por: Kalu
Era uma festa de criança e um menino com seus 3 anos estava todo tempo acompanhado por uma mulher vestida de branco, de meia idade. Ele interagia com as outras crianças e volta e meia recorria a ela, com um carinho ou um olhar. Muito simpática começamos a conversar. Disse que o filho dela era lindo. Ela me respondeu:
- Não sou a mãe dele, sou a babá.
Logo depois percebi a figura de uma mulher que horas vinha ver o que estava acontecendo, dava umas ordens para a babá e voltava para a mesa dos adultos. A babá foi no pula-pula, desceu o gramado na caixa. Eu e ela dividíamos a atenção e brincadeiras com as crianças. Fiquei encantada de ver o carinho mútuo e bastante chocada como o mesmo não aceitava e interagia com a mãe.
Aquela mulher magra, de unhas feitas, cabelos perfeitos me disse que não abria mão da babá nem nos finais de semana, que tê-la, desde que ele nasceu, inclusive para cuidar dele a noite, foi o melhor e maior investimento que ela poderia ter feito.
Eu vejo nossa sociedade correndo freneticamente atrás de dinheiro. Dinheiro usado não para unir pessoas, mas para separar: é a cesárea filmada com coquetel na sala de espera, seguida de uma lipoaspiração; o carrinho tecnológico, os brinquedos eletrônicos, a Televisão, a Babá, as férias em um Hotel com monitores em que os pais podem descansar, a chupeta, mamadeira para a independência. Tudo isso é estar longe, ao contrário de parto natural, sling, peito.
Eu afirmo com os olhos cheios de brilho e o coração de emoção que os maiores investimentos que fiz na minha vida foi a maternidade ativa e consciente: meu parto domiciliar, para meu filho ficar sempre perto; sling, com colo e peito à disposição; tempo para ver crescer meu pequeno e participar de cada etapa.
Claro que é bom tem um braços para segurar a criança um pouco para poder tomar um banho ou descançar. Mas, para mim, não tem preço este dedicar-se com a paixão das entranhas. Para mim não serve olhar no vidro da maternidade. eu gosto do toque, do estar perto, nos dias de sol e de chuva, aprender com os sorrisos e difculdades, mas, sobretudo, estar junto.
Bebês e crianças precisam de muito pouco e de coisas que não podem ser compradas, que não são valorizadas por aqueles que giram como ratos de laboratório as estrutura da matrix: tempo, dedicação, afeto.
Uma mulher que deixa um emprego rentável e a chance de ascensão profissional para cuidar do seu filho ou que pede redução da carga horária é taxada de louca, aquela que jogou fora todo investimento e sonhos depositados nela.
Hoje, depois de passar por vários estágios da maternidade eu vejo que o presente, as coisas materiais procuram substituir o insubstituível. Bebês e crianças precisam de muito pouco em termos materiais. Sobretudo bebês.
Com um sling, um balde, disposição e tempo você supre as demandas físicas e emocionais de uma criança. Mordedores podem ser substituídos por legumes para coçar a gengiva, pedaços de pano podem entreter uma criança por horas, fazendo cabanas, brincando de esconder. Contar uma história, cantar uma música substituem com afeto e amor a televisão. Mas para isso é preciso estar presente, é preciso dedicar-se, abrir espaço para a própria criança interior. Reaprender a brincar e saber que isso é o que realmente une.
Não podemos terceirizar a educação dos nossos filhos. Somos nós os responsáveis pelos filhos que deixaremos para nosso mundo. Quanto mais seguros, mais nutridos de presença, menos eles terão lacunas para serem supridas com aquilo que está do lado de fora.
Quanto mais conseguirmos ensinar o valor do estar e do ser em detrimento do ter, estaremos construindo uma nova sociedade, em que os filhos do consumo estarão aí, mas os pequenos mamíferos crescerão para continuar e concretizar o sonho, de todos os dias, com suas presenças e escolhas conscientes , fazer um mundo melhor.
