
por: Tata
Mãe que é mãe quer ver os filhos felizes. Sorridentes, contentes da vida, olhinhos brilhando. É assim que a gente gostaria que nossos pequenos estivessem, sempre.
Só que, como a vida não é comercial de margarina, a coisa não é bem assim. A vida tem tropeços, tem dificuldades, dores, tombos, cicatrizes. Faz parte. A dor vem com o pacote, e não dá pra fugir.
Eu acho que um dos meus grandes aprendizados como mãe, nesses pouco mais de quatro anos desde que minhas pimentas mais velhas chegaram ao mundo, foi compreender que nem sempre eu poderia resolver os problemas delas, ou evitar que sofressem. Que haveria dores que elas precisariam sentir, saborear e superar.
É duro. Ver um filhote sofrer, seja física ou emocionalmente, é de deixar qualquer mãe com o coração pequenininho, apertado e dolorido. A gente chora junto, e a vontade é mesmo atropelar tudo e resolver a questão pra eles, dar um jeito no que quer que seja que esteja fazendo aquele serzinho tão pequeno e indefeso menos feliz.
Mas a verdade é que às vezes, tudo o que a gente pode fazer é estar presente. Ficar ao lado, demonstrar o amor, a empatia e a compreensão, acarinhar, oferecer o colo. E estar ali, dando força, até que a dificuldade seja superada.
Isso vale pra tudo. Desde que nossos bebês nascem, bem pequeninos, a gente vai aprendendo que tem horas de interferir, e tem horas de doar presença, e nada mais.
Pros choros incontroláveis e inconsoláveis dos bebezinhos, por exemplo, naquelas horas em que já fizemos o check-list (fralda - ok!, fome - ok!, frio/calor - ok!, colo - ok!, etc, etc.), e mesmo com tudo aparentemente adequado, nada parece consolar aquela criaturinha chorosa. É desesperador, a impotência que a gente sente é uma dor quase física. Mas a gente entende que tudo o que pode fazer é estar junto, apertar bem apertadinho junto da gente, dizer baixinho no ouvido palavras de carinho, e esperar que o momento passe.
Vale também pros episódios de doença, febre e mal-estares em geral, quando a tentação de dar um antitérmico ou um remédio qualquer que faça a criança se reestabelecer mais rápido e levantar da cama sorridente de novo, é enorme. Mas a gente acaba aprendendo também que precisa dar chance para que eles superem as dificuldades, fortaleçam seu organismo, cresçam e vençam o desequilíbrio por si mesmos, para sair mais fortes, mais maduros, mais crescidos. E mais uma vez, estar do lado, abraçar, fazer um bom cafuné e passar a noite em claro consolando e acalmando é tudo o que se pode fazer.
E pela vida afora, nos inúmeros momentos em que nossos filhos se virem com uma experiência dolorosa para vivenciar, uma perda, um rompimento, uma decepção, uma frustração, mais uma vez descobriremos que, muitas vezes, a presença é o suficiente. Tem que ser.
A vontade que a gente tem é colocar eles no colo, aninhar, proteger bem protegidinho debaixo das asas e jamais permitir que qualquer coisa os machuque, magoe, maltrate. Mas é preciso deixar que eles sintam as próprias dores, levantem das próprias quedas, curem as próprias feridas.
Estar do lado, dar a mão, ser sempre alguém com quem eles podem contar nas horas de dificuldade, é importantíssimo. Mas o caminho é deles, e se a gente quer carregar no colo pra sempre pra evitar que caiam, acaba não deixando que eles cresçam, amadureçam, aprendam.
E afinal de contas, é nos momentos de dificuldade que a gente descobre a força que tem, é caindo que a gente aprende a se levantar. E seguir em frente, melhor a cada dia.
* trecho de "Música Ambiente", da Legião Urbana, só pra continuar nos títulos musicais... ;-) Imagem: www.gettyimages.com.br