///
por: Tata
Engraçado como as idéias parecem estar 'pairando' no ar, rondando, pessoas afinadas, que seguem o mesmo caminho, pensando e sentindo as mesmas coisas, nos mesmos momentos.
Essa semana, eu vinha pensando em falar sobre sair da 'matrix', tomar consciência das coisas, assumir responsabilidades pela própria vida, sobre o passo de boiada e o tanto de gente que segue em frente sem pensar por si mesmo. Pois eis que minhas queridas companheiras Kathy e Kalu já falaram sobre isso, em seus dois últimos posts. Aliás, posts interessantíssimos.
Mesmo assim, com o que tenho vivido nos últimos dias, fica difícil falar de outra coisa. Tenho pensado demais no valor desse trabalho de formiguinha que fazemos aqui, de quebrar paradigmas, questionar conceitos muito arraigados e aceitos socialmente, seja a respeito de parto, amamentação, gravidez, maternidade.
A verdade é que não é nada fácil. Nossa voz é apenas uma, no meio de tantas que repetem feito disco riscado na vitrola (acreditem, eu sou do tempo da vitrola!) meias-verdades como "a cesárea é limpa, rápida, prática, segura", "sentir dor é coisa do passado", "amamentar deixa a criança dependente", entre outras pérolas. E é preciso admitir que de vez em quando dá um cansaço, um certo desencanto desse trabalho de formiguinha, que parece que a gente faz um esforço imenso pra botar uma folhinha nas costas, e quando a gente está quase chegando, vem um espírito de porco qualquer, dá um chacoalhão e lá se vai a folhinha pro chão. E a gente tem que começar tudo de novo.
Eu não fico triste vendo mulheres optando pela cesárea, escolhendo não amamentar seus filhos ou tomando qualquer caminho que, do meu ponto de vista, não seja o melhor. Não fico mesmo, porque acho que cada um sabe de si, dos seus porquês e dos seus poréns, e deve bancar suas escolhas. E afinal, eu não sou a dona da verdade.
Agora, o que me mata por dentro é ver alguém que escolheu seu caminho (consciente ou inconscientemente) sair repetindo por aí uma porção de bobagens disfarçadas de opinião embasada, dizendo que sua cesárea-por-cordão-enrolado foi suuuper necessária, que queria muuito ter amamentado seu filho, mas seu leite era fraco, ou alguma outra bobeira do tipo.
Quer viver no auto-engano? Beleza, também é opção de cada um. O grande problema reside no fato de que a pessoa que se permite acreditar numa bobagem dessas e sai repetindo a asneira por aí está prestando um terrível desserviço, fazendo cair por terra um esforço imenso que a gente faz pra apresentar informação e fazer as pessoas questionarem, quebrarem paradigmas, pensarem por si mesmas.
O bom é quando, como também acaba de me acontecer, a gente vê que mesmo no meio desse vaivém constante, dessa luta contra os discursos-bobageiros-supostamente-embasados, a gente consegue tocar alguém, provocar reflexão e fazer a diferença na vida de uma pessoa. Um caminho que a gente muda, já é uma recompensa infinita.
No final das contas, acho que isso é que vale a pena. Não importa quantas folhinhas a gente consiga levar pra dentro do formigueiro, não importa quantas vezes a gente esteja quase chegando e a folhinha despenque no chão. No fim das contas, o que importa é não desistir.
Imagem: http://cantinhodabarbiegirl.blogspot.com/2009_04_01_archive.html
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
9 comentários:
Tatá, como vc mesma mencionou, esta semana vcs 3 estão bem conectadas em suas mensagens. E este trabalho de formiguinha, além de ter me ajudado e muito, principalmente na amamentação, me colocou diante de um fato: a todo o momento fui bombardeada por pessoas que insistiam pra que eu desse LA para meu filho. Desde que o pobrezinho nasceu, antes mesmo de sairmos do hospital. Graças a Deus, fui bem teimosa. Mas não foi graças ao meu instinto,apenas. Foi por ler sempre o blog e participar de listas de discussão sobre parto e aleitamento. Eu cheguei a um ponto tal que se uma pessoa tentava me "ensinar" que meu leite era fraco ou insuficiente, eu simplesmente concordava, pq não adianta querer explicar, e qd a pessoa saía de minha casa, eu tomava uma chuveirada para seguir o meu caminho com meu filho.
Hj, depois de 6 meses amamentando, graças a Deus, e com leite sobrando..rsss..consigo enxergar que pessoas que tentam mudar nossa opinião, são aquelas que não conseguiram amamentar, por um motivo ou outro, como eu consegui. Na verdade são frustradas e não querem ver a vitoria de uma outra mãe.
No livro Besame mucho, tem uma fala muito importante pra mim:Se ainda tem dúvidas sobre quais são os verdadeiros tabus da
nossa sociedade, imagine que vai ao seu médico de família e lhe
conta uma das histórias seguintes:
1) «Tenho um filho de três anos e gostaria que me fizesse o teste do VIH, porque este Verão tive relações
sexuais com vários
desconhecidos.»
2) «Tenho um filho de três anos e fumo um maço de tabaco
por dia.»