Foto: Paula Lyn - http://www.paulalyn.com.br/
18 comentários:
Que lindo e forte seu texto... que dolorido pensar o qto essa mãe "madame" ao longo dos anos, verá que seu filhote cresceu e não pode voltar no tempo... cuidar de um filho é preciso devoção, prazer!
Poxa Kalu,
vc nem sabe como essa terceirização me incomoda... outro dia fui pegar filhote na escola e fiz o que sempre faço, abaixei, dei beijo e perguntei como foi o dia... qdo levantei tnha uma coleguinha dele olhando pra mim com um jeitinho de "pq minha mae não eh assim tb?" Já vi ela chegando diversas vezes na escola, sempre no colo da babá e a mãe (linda, maquiada, maravilhosa! e sem a filha nos braços) atrás, vejo tb qdo ela se despede das duas, com um abraço e um beijo na babá e um tchau seco pra mae... doeu aquele olhar... doeu de saber o quanto aquele vazio jamais será preenchido...
Muito lindo e forte.
Nossa filha, Nara Rosa, está agora com 1 ano e três meses, e encarou com muita alegria a mudança que se operou em nossas vidas há 2 meses.
Eu posso afirmar com orgulho:
sou um pai que abriu mão da carreira (pelo menos por um tempo)para ser pai em tempo integral, e permitir que minha companheira termine a faculdade.
Sinto os laços com a Nara mais fortes do que nunca... e os aprendizados que estou tendo em minha vida, muito maiores do que qualquer retorno financeiro de um trabalho como funcionário...
Abração
Gabriel Dread
Lindo texto, e espero q sirva pra reflexão de muitas mulheres q entram aqui!
Bjinhus
Muitas mulheres não querem abrir mão de nada pra terem filhos. E muitas tem filhos apenas pra colocar a foto no porta retrato na mesa do escritório. Essa semana fui levar minha filha na escolinha e tinha um "coleginha novo" na salinha dela. Perguntei pra professora quem ela e ela me disse que era de uma outra turma e da manhã. Tinham esquecido de buscar o garoto e era quase 14 hs. Fiquei com dó dele e ódio da família.
Bjssss, adorei o texto.
Kalu!
Lindo texto. Li e me vi pensando como vc. Eu ficaria tocada com a relaçao baba-criança e chocada com a relaçao mae-filho... Infelizmente muitos pais se deixam levar pelo consumismo, seja ele em dose menor e "inofensiva", dando chupeta, por exemplo, no lugar do peito; carrinhos no lugar do colo e, por mais absurdo, a segurança, presença, contato corporal e o afeto da mãe pela baba... Nao param para pensar que isto ja faz parte da construçao do adulto do amanha. Acredito que haverao diferenças comportamentais nitidas entre aqueles que receberam afeto, atençao, colo, peito e aqueles onde encotraram isso nos "objetos" de substituiçao. Beijos!
Kalu, eu sinto como se esse texto tivesse sido escrito para mim! Postei recentemente sobre o mesmo assunto no meu blog, claro que não de forma tão elucidativa e geral, mas é isso aí. Li esse primeiro comentário da Tathy e também me identifiquei, eu seria a "coleguinha nova", sempre era a última a ser apanhada na escola, e a partir dos 12 anos tinha que voltar uns 7km a pé porque me esqueciam na escola. Talvez por esses traumas eu prefira abrir mão de uma carreira em potencial pra me dedicar 100% ao meu filho, e por isso sou taxada de doida. Que mundo é esse em que vivemos? Que valores? Ainda bem que temos esse micromundo de mamíferas onde nos encontramos umas às outras...
Kalu,
Amei o texto!!
Desde já fiz minhas escolhas. Pretendo continuar em casa para dar todo carinho e atenção para os filhos que terei.
