por: Letícia Dawahri - Mamífera Convidada
Hoje é domingo e minhas filhas estão dormindo o sono dos justos. Aquele sono depois de um dia intenso de brincadeiras e passeios. Meu marido também está descansando e eu, pela primeira vez não estou angustiada por amanhã ser um dia em que vou me afastar do convívio com minhas filhas.
Amanhã vou acordar com tranquilidade, assim que a primeira acordar. Calmamente, sem me preocupar com as horas, vou preparar o café da manhã das duas. Amamentarei Yasmim e alimentarei Nicole. Depois vou até a padaria comprar pão fresco. No meio da manhã vou preparar um suco bem gostoso (talvez com beterraba, couve ou cenoura – que elas adoram). Apesar da minha ajudante adorar um açúcar, não vou adoçar ou se for necessário, será bem pouco e com açúcar mascavo.
Cuidarei para que a manhã seja alegre, divertida, repleta de brincadeiras. Pés no chão serão liberados e dependendo do sol, brincadeiras com água também. Tenho tempo e posso me juntar a elas nas brincadeiras. Conheço Nicole e com certeza ela gostará de brincar de casinha ou de pega-pega. Yasmim vai catar as jabuticabas verdes que caem no chão e juntá-las todas num cantinho para me mostrar. Estou lá e vou poder ver. Vou poder brincar de pique esconde e balançá-las na rede.
Vou descascar algumas laranjas serra d’água e picar uma manga. Talvez uma boa fatia de melancia para cada uma. Vou adorar ver as bocas sujas e as mãos melando. Também poderei verificar o nosso almoço e garantir que haja todos os tipos de alimentos que considero importante. Se faltar algo, posso ir ao sacolão e comprar algo fresco. Antes do almoço, acompanharei para que ambas lavem bem as mãos. Servirei o almoço a mesa e não mais na frente da televisão, como era uma prática. Depois vamos escovar os dentes e colocarei as duas, juntas no banho! Uma farra.
Vou poder levar Nicole na escola e voltar para casa para amamentar Yasmim. Esta, dormirá uma soneca gostosa. Quando acordar, estarei lá para pegá-la no berço e vê-la espreguiçando... Prepararei seu lanche da tarde, uma fruta com aveia ou granola. Brincaremos novamente ou no quintal ou com os brinquedos. Buscarei Nicole na escola e vou saber como foi o seu dia. A forma que ela está quando eu chego diz tudo: se cansada e feliz, tudo bem. Se estressada e/ou chateada, algo aconteceu. Posso parar e conversar um pouco com a professora ou pedagoga da escola. Posso conhecer as mães dos coleguinhas da sala.
Posso ver o abraço gostoso que Yasmim dá na Nicole quando esta chega da escola. Vou preparar p jantar e cuidar para que a alimentação seja prazerosa e adequada. Vamos brincar mais e esperar o pai chegar do trabalho. Se tiver muito calor, tomaremos outro banho, desta vez a três. Quando for a hora, sem pressa, colocarei cada uma para dormir e cuidadosamente darei um beijo de boa noite. Posso e consigo ainda, navegar na internet, responder meus e-mails e ler mais um pedaço de um livro.
No dia seguinte, poderemos fazer tudo igual ou diferente. Isto porque tenho tempo. Isto porque estou disponível. Tudo isso só pode acontecer porque tomei uma decisão. Fiz o que meu coração pediu, meu corpo sentiu, meu desejo me disse. Amo trabalhar mas também sei que, ser mãe é um trabalho nobre e necessário.
Há muito, ouvi de um professor de sociologia que a sociedade poderia ser bem melhorada se as mulheres voltassem para o fogão e para o tanque. Lógico que ele fazia uma analogia, sendo que a mulher deveria voltar para o lar.
Acredito que a independência, a conquista de espaço e de valor que nossas antecedentes conseguiram e que continuamos a conquistar ainda hoje – já que é um longo caminho a percorrer – foi fundamental, mas... ao sair de casa, o que colocamos no lugar?
Sim, sei que existem escolas maravilhosas, creches cuidadosas, babás experientes e ótimo quando há uma mãe ou irmã por perto. Mas, venhamos e convenhamos: é a mesma coisa que a mãe?
Eu acredito que não. Mãe só tem uma. É única e insubstituível... Salvo raras exceções, que confesso, tenho minhas dúvidas.
