por: mamíferas
Essa semana, de 01 a 07 de agosto, alguns talvez já saibam, e outros não, mas está rolando a SMAM 2009. A SMAM - Semana Mundial de Aleitamento Materno - é uma iniciativa da WABA, que todos os anos, nesse mesmo período, escolhe um tema relacionado à amamentação e promove a reflexão sobre ele. Nesse ano, o tema da Semana é "amamentação nas emergências".
Nós, aqui do mamíferas, acho que nem precisa dizer, né? Somos 100% a favor do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, e depois disso, até os dois anos ou mais. Por isso, resolvemos fazer uma 'trilogia de posts' sobre aleitamento materno. Tata fala hoje, Kathy amanhã, Kalu sexta-feira.
Vamos lá?
por: Tata
Quando penso em amamentação, quando falo sobre o assunto e recebo comentários e/ou críticas, quando ouço um depoimento de uma mãe que conseguiu - ou não - amamentar seu filhote sem complemento artificial, é quase impossível não refletir a respeito, tentando compreender o que faz com que entre tantas mulheres, todas com a mesma possibilidade nas mãos, algumas consigam, e outras não.
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Acho, sim, que tem um tanto a ver com o que a nossa querida mamífera convidada Ana B expressou lindamente no texto dela, publicado há algumas semanas, que vocês podem ler aqui. A forma como a gente encara as dificuldades, positiva ou negativamente, tem muito a ver com o que a gente consegue – ou deixa de conseguir.
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Mas tem um outro ponto que sempre me salta aos olhos, um outro tipo de comportamento, de percepção da amamentação, que acredito que também faça toda a diferença entre amamentar e complementar.
Não foram poucas as vezes em que percebi, em mães com quem encontrei e conversei sobre aleitamento, uma incapacidade de lidar com o sentimento de entrega absoluta, de exclusividade, essa sensação que a gente tem quando o bebê nasce, de ser apenas “um par de peitos” por alguns meses, e nada mais.
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Porque não tem jeito. O pai pode ser super presente e ajudar pra caramba, a avó pode quebrar um galho aqui e ali, a gente pode contratar uma babá pra dar conta de uma porção de coisas, mas na hora de mamar, a resposta é uma só: você. É você que seu bebê vai querer, e ninguém mais. E nem será só nas horas de fome. Quando ele se sentir inseguro, desconfortável, assustado, angustiado, é o peito da mamãe que ele vai buscar. É o seu aconchego, o seu acalanto, o toque das suas mãos. Outro não vai servir.
Nesses meus pouco menos de cinco anos de caminhada materna, em tantas conversas com mães, em tantas rodas de bate-papo, em tantas discussões em listas, encontros, sites, tenho percebido que, para muitas mulheres, esse sentimento de dedicação exclusiva, essa dependência do bebê aleitado exclusivamente é incômoda, angustiante, quase desesperadora. E quando não se sabe lidar com ela, uma mamadeira ao alcance das mãos, que permitirá que outros dêem ao seu bebê o conforto que ele esperava ter de você, pode parecer um enorme alívio.
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Para quem se sente desconfortável com essa entrega tão absoluta e inevitável, passar seis meses estabelecendo uma conexão tão intensa com uma pessoinha tão dependente, permitindo que essa ligação tão inteira se fortaleça, parece algo inacreditável, inaceitável. Uma privação imensa, sem que a gente nem saiba direito de quê.
E aparecem as inseguranças, os questionamentos. Eu vou dar conta? Sem ninguém pra me ajudar? Como posso fazer isso sozinha? E se eu não conseguir?
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É nessa hora que muitas e muitas mulheres não pagam para ver a resposta para essas perguntas. Não se permitem ir adiante e descobrir a própria força, reinventar os próprios limites. Perdem a oportunidade de descobrir que podiam muito mais do que jamais ousaram imaginar.
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Pra mim, amamentar nunca foi privação de nada. Nunca foi peso, sacrifício. Pelo contrário. Sempre foi delícia, prazer, alegria. Sempre me colocou um sorriso no rosto. Sempre, mesmo nas dificuldades – que com as primeiras filhas, não foram poucas. Sempre, porque a cada dia com aquelas boquinhas grudadas no meu peito, eu sabia que ganhava de presente uma nova oportunidade de me reinventar. De renascer. De me entregar ao maior amor que se pode sentir.
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Sim, depende só da gente. E o peso da responsabilidade pode ser grande. Imenso. No fundo, depende só de como a gente encara. Porque não tem ninguém a quem a gente possa pedir ajuda na hora do aperto. Mas isso pode ser muito, muito bom. Uma oportunidade de crescer, amadurecer, melhorar.
