Mãezinha. Acho esta palavra tão pejorativa quando não pronunciada pelo meu filho. Ela desperta em mim um sentimento de impotência, ignorância, superficialidade. Desde a gestação lutei contra estes adjetivos. Tinha um médico que não falava sobre parto, nem sobre nada que fosse dividir informações. Mudei de médico com 37 semnas, vim para Belo horizonte, contratei enfermeiras obstetras para um Parto Domiciliar. Me empoderei, fui além das informações, pesquisei e construi meu plano de parto. Nunca fui chamada de mãezinha.
O pediatra do Miguel e sua secretária sempre me chamam pelo meu nome. Mais do que um simples nome este ato revela, para mim, uma consideração, um conhecimento sobre o universo que é cada ser humano. A primeira vez que me deparei com este adjetivo foi no início do ano em Ubatuba, quando meu filho pegou uma infecção intestinal e tive que levá-lo para tomar soro no pronto socorro. Quando a primeira enfermeira me chamou de mãezinha eu disse: por favor, me chame de Kalu. E fui atendida.
Neste final de semana, aqui em Sampa, Miguel começou a vomitar, não consegui hidratá-lo em casa. Sem contato com o pediatra dele, corri para o Pronto Socorro. Diante da pandemia e viroses que está atacando São paulo, o local estava bem vazio. Miguel estava placas na garganta . A recomendação foi tomar uma injeção de antibiótico.
Uma pausa: Desde que nasceu meu filho se trata com homeopatia. Passamos por várias doenças sem precisar de um único medicamento alopático. Respeito quem recorra a medidas emergenciais, mas eu prefiro entender as doenças como uma oportunidade de criar um mapa imunológico. Por isso não medico para a febre, por isso não concordo com antibióticos.
Mas naquela situação em que precisava ir ao Hospital, me sentia a mercê do sistema médico tradicional. O pediatra que atendeu o Miguel foi de uma agressividade atroz para olhar a garganta, ouvido. Eu tentado amenizar, pedindo para dar peito para o exame ser menos traumático. Ele disse:
- Mãezinha, se você continuar atrapalhando vou pedir para você sair.
Aquela frase me corroeu as entranhas, de um lado uma vontade de correr com meu filho para longe de lá, de outro, a necessidade de hidratá-lo. Pedi para que não fosse colocado antitermico no soro, apenas um medicamento para ele parar de vomitar. Pelo menos nisso fui atendida.
A mulher que daria a injeção, me falou:
- Mãezinha, segura bem forte.
- Meu nome é Kalu. Mas ela ignorou minha observação.
Na mesma linha agressiva, ela pegou a agulha, colocou na seringa e tacou na bunda do meu filho, que se repuxou. A mulher gritou:
- NÃO FAZ ASSIM!
Imediatamenrte disse que ela não podeia falar assim com uma criança, que ela não deveria esquecer que do outro lado estava um ser-humano fragilizado, com medo. Ela simplemente ignorou.
Depois foi a hora de colocar o soro. Pedi para colocá-lo em meu colo, para ele mamar e assim ficaia mais fácil para todos:
- Não podemos fazer isso.
- Por que?
- Por que o bebê pode engasgar.
- Mas é uma criança de quase 3 anos.
- Não podemos
Pedi para chamar a chefe dela que me repetiu as mesmas frases, sempre iniciando ou terminando a oração com mãezinha. Pedi para que ela me chamasse de Kalu, sem sucesso e expliquei que em uma outra ocasião, em outro hospital, eles permitiram. A mulher, sem pensar 2 vezes disse:
- Mãezinha, se quiser pode procurar outro hospital.
Numa mistura de choque de valores, de sentimento de impotência, de cansaço, de falta de amparo, eu apelei:
- Mãezinha é a mãe!
Queria ter tido a coragem de pegar meu filho e ter saído dali. Mas eu não tive. Segurei ele na maca, enquanto ele gritava, com um olhar confuso:
- Mamãe, me ajuda, tá doendo.
Entre lágrimas eu só conseguia dizer:
- Filho, é para você sarar.