Amo trabalhar e minha carreira ia de vento em polpa. Estava em constante ascensão. Muitas responsabilidades e muitos benefícios pelo trabalho bem prestado. Sim, porque aquilo que me proponho a fazer, faço direito.
E estava fazendo direito com minhas filhas? Nunca me passou pela cabeça deixar o trabalho para ser única e exclusivamente mãe. Sempre acreditei na máxima que o que importa é qualidade e não quantidade. E segui isso a risca. Tanto que, por mais que trabalhasse muito, o momento em que estava com minhas filhas era único, integral, repleto de qualidade sim.
Mas a questão é: quanto de qualidade elas precisam? E quanto de qualidade eu acredito ser necessário para que essa fase – a primeira da vida, a base de tudo – seja cumprida da melhor forma possível? Chegou um momento em que eu percebi, ou melhor, elas me mostraram (porque temos uma relação íntima, em que todos os afetos, sentimentos, medos e desejos são demonstrados) que era necessário mais quantidade com qualidade que elas vinham tendo.
Nossa relação era tão gostosa, que queríamos mais. Trabalhar é bom? Sim, ótimo. Para mim e para elas, mas acredito que, às vezes, precisamos colocar na balança. O que pesa mais nesse momento?
Eu decidi que consigo ficar sem trabalho por um tempo. E decidi que essa pausa seria importante não só para elas, como para mim. Decidi que preciso ser mãe integralmente, nem que seja por um tempo. Decidi que cumprir este papel me fará bem, mais inteira, mais verdadeira. Decidi que, por mais que achem loucura, eu estou disposta a fazer qualquer loucura para cumprir a filosofia que acredito: família é a base de tudo. Sou família e prezo minha família, meu lar. E acima de tudo: posso (porque tenho as rédeas da minha vida) decidir viver de acordo com meus princípios.
Dinheiro fará falta? Lógico. Mas confesso que estou gostando de pesquisar mais os preços, pensar alternativas de economizar e evitar desperdícios e consumismo. Tudo o que na teoria eu sabia ser necessário, mas não vivia, por ser mais fácil não olhar para isso tudo. É o ciclo vicioso do consumo que eu consegui partir... no meio.
E ainda por cima, me tornei uma mãe, mulher, esposa mais feliz, mais tranqüila, mais descansada. Além de proporcionar as minhas filhas, momentos inesquecíveis, consigo visualizar o momento único que estou. Momento de rever meus valores. Confesso que tomar esta decisão me abriu portas e janelas que nunca havia pensado. Tirou toda a poeira do meu olhar e me deu uma dose extra de criatividade, afinal, felicidade rima com criatividade.
A vida é uma só. Não vou perder a oportunidade de fazer tudo o que quero e posso, pois, sem nostalgia, não sei como será o amanhã. Importa-me o hoje, o meu presente.
24 comentários:
Juro que me vejo nessa situação!
Ainda não sou mãe, mas tenho esses mesmos valores.
Que Deus me permita tomar a mesma atitude para me dedicar a família que ele me deu (ou dará).
Bjs a todas
Com certeza essa escolha fará toda diferença na vida das suas meninas!
VocÊ pode respirar e repensar sua vida profissional, como disse no texto.
E a gente deixar as pequenas brincarem e comerem maças nos encontros!!!!
Excelente escolha!
Parabéns. Ser mãe integralmente não é pra qquer uma. Além de ouvir muitas críticas pela escolha, não é uma profissão fácil.
Minha filha vai completar 7 meses, ainda nem introduzi a alimentação sólida... Sou mãe 24h e ainda não sei quando vou voltar a trabalhar... provavelmente só quando ela for pra escola... que nem sei quando vai acontecer isso.
Lindo texto. Parabéns mais uma vez.
Perfeitooooooooooooo!!!! Vc escreveu absurdamente TUDO o que eu e meu marido pensamos. Hj trabalho 2 vezes por semana (sou psi tmb)e os outros dias me dedico integralmente a cuidar da Alice, do lar e tudo o que é importante para nós. A vida é feita de escolhas que envolve perdas e ganhos. No momento em que optamos por algo, deixamos outras tantas de fora. Não podemos ser super mulheres, profissionais, cuidar da casa, do marido e ser excelente mãe...não dá pra fazer tudo isso ao mesmo tempo. Por isso que fiz a minha escolha.
Amei o texto. Beijosss
lindooooooooooooooooooooo o texto... estou assim e feliz por esse meu momento único.
