por: Pérola - Mamífera Convidada
Eu sempre quis ser mãe. Sempre quis amamentar meus filhos e sempre quis um parto normal.
Com meu primeiro filho, acreditei que as informações que eu tinha me bastavam para conseguir um parto normal e um aleitamento tranqüilo. Me enganei e me enganaram.
Com meu primeiro filho, acreditei que as informações que eu tinha me bastavam para conseguir um parto normal e um aleitamento tranqüilo. Me enganei e me enganaram.
O que eu tinha na verdade, eram informações superficiais. Havia lido, havia pesquisado, mas tinha ao meu lado o senso comum, presente nas falas das amigas, da família, e acreditem: dos médicos. Com base no que possuía de informações e do que me ofertaram, fiz escolhas.
Ganhei uma cesárea mal (muito mal) indicada. Ganhei um diagnóstico sem evidências e sem grandes estudos e por isso parei de amamentar exclusivamente com quatro meses e totalmente com sete meses do meu filhote mais velho.
Eu acreditava piamente que fazia o melhor para ele, que fazia escolhas conscientes.
Os médicos me venderam diagnósticos e eu não questionei. Aceitei.
Os médicos me venderam diagnósticos e eu não questionei. Aceitei.
Aceitei porque eles eram médicos, eles tinham poder, sabedoria. Abdiquei de meu poder de decidir e de questionar e entreguei a eles. Fiz essa escolha na época, mesmo sem saber.
Na segunda gravidez decidi que teria meu parto normal. Essa decisão me fez percorrer um longo caminho buscando informações. Um caminho angustiante, dolorido, cansativo. Um caminho de quem sai do lugar e como dói sair do lugar, mas a cada passo, a cada descoberta, eu ganhei fôlego.
Conheci mulheres incríveis e empoderadas que me ensinaram e ensinam muito. Mamíferas lindíssimas e capazes, acima de tudo questionadoras. Consegui meu parto normal humanizado.
Evitei todos os procedimentos invasivos e chamados de “protocolos” na maternidade. Cheguei a um ponto importante do meu trajeto. Um caminho sem volta. De quem entende que pode, que é capaz e de quem percebe que médicos são seres humanos, profissionais como tantos outros, educados em academias fundadas em paradigmas.
Passei a olhar para os médicos de outra forma e comecei a buscar àqueles que viam como uma pessoa, como uma parceira nas decisões, e não como uma enferma, uma paciente, passiva e espectadora da própria vida. O próximo passo seria a amamentação.
Eu tenho um prolactinôma de hipófise. Isso significa que coladinho na minha hipófise há um tumor benigno que secreta prolactina. Por isso quando não estou grávida ou amamentando devo tomar um medicamento que inibe esse hormônio e mantém esse tumor estável.
A medicina convencional prega que o aleitamento para além dos 6 meses numa mulher com esse tipo de tumor pode agravar a situação, essa foi a razão de eu ter interrompido precocemente o aleitamento do meu filho mais velho. Me dói muito pensar nisso até hoje.
Depois que minha filha nasceu, eu deveria amamentá-la no primeiro mês, refazer a ressonância da hipófise e baseada nessa avaliação, a endocrinologista determinaria quanto eu poderia amamentar. Quando fiz o exame seis meses atrás o tumor havia crescido 3mm, e por telefone, a médica me disse que eu deveria interromper o aleitamento quando a minha pequena completasse 4 meses. Lembro-me claramente de pensar “De jeito nenhum”.
E foi aí que começou minha segunda grande caminhada em busca de muita informação. Falei com muitas pessoas que tinham vivido o mesmo que eu, li muito, questionei muito, procurei artigos, textos,comunidades e ESCOLHI amamentar. Acreditei que poderia e assumi essa decisão.
Comecei um tratamento com a medicina antroposófica, conversei com médicos humanizados e amamentei exclusivamente por seis meses. Refiz a ressonância um mês atrás e para minha alegria o tumor havia regredido 2 mm.