Depois que elas saíram da sala, peguei ele no colo, deixei-o mamar, contrariando o protocolo daquele hospital, enquanto o soro escoava, junto com minhas lágrmas.
20 comentários:
Nossa, Kalu, tu foi muito corajosa de ter ficado.
Na primeira do médico eu já teria saído. Tá certo que o Miguel precisava, se eu estivesse realmente passando pela mesma coisa com o Uriel não sei como seria. Mas que dá vontade de sair brigando dá!
Bando de "mãezinhos" heuheuehue...
Mais uma triste confirmação de que o mundo está todo do avesso...
:/
Beijinhos e melhoras para o Arcanjo Miguel!
Lívia do Uriel
Poxa Kalu... é triste mesmo isso!
Eu já passei por situação semelhante... o que tem na cabeça destes profissionais, hein?? Porquê não vão mexer com computador, lavar pratos ou qualquer outra atividade que não brinque com a vida de uma criança??!!
Olha só fui chamada de "mãe", quando estava no hospital pra ter a Bruna.
Fora isso de lá pra cá nunca mais, mas entendi completamente sua agonia! Teria enlouquecido também!
beijos
Uma vez tb fiquei doida, meu pequeno tem 2 anos, estava com essa virose de vômito, e a médica chamou ele de chorãozinho!!!
" ele é tão chorãozinho não é mãe?"
não sei como não gritei com ela!!! Chorãozinho é a mãe!!! experimenta ter 2 anos e ficarem te enfiando um monte de agulhas!!! As enfermeiras deveriam ser mais "qualificadas" os médicos nem se fala... entendo que deva ser dificil para um pediatra chamar todas as mães e pais pelo nome, mas poderiam tentar... minha homeopata consegue, pq o pediatra(alopata) não?
ah, kalu, que dificuldade obter tratamento individualizado... parecem máquinas!
melhoras pro seu pequeno.
e força aí, que isso não te derruba!
bjs
a.
Oi Kalu, me solidarizo à vc, sei muito bem o que é sentir-se impotente numa situação de emergência. O nível de crueldade psicológica da maioria dos PSs é de lascar. Se sabem então que usamos terapias alternativas como tratamento então... Parecem que aumentam o nível da tortura.
Sinta-se abraçada. Beijinhos no Miguel.
Um abraço virtual beeeem forte, e sentindo tua revolta como se eu estivesse no seu lugar. E vamo que vamo, mulher de fibra!
Mil beijos para a familia linda e amorosa que você construiu.
Eu DETESTO ser chamada de mãezinha, mãe por outra pessoa que não seja a minha filha. Dá vontade de responder, o que foi filhinha (o). A gente fica tão fragilizada ao ver um filho doente que fica sem forças pra reagir. Entendo vc quando relatou não ter tido forças pra pegar o seu filho e sair de lá. Espero que ele esteja bem e vc tmb.
Bjsss
que horror.
Senti um calafrio aqui só de pensar no tanto que ele deve ter se sentido amedrontado, e confuso,
melhoras pro pequeno Kalu.
Eu posso resumir essa situação em uma "simples" falta de humanização nos profissionais da saúde, é incrivel, é um absurdo a forma com que a maioria trata as pessoas. SE nós, adultos ficamos fragilizados e muitas vezes injeções (dependendo do remédio) dói e como dói, imagine então em uma criança, que no momento está fragilizada? Eu me revolto com situações assim.
A falta de humanização é fogo. O pior é que quando se trata de crianças e idosos a coisa fica mais grave, pois geralmente estão mais infefesos e mesmo assim esses "profissionais" agem como se estivesse tratando um objeto, é isso mesmo, eles objetificam as pessoas.
Affy, desculpe-me pelo comentário imenso, mas me revoltei com o texto.
Melhoras pro Miguel.
Beijão
Kalu, querida,
O Miguel sabe a força materna que tem o aparando...
Ele vai superar isso com teu amor e tua luz...
Força aí pra vc tb, viu?!
Beijo bem grande!
Fiquei com as lágrimas nos olhos ao ler isto. Que crueldade, que frieza!