Mto verdade... Lindo texto, reflete bem a lucidez desse momento.Com certeza é a melhor escolha q podemos fazer. O melhor pro mundo dar uma desacelerada e sentir melhor a vida...
Essa tb é minha opção, sou mãe integral do Raí q tem quase 5 meses. É pra ele q eu trabalho voluntariamente e sou muito bem gratificada. Agradeço todos os dias!
Lê,
Muito intenso, verdadeiro e realista o seu texto.
Vou guardá-lo aqui na minha caixa de texto, pois sei que um dia, talvez muito em breve, vou precisar dele!
Muito obrigada por ter me acolhido e me ajudado a tomar a pílula do empoderamento!!!
Bjkas carinhosas,
Carol da Luna
Parabens pela escolha de dar vc as suas filhas integralmente.
Tenho certeza que no futuro, isso sera motivo de orgulhos pra toda sua familia!
bjinhus
Perfeito!
Vivo o mesmo, exatamente a mesma situação que vc!
Aos 7 meses de gestação decidimos (eu e meu marido) que eu seria apenas mãe! E eu realmente queria me dedicar ao meu filho de corpo e alma integralmente, e assim foi feito. Dinheiro? A gente consegue depois... mas essa fase, como vc disse a primeira da vida, a base de tudo, poderemos resgatar se perdermos agora?
O importante é o hoje, por isso se chama PRESENTE! ;)
Beijinhos e parabéns pelo texto e principalmente pelas escolhas!
Lívia, mamãe do Uriel
Lindo texto, Lê!
Parabéns pela escolha! Os sentimentos que sinto ao ler tudo isso confirmam que você fez uma ótima escolha.
Grande beijo e vocês! Saudades!!
Muito lindo o texto, xará da minha filha =)
Lendo-o, parece que vi o meu dia-a-dia escrito na tela no computador. Exceto que só tenho a Letícia, por enquanto.
Nós também decidimos que eu iria ser mãe por um tempo, pois achamos que os valores que gostaríamos que ela tivesse, só nós poderíamos lhe oferecer. Por isso, trabalho como mãe e não me sinto inferior por conta disso: me sinto realizada, podendo acompanhar cada passinho da minha filha, ajudá-la, brincar com ela, participar da sua vida. Não sabemos quando ela vai pra escola ainda, mas sabemos que ainda teremos outro filho e também ficarei com ele (ou ela, segundo meus sonhos) por um tempo. Sem arrependimento, apenas uma imensa felicidade de poder ser mãe.
Beijos!!
Assino embaixo!
Disse tudo o que eu tenho vontade de dizer e nunca soubre expressar em palavras!
Parabens pela lucidez do texto e pelas escolhas pensadas!
Já twittei!
beijo
Olá meninas.
Obrigada pelos comentários. Realmente foi uma decisão difícil, talvez um pouco demorada demais, mas foi acertada. Estamos felizes e realizados.
Obrigada pelas palavras de carinho e incentivo. É bom não se sentir um ET .... rs!
Rosana, desculpe a ignorância, mas..... o que é já twittei?
Beijos grandes!
Letícia, mãe de Nicole e Yasmim
Olá!
Queria te convidar pra conhecer um dos meus blogs "Os Fofoletes"!
http://osfofoletes.blogspot.com/
Nele falamos sobre gravidez, bebês, crianças, adolescentes. Dá pra mandar fotos, opiniões, histórias e chamar as amigas!!!
Te vejo lá!
Bjão.
Silmara.
O outro é http://saboneteshidratantes.blogspot.com/
Muito lindo o texto! Eu admiro muito uma mulher que consegue viver assim, pois com certeza ela vive um relacionamento com muito amor, respeito e segurança. Não existe maior entrega que esta e os frutos colhidos mais tarde são os melhores!
Eu tento o máximo que posso, sou autônoma e trabalho em casa e ainda por cima reduzi muito meu ritmo de trabalho, pra poder conviver o máximo que posso com o meu filho, que é a coisa mais importante na minha vida!
Parabéns pelo texto, muito bem escrito!
bjos
katarina
nada é definitivo, e esses momentos não voltam mais, eles crescem muito mais rapido que podemos admitir. Aproveite bastante, e nunca permita que as cobranças sociais te pertubem!
Amei o texto.
Parabéns pela coragem!
Penso da mesma forma, mas ainda não consegui me "libertar"...