3) «Tenho um filho de três anos; estou a amamentá-l o e ele
dorme na nossa cama.»
Em qual dos três casos crê que o médico lhe passaria um raspanete? No primeiro caso, diria «está certo» e
pediria a análise do VIH sem pestanejar; no máximo recordar-Ihe-ia, educadamente, da necessidade de uso de
preservativo, como no segundo caso lhe explicaria que o tabaco é prejudicial à saúde (se o médico também
fumar, não lhe dirá absolutamente nada). Ninguém a repreenderá: «Mas que descaramento! Como se atreve?
Uma mulher casada, uma mãe de família!»
E no terceiro caso?
Beijos, e continuem asim..carregando esta folhinha tão pesada, mas que ganha novas adeptas mesmo que não tão fortes como vcs 3.
Erika
ótimas reflexões, concordo demais contigo. todos devemos estar conscientes das nossas escolhas e os motivos que nos levam a esse ou aquele caminho.
a mudança de verdade acontece quando repensamos esses motivos mais profundos, acredito.
o legal de estar aberto ao debate é que ajudamos pessoas a tomar consciencia e mudamos também, aprendemos, crescemos.
beijo
Re, parabéns!!! Como sempre, leve, clara e forte!
E no meio disso tudo, existem ainda as que se informam e fazem suas escolhas baseadas na ilusão do soberano e quase sobrenatural poder de persuasão do médico, e essas mesmas ainda fazem apologia a estes caminhos, não porque acreditam nas suas opções realmente, mas sim querendo enfrentar a informação verdadeira, como uma forma de protesto a uma coisa que elas nem conhecem: a essência mamífera de toda mulher. É realmente um desserviço...
E vamo que vamo!
Todos os dias acordo, leio meus emails e em EM SEGUIDA tenho sempre a expectativa de entrar no Mamíferas para ler um posto novo com textos belíssimos, cheios de amor, carinho e informação consistente.
UM BEIJO!
Muito bom o post, e como é facil se deixar levar pelas falas ideias de que a cesarea é a melhor opção, por varios mitivos ridiculos!
Eu graças a Deus sempre quis ter normal, mas depois que conheci o natural, o domiciliar, decidi pra mim mesma que o meu, se Deus permitir, será assim, no conforto de casa, com o marido junto, apoiando.
Quanto ao aleitamento, ainda tenho trabalhado muito essa questao, pq eu nao sabia dos beneficios do aleitamento, mas ainda nao consigo me ver amamentando ate os 3, 4 anos..... apesar de ter certeza q no minimo ate 1 ano meu filho tera o seio pra se fartar de leite!
bjinhus meninas!
E pior, Tata, é que normalmente esses comentários desagradáveis vem de pessoas que nos são tão queridas - amigos, pais, familiares... Quando vem de um estranho, a gente faz "cara de paisagem" e beleza. Mas quando vem de uma pessoa próxima, dói, desanima.
Tenho um tio (que é pediatra) que disse um dia desses que a maior causa de desmame precoce que ele conhece é a avó - e não a sogra, mas a mãe da mãe! Dá pra acreditar?!? Quem mais deveria apoiar e incentivar, na grande maioria dos casos é a primeira que diz "o leite tá fraco", "não é suficiente", "tadinho, tá chorando de fome"... Elas fazem isso por maldade?! Claro que não! Querem ajudar, mas acabam atrapalhando. Quando o assunto é parto, a coisa também não é muito diferente.
Mas é por isso que o trabalho de formiguinha de vocês é tão importante: informar e alertar as mães inexperientes, abrir-lhes os olhos para a realidade e, principalmente, encorajá-las com suas experiências! Vocês são exemplos pra mim! Amo o blog Mamíferas e aprendo MUITO aqui.
Um graaande abraço e não desanima, não!!
Obrigada por TODOS os textos de vocês!!!
Se eu amamentei a minha filha exclusivamente até os 6 meses e continuo a amamentando sem data limite é graças ao "trabalho de formiguinha" de vocês.
É bom ter um espaço para encontrar sua turma... é isso que o blog representa para mim... minha turma nesse vasto mundo da maternidade, onde há tantas escolhas e tão pouca reflexão.
Obrigada.
Sabe, Táta, fiz uma cesárea, mas de forma nenhuma defendo esta cirurgia. Defendo com unhas e dentes o processo todo natural de gestar, parir e crescer... tenho uma amiga que está com 41 semanas de gestação e o médico está falando em induzir o parto... como estou triste por não conseguir acalmá-la e fazê-la deixar o natural acontecer, visto que ela e o bebê estão bem, ele só não está pronto pra nascer!
Mas o trabalho de vcs é lindo e eu estou erguendo minha folinha por aqui, discreta e calmamente.
Imagino como deve ser dificil construir um castelo de cartas para que em seguida venha um ventinho e leve tudo ao chao. Mas saibam que este trabalho lindo que vcs fazem geram frutos tb! E frutos maravilhosos podem certeza! Com certeza, estou me tornando uma pessoa/mae mto mais humana desde qdo comecei a acompanhar o blog (isso laaaah no finalzinho da gravidez).
Nunca desanimem!
Postar um comentário