Continuo o tratamento, continuo amamentando em livre demanda. Iniciamos gradualmente e de forma muito suave a alimentação sólida e nunca estive tão bem e feliz. Eu fiz uma escolha e assumi os riscos.
Daqui a seis meses farei nova ressonância e assim vou levando. Acreditando que meu corpo é capaz da cura, acreditando que mudar hábitos, mudar o jeito de olhar a vida, a maternidade compõe um corpo mais saudável, mais feliz...
Aprendi com meus partos e com minhas histórias de aleitamento que não devemos nunca acreditar que já sabemos o suficiente. Devemos questionar, devemos buscar informação, devemos saber filtrar informação. E acima de tudo, fazemos escolhas.
E escolhas são carregadas de responsabilidade, de peso.
Quando uma mulher assume a decisão de um parto domiciliar, de um parto normal após cesárea, de amamentar contra um diagnóstico fatalista, assume também os riscos, assume a oportunidade de crescer, de aprender, e sempre, de lidar com as conseqüências.
E, ao contrário do que muitos previnem ou esperam, as conseqüências podem ser maravilhosas: um parto acolhedor e fraterno, uma criança amamentada por quanto tempo for bacana para dupla mãe e bebê, uma mulher que assume o nascimento de seu filho com empoderamento e feminilidade. Mas aí que está o pulo do gato: nós decidimos juntos. Mulher e médico. A relação é horizontal. Sem jogo de poder. Muito mais coerente, muito mais educativa. Faz a gente crescer.
Escolhemos mesmo quando não imaginamos que estamos escolhendo. O tempo todo.
Então porque não escolher com consciência? Dá trabalho, tem que procurar, tem que pesar, tem que avaliar. Mas a recompensa é gratificante.
Então porque não escolher com consciência? Dá trabalho, tem que procurar, tem que pesar, tem que avaliar. Mas a recompensa é gratificante.
Para quem quer e para quem se atreve, a maternidade é uma dádiva, um presente. Enaltece.
Basta acreditar e escolher.
Imagem: vinagreefel.blog.terra.com.br
8 comentários:
pesar sempre dá um trabalhão mesmo, e tbém uma recompensa do mesmo tamanho.
é linda a história da sua cura Pé
beijo
mto linda sua historia Pe...com certeza sua vida toda mudou...e pra melhor! Grande beijo!!!
Eu lembro quando a Pérola chegou na materna, era uma flor em botão. Como ela contou, teve coragem para fazer muitas escolhas e, da janelinha, a vi desabrochar numa mamífera incrível e admirável.
Sou fã da tranformação dessa mulher, sou fã de seu jeito de escrever (o relato de parto dela é um dos mais lindos que já li, e foram muitos. Só a vi uma vez na vida, mas é isso, sou fã dela mesmo.
Beijos!
A sensação que tenho é que, diariamente, tiro várias camadas de vendas dos meus olhos. As coisas vão ficando mais claras. Quero aprender tudo o que puder e fazer escolhas conscientes. Tomara que eu dê conta do recado!
Muito linda sua historia, mas estou aqui para dizer que estou muito contente. Minha cidade, Porto Alegre, agora tem cineMaterna. Vou poder ir ao cinema com minha filha sem preocupação. Adorei a iniciativa.
Obrigada
bjos
sheila
pérola, querida! conhecer um pouco mais da tua história materna me fez te admirar ainda mais! muito emocionante esse post, além de muito educativo. me identifiquei do começo ao fim.
grande beijo
Perola, querida, adorei te encontrar por aqui, acompanhei um pouco da sua história num fórum, admiro muito sua coragem!
Vou acompanhar esse blog, muito bom!
Pérola, é maravilhoso ver alguém dando a cara a tapa, tomando pra si as responsabilidades, tendo coragem de pensar fora do manual e tomar decisões conscientes, empoderadas. parabéns, mil vezes parabéns! linda demais tua história.
bjo e obrigada pela participação tão especial.
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