Acredito que o teu colo e peito ...o teu abraço amoroso ajudaram o Miguel a ultrapassar tudo.
Muita força linda!
Um beijo grande
Sabe qual o problema, Kalu? O sistema médico anda cheio de profissionais cansados, insatisfeitos, mal pagos, e isso acarreta nessa situação que você descreveu... profissionais sem paciência, de saco cheio, que descontam sua infelicidade nos pacientes, nas crianças, nas mães.
Digo isso porque vivenciei isso tudo de perto, estou cursando enfermagem, fiz estágio semestre passado e vi como as coisas funcionam, como os profissionais sentem-se exaustos e consequentemente sem paciência com os pacientes e suas exigências.
O buraco é bem embaixo. É necessária uma mudança grande na área da saúde para que esses profissionais atuem mais satisfeitos (não estou justificando, de jeito nenhum concordo que um profissional deva tratar um paciente mal, mas é o que acontece muito por aí, infelizmente.)
"Mãezinha é a mãe!"
Adorei!!!! Tbm odeio que me chamem de mãezinha, mas nunca tive coragem de falar algo! Mas me deu uma coragem agora!!!!!
Beijos!
Affff, Kalu, segunda feira passada tb tive que levar a minha filha a um ps e fui preparada pra isso, pra ter que brigar e me fazer respeitar e tal, mas para minha surpresa aconteceu justamente o contrário. A médica que nos atendeu achou o máximo a Sofia (2a7m) ainda mamar e como falamos da homeopatia ela só fez os exames, prescreveu os medicamentos mas disse para conversarmos com o homeopata a respeito antes de dar. A Sofia teve que fazer um ultrassom de abdomem, adormeceu na cama antes de começar e o médico foi super delicado e falava baixinho para não acordá-la, e ela dormiu o exame todo. Foi uma grata surpresa, mas em geral o atendimento é esse mesmo que você descreveu, um horror a ser evitado ao máximo. Eu acho que o pior não é nem chamar de mãezinha (coisa que surpreendentemente eu tb não fui dessa vez!!!), mas esse tratamento de que todo mundo é igualmente ignorante e eles o máximo. bjs e força para que vc e miguel esqueçam logo esse acontecimento infeliz!
Querida Kalu
Que chato essa situação... imagino como vc se sente invadida e me solidarizo com você. Apesar de ter sido horrível, eu tenho certeza que o laço de amor, carinho e dedicação existente entre você e o seu Miguel foi a segurança do pequeno...
Admiro você Kalu, e deixo aqui um beijo bem grande no seu coração.
Pois é, Kalu. É o que eu te disse. Hj a palavra-chave do sistema de saúde é produção e não atenção. Mas sempre haverá exceções. Que o Miguelito fique bom. Tudo vai passar.
Bjs
Kalu,
Espero que Miguel esteja bem e se recupe bem rapidinho deste acontecimento lamentável.
Sei que vc semeia a Paz e isto é muito válido, mas acho que vale abrir uma reclamação no Conselho Regional de Enfermagem contra estas "profissionais". Se não tirármos estas pessoas da zona de conforto tudo isto continuará!
Bjkas,
Carol da Luna
nossa kalu, chorei junto com vc e com o miguel...
situação bem difícil, essa, tb não sei o que teria feito, acho que xingado todos como vc fez... é tão difícil ser refém numa situação tão extrema, mas eu acredito que as coisas podem mudar, pq tem muito pai e mãe bacana, lutando por um atendimento humanizado, que não é possível que as coisas continuem assim...
bjs solidários,
carol do tom
Oii, a gente nao se conhece, mas fui "apresentada" ao blog por uma amiga do grupo Invitare.
Sinto muito pelo q teve q passar, realmente nao é nada agradavel vc ser tratada da forma como foi, e deve ter sido pior ainda ver o seu pequeno Miguel ser tratado como um pedaço e nao um ser humano.
Que Deus lhe de muita sabedoria pra lidar com essas coisas que as vezes acontecem na vida da gente.
Bjinhus
Carol Rodarte
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