Olho no espelho e não reconheço mais quem eu era. Os seios, outrora pequenos, avolumados pelo leite que o preenche há quase 3 anos; as formas arredondadas da gravidez ainda marcam um corpo acima do peso e estrias pequenas no pé da barriga são marcas de um tempo inesquecível em que abriguei no meu ventre meu querido filho. No meu períneo, uma cicatriz da laceração que ganhei como recompensa de um parto muito rápido.
E lá dentro, em cada parte de mim, ressoa uma palavra vivida com as entranhas. Coragem! A maternidade consciente é um exercício de muita coragem. Coragem de buscar formas mais humanas de trazer um bebê ao mundo, coragem de enfrentar a dor, coragem de ir além e experimentar o maravilhoso ato de dar a luz. Coragem de enfrentar os medos mais profundos. Coragem de trocar de médico, de mandar a família não infernizar com a palpitaria, coragem de se calar, de escolher como parir jogando fora todo aquele universo conhecido.
Coragem de não deixar um bebê chorar, de mesmo com cansaço na alma não se render ao diabinho da mamadeira e chupeta. É muita coragem persistir com a dor e continuar a amamentar por saber que este ato é uma prova de amor e o melhor alimento do mundo para seu filho. Coragem de não dar antitermico diante de uma febre.
Coragem de saber que o estar é mais importante do que o dar bens materiais. Coragem de negar a medicina e buscar sempre alternativas para que aquele pequeno ser cresça sendo tratado não como um amontoado de órgãos, mas um ser inteiro. Coragem de se reinventar como mulher e redescobrir a própria feminilidade que agora traz elementos tão poderosos que nos fazem mulheres interessantes, poderosas e, sobretudo corajosas.
A maternidade resgatou em mim a minha criança, me fez lembrar das minhas brincadeiras de pequena, das músicas preferidas. Renovou meus sonhos e esperanças me ensinando a pescar peixes invisíveis que descem do céu como orvalho da manhã. Mostrou-me quão interessante é seguir com a lupa os rastros de formiga. Aquela mão pequena e forte a acariciar meu rosto e enxugar minhas lágrimas iluminam a escuridão do meu crescer fazendo flutuar o peso das responsabilidades. Aquele sorriso gostoso ou aquele “eu te amo” que me mostram que este universo do doar-se por completo é algo que faz sentido, preenchendo o vazio de buscar fora o que está em cada um.
Em cada lar mamífero há mestres que nos ensinam a superar os tombos e tropeços com uma grande agilidade, a viver unicamente no presente. Seres que escolheram e foram escolhidos para nos mostrar que o maior amor do mundo é algo infinito. E quanto mais próximos, mais conectados, não as teorias, mas aos corações estivermos maior e mais transformador será o aprendizado. E nesta entrega de fazer-se uma pluma guiada pelas intuições, um dia você, ao abrir os braços ao lado dele e correr no gramado olhando para o céu, você poderá voar.
5 comentários:
Lindo! Estou chorando aqui! Não sei se são os hormônios da gravidez, mas acho que é pela beleza do que você falou mesmo!!!
Beijos!
Obrigada Kalu!
Você conseguiu descrever tudo o que eu sentia e não sabia. Eu abri mão de tanta coisa, e hoje me orgulhei das escolhas que fiz. Obrigada!
Aiai, nao preciso dizer o quanto seu texto foi maravilhoso KAlu. Vc foi agraciada por Deus com o dom da maternidade e das palavras tb!
Fiquei super feliz por ter lido seu texto hj.
Uma maiga me falou ontem: Minha mae teve q se sacrificar e ficar mais de 7 anos sem trabalhar pra cuidar dos filhos.
Eu so respondi: Deixar de trabalhar pra cuidar dos filhos nunca será sacrificio pra mim, e sim um PRAZER, uma verdadeira benção! com seu texto isso so reforçou o q eu penso sobre isso.
Bjinhus
Teus textos sempre me emocionam...
lindo!!!!
é assim que eu quero viver a minha maternagem!!!!
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