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Eu, com bebezinho pequeno em casa – e por pequeno não estou dizendo só até seis meses, porque essa entrega tão inteira não acaba com o fim do aleitamento exclusivo - , aceito sem sofrimento a idéia de que não sou prioridade. Por algum tempo, não vou sair sozinha, nem com o maridão, sem filhote a tiracolo. Não vou nem à padaria da esquina sem carregar a cria comigo.
São meses e meses de dedicação integral, mesmo. Sem sofrimento, sem angústia. Uma entrega natural, tão fluida e instintiva quando o meu amor de mãe. Meses e meses em que estou sempre carregando aquele pesinho nos ombros, sempre atenta ao primeiro sinal de fome ou vontade de aconchego, sempre pensando se a blusa que coloco permite colocar o peito de fora com facilidade, sempre pronta para parar tudo e pendurar a bebê no peito, seja onde for. Sem distinção de hora, sem escolher o lugar.
E mesmo correndo o risco de parecer levemente insana, vou confessar: hoje, com a Chiara fissuradona no peito, como é muito justo que ela seja, do alto de seus dois meses de vida, já sinto saudades, porque sei que vai passar rápido demais. Antes que eu perceba, ela estará dando seus passinhos independentes, ganhando mundo, como suas irmãs fazem hoje, depois de terem desmamado naturalmente, sem sofrimento, sem pressão, apenas porque era chegada a hora.
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Então, eu aproveito enquanto posso. Ter ela penduradinha comigo. Ser tudo que ela precisa na hora que aperta a fome, a insegurança, a angústia, a solidão.
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E aproveito assim, do único jeito que sei. Curtindo cada minutinho. Entregue, inteira. E com um amor imenso no coração.
Imagens: http://racheldacosta.wordpress.com/2009/06/20/seminario-sobre-o-tema-da-smam-2009/ e arquivo pessoal (Ana Luz, Estrela e Chiara mamando)
9 comentários:
Tata, que texto lindo! E as fotos também, adorei ver você amamentando as gêmeas, que ginástica!
Acho que você tocou no ponto exato, a entrega total que amamentar exclusivamente requer e como isso assusta ou angustia tantas mulheres. Meu Chico está com quase onze meses e ainda mama muito, diria que quase exclusivamente ainda, já que não quer saber muito de comida ainda. Confesso que no início aceitar essa entrega, esse desprendimento que amamentar exige não foi muito fácil. Não tive nehum problema "técnico" para amamentar, mas me angustiava um pouco essa dependência completa, essa divisão aparentemente "injusta" do trabalho de mãe e pai (e olha que meu marido é super presente!). Mas devagarinho, a recompensa de ver meu filhote crescendo forte, saudável, tranquilo e carinhoso, pendurado no meu peito dia e noite se mostrou incível. Hoje amo amamentar, acho que foi ( e ainda é) fundamental para que eu me tornasse mãe, me ensinou a ser mais paciente e mais presente em cada momento da vida do Chico, da minha vida. Simplesmente não consigo me imaginar sendo mãe sem amamentar. Grande beijo!
Amei seu texto e o comentário da Lúcia acima. Confesso que estava estranhando vocês não terem postado durante a SMAM, fiquei feliz de ver seu texto (já linkei a blogagem de vocês lá no meu blog, tá? fiz uma pequena compilação de vários blogs que estão participando da SMAM).
Encaro a amamentação da mesma forma que você. Até hoje, meu filhote com 1 ano e 4 meses, não consigo passar um dia inteiro longe dele, não fiz uma viagem sozinha, é o meu delicioso "carrapatinho"... hehe... Mas não por isso ele deixe de ganhar mundo, de ser super dado, independente na medida que um bebê dessa idade pode ser: mas quando a coisa aperta, ele sabe que os peitones e o aconchego da mamãe estão ali. A entrega continua, ainda, sempre.
Mais uma vez parabéns pelo texto, me identifico muito com sua forma de encarar a maternidade. (e não te achei insana não, também já sentia saudades desde que o Caio ere pequetitico... coisa de mãe!)
beijo (desculpe o comentário gigante!)
Lindíssimo seu relato! Tenho uma imensa admiração ao ler sua força e amor ao se dedicar tão lindamente à amamentação.
Quando eu for mãe, já tenho certeza absoluta de que quero e muito amamentar meu filhote; e isso (querer e ver o copo meio cheio) já é meio caminho andado pra chegar lá! Eu penso assim ...
Só tenho medo da parte "física" sabe, não ter leite, bicos rachados, invertidos, pega incorreta; a parte psicológica já está prontinha, e quanto à parte física vou fazer tudo que estiver ao meu alcance pra me preparar e me informar muito, pra já praticar esse gesto de amor no primeiro minuto de vida de meu filhote!!
