trombone!
Bjs!
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