Beijos,
Carla
Oi Kalu
Moro num prédio onde a maioria das crianças tem babá, tendo mães que trablam ou não , então desde que me mudei eu fico vendo e ouvindo absurdos que essas babás falam, não deixam as crianças correrem, irem no escorregador sozinhas, não podem se sujar, falam coisas terríveis sobre as crianças na frente delas, como "essa menina não consegue ir ao banheiro sozinha, esse menino não aprende a andar de bicicleta de jeito nenhum, vc não é mais bebezinho pra fazer isso, ele é preguiçoso para falar, para andar, etc etc , em 2 anos já dava pra escrever um livro.Quando vejo as crianças com os pais, os insultos não são muito diferentes...Depois todos vem me dizer que o Davi é tão esperto, tão independente, tão calmo, pq será? Tenho uma conhecida que também não trabalha e desde que arranjou uma babá só sái se ela for junto, eu queria marcar um encontro com ela e ela me respondeu: Mas nesse sábado é folga da babá. É mole?
lindo texto.
Parabéns Kalu... muito tocante!
Eu agora estou voltando a trabalhar e meu bebê vai ficar algumas horas por dia com a babá. Mas de forma nenhuma ela vai exercer o meu papel de mãe. Faço questão de continuar em aleitamento exclusivo até os 6 meses, saindo do trabalho para amamentar, e sempre que estiver em casa a babá está dispensada! Não posso abrir mão do meu trabalho agora, mas de forma alguma abriria mão do meu filho!
Kalu, sempre pensei em lhes sugerir esse tema. É absurdo o lugar de mãe que as babás mesmo sem querer adquirem. Conheço uma mãe que, quando é folga da babá, pasme, manda a criança pra casa da dita cuja. Pode isso? Tem outra que quando a babá folga no fim de semana, não trabalha na segunda porque está muito cansada. Criança cansa mesmo, mas que cansaço doce, feliz e seguro!!! Eu abri mão temporariamente da carreira só pra cuidar da Alice e já a vejo bem diferente dos outros cuidados por babás... Parabéns pelo tema. Lívia
Kalu, maravilhoso seu texto. Também sou mãe, infelizmente não passo o dia todo com minha pequena. Ela fica na escolinha do dia todo desde os 5 meses. Mas o tempo que tenho com ela procuro estar mais próxima, curtir cada momento. Tenhho uma pessoa que me ajuda muito em casa, mas não substituo jamais o tempo livre que tenho com minha filha. É bom ter auxílio, mas pais são insubstituíveis. beijos e saudades
Kalu...
Lindo o texto, e chocante a realidade em que vivemos. Eu também optei por essa maternação ativa e meu marido a paternação ativa. Por isso, todos nos enxergam como os "fora da casinha". E o nosso Kiyo continua crescendo com muito amor, presença e respeito.
Beijos
Essa terceirização da criação está beirando ao absurdo.
Parabéns,como sempre,lindo texto.
Isso me fez lembrar o que ouvi certa vez de uma mãe de uma bebê de 1 ano e 6 meses:
"Credo,como vc aguenta só ficar em casa cuidando da tua bebê!?Eu e meu marido ficamos loucos quando chega o final de semana e não temos a babá;a gente fica empurrando um pro outro a Valentina(nome da bebê de 1a6m),nenhum de nós tem paciência com criança."
E eu calei,né...tem coisas que a gente chega perder a reação de tão absurdas.
abç
É isso mesmo Kalu, adorei seu texto, e infelizmente ele retrata fielmente a nossa realidade atual. Fico pensando como serão daqui uns 10, 15 anos esses bebês que hoje se vêem cuidados dessa forma, terceirizada, sem comprometimento, sem calor, dedicação, amor, peito...
Acredito que tudo segue uma linha lógica: cesárea, mamadeira, chupeta, babás... Deixar tudo para o outro resolver, nunca assumindo seu papel em nada, nem como mãe, ao menos... É muito triste assistir a isso sem poder fazer nada e essas mulheres achando o máximo essa tal "independência". Posso parecer radical, mas para mim isso é só fraqueza, não se reconhecer como mulher de verdade e muito menos como mãe... Sou cria desse tipo de conduta e acho que isso me fez mais decidida a fazer tudo diferente, mas foi algo muito inconsciente.
Beijos,
Cris
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