Seja feliz!
Letícia,
Assim como você deixei de trabalhar por quase 1 ano quando meu filho tinha 1 aninho.
Confesso que ser mãe em tempo integral me deixou uma lacuna muito grande e há dois meses retornei ao trabalho.
Hoje trabalho mais perto da minha casa e num ritmo menos intenso, mas ainda sonho com o dia em que conseguiremos ter uma licença maternidade (e paternidade) mais digna, de pelo menos 6 meses e uma carga horária reduzida para mães (das 9:00 à 5:00 por exemplo.)
Acho que devemos honrar a liberdade que as mulheres anteriores a nossa geração conseguiram, mas acredito que a nossa grande missão agora é buscar o equilíbrio.
Eu seria muito feliz se pudesse não ter que escolher entre ser mãe e a minha carreira profissional!
Ana Helena,
Entendo sua situação! E acredite, acho que chegarei lá. Sei que vou sentir falta de ser profissional e pretendo voltar a ser qualquer dia desses.
Acredito que um equilibrio é fundamental e você conseguiu isso. Ótimo não?
Eu estava mais para lá (profissional) do que para cá (mãe). Agora, estou mais para cá. Chegará o dia que entrarei num equilibrio, porque esta é minha meta!
Grande beijo!
Letícia
Lê, te admiro cada vez mais!
:O)
Eu abri de algumas coisas por meus filhos e acredito, a longo prazo, seremos todos beneficiados, dentro e fora de casa. Concordo com seu professor, mãe em casa é parto, é peito, é carinho, enfim, uma sociedade menos violenta.
Bjocas!
Leticia, twittei significa que enviei para o twitter.com como indicação de leitura para meus seguidores...hehehehe
Sabe, tem uma coisa que fiquei pensando depois...
Achei que ficando em casa com as crianças, talvez chegaria um ponto em que me arrependeria e sentiria falta do trabalho (fazem quase 2 anos que estou em casa) e isso NÃO ACONTECEU!
Minha mãe sempre me disse que se arrependia de ter largado o trabalho externo para cuidar dos filhos porque eles não valorizaram isso, mas o fato é que ela não tinha nada para se sentir VALORIZADA enquanto ficava em casa, e hoje nós mulheres, temos mil e uma coisas para fazer em casa como opção de trabalho também, seja voluntário ou até para ganhar algum dinheiro. Isso ajuda muito!
Embora eu fique em casa, não me sinto uma pessoa estagnada, estou sempre estudando, aprendendo, ensinando, e assim sinto-me útil para o mundo e me sinto valorizada sem precisar sair do convivio com meus filhos.
beijo
Não Letícia! Ainda não encontrei o equilíbrio! Queria poder trabalhar um pouco menos e passar mais tempo com meu filho, mas isso parece impossível dentro de um "emprego formal". Torço para que todas nós mães e profissionais consigamos encontrá-lo! Acho que essa é nossa gande busca. Fico extremamente feliz em notar que temos muitas outras mães com a mesma preocupação. Quem sabe juntas conseguimos mudar essa mentalidade feminista ao extremo e trazer as mulheres um pouco mais de volta para o "tanque e o fogão" sem precisar viver somente lá!!!
grande abraço!
Ana Helena (mãe do Victor)
Também optei por ser mãe e dona de casa... hora de cuidar da cria... sabias palavras as suas... adorei!!!! Um beijo, Barbara.
Amei o post!
Tenho uma filha de 1 ano e 9 meses (a Rebeka)!
Tenho profissão, sou pedagoga, mas por escolha, resolvi ser mãe e dona-de-casa em tempo integral!
Por conta de minha opção, muitos foram (e são) os que me criticam por tal atitude.
Muitos acham que só o dinheiro traz felicidade... Eu sei, que minha felicidade vem a cada dia, a cada carinho de minha princesa, a cada despertar cheio de seus sorrisos.
Não consigo me imaginar de outra forma, cada vez que tento imaginar como seria se eu tivesse que trabalhar fora e passar o dia inteiro longe de minha pequena fico muito angustiada, muito provavelmente não estaria nada bem.
Mas, graças ao meu bom Deus, tenho a oportunidade de estar presente em cada momento do seu dia, a cada descoberta, choro, queda e a cada sorriso.
É muito bom saber que ainda existem pessoas que compartilham de tal opção!
um grande beijo a todas!
=D
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