Lindas as fotos! Você é um grande exemplo pra mim, Tata!
Beijos
Lindo post! Sensível e lúcido na medida exata.
Pois é, essa entrega é o grande "truque" da amamentação vitoriosa. Com ela tudo flui, tudo acontece expontaneamente,e até mesmo os probleminhas técnicos que porventura venham a surgir são superados tranquilamente.
Sem ela, por vezes, mesmo as melhores intenções entravam num bico rachado, numa pega incorreta e acabam numa mamadeira de fórmula.
E faço coro contigo, quem não se doa incondionalmente, não esquece um pouco de si para mergulhar naquele pequeno ser, não se permite recolher para que o outro seja pleno está perdendo a melhor oportunidade de sentir a mais poderosa e exlclusivamente feminina sensação. Amamentar para mim é algo natural não tem como deixar de acontecer, é só a gente se permitir e permitir a natureza de seguir suas etapas.
Fico emocionada a cada texto que leio da Renata.
Rê você é uma mulher incrível, uma mãe admirável. Você consegue passar um sentimento intenso com palavras lindas e acolhedoras. Você transmite com maestria a magia de ser mãe como ninguém. Lindas fotos, lindo texto.
Olha Rê, nunca tinha pensado por esse angulo, dessa angustia que algumas mulheres sentem... Nunquinha mesmo! hahaha
Eu tenho o bico invertido, foi muito difícil amamentar mas em momento algum eu me senti angustiada dessa forma, achar que era "injusto", que era entrega demais, etc. Sempre me imaginei amamentando até enquanto a Bruna quisesse e não ter conseguido prolongar foi a maior decepção que tive como mãe, mulher, enfim...
É claro que sofri muito com a pressão do marido, mãe e pediatra e ver que ao tentar mamar minha filha sugava, sugava e só chorava cada vez mais, ficava super irritada, isso sim me corroeu por dentro, não ser capaz.
Com esse proximinho o médico me ensinou alguns exercicios pra tentar amenizar essa "inversão", e faço muito todos os dias pra que consiga amamentar o bebê 2.
Ótimo post!
beijos!
que lindas! bjs
Lindo texto e muito importante para qualquer mãe que amamenta/planeja amamentar. Eu tenho um bebê de dois meses e, apesar de ter me preparado muito "tecnicamente", não tinha idéia da doação e da transformação que amamentar implica na nossa vida, no nosso corpo e na nossa cabeça. Eu estou cuidando do meu filho sozinha, nos Estados Unidos, então, estamos juntos o tempo todo, literalmente. Já me questionei sobre a minha capacidade de levar isso adiante, com amamentação exclusiva. Seu texto me encheu de luz e energia para “pagar para ver”, como você tão perfeitamente escreveu.
Obrigada,
Nathalia
Lucia, bacana teu depoimento! realmente vê-los crescendo fortes e saudáveis é o melhor presente do mundo... mas sabe que acho engraçado essa idéia da divisão "injusta" do trabalho entre pai e mãe? pq confesso q sempre tive uma certa pena dos papais, que não conhecem essa sensação maravilhosa da gestação, do parto e da amamentação... acho uma das melhores coisas de ser bicho-fêmea! :-)
Thais, acho q é bem isso mesmo: a segurança que eles têm para se libertar e caminhar independentes, no tempo deles, é diretamente proporcional ao aconchego, ao tanto que permitimos que fossem dependentes enquanto precisaram...
Natália, acho bárbara essa sua super empolgação e disponibilidade para a maternidade. e não encane com possíveis problemas não, dificuldades acontecem com algumas mulheres sim, mas a gente supera. a vontade eu acho que é o principal, e isso você tem. não ter leite é uma sentença meio traiçoeira, tirando questões físicas que dificultam, mas que são minoria, toda mulher tem leite suficiente para alimentar seu bb. a pega, você e o seu bebê vão ajeitando. o mamilo, mesmo que rache (os meus racharam, com as primeiras filhas), saram. enfim, tudo se contorna, quando a gente tá disposto a isso.
Márcia, brigadão pelo carinho, flor!
Cacau, acho que o principal é você olhar pra trás e entender o que podia ter sido diferente, e melhorar com isso. é o que te vejo fazendo, a cada passo. parabéns pela maturidade e pela coragem de se reavaliar, sempre.
Si, beijão, saudades!
Oi Nathalia, fico feliz que meu texto tenha te trazido uma energia tão boa, a idéia é sempre essa mesmo! força aí!
bjocas, meninas!!
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