Neste final de semana fiz um curso maravilhoso chamado Yoga com Histórias. Nele, foi destacado pelo professor João Soares a importância dos contos de fadas para a cura psíquica das crianças.
Quando criança, nunca me contaram histórias. Com uns 7 anos ganhei aqueles Vinis coloridos de histórias clássicas como chapeuzinho vermelho, os três porquinhos, pinóquio, branca de neve. Eu passava horas mergulhada naquela fantasia incrível de bruxas, mostros, florestas.
Uma história que particularmente me chamava atenção: pinóquio. Isso porque tinha uma mente muito imaginativa e abusava da possibilidade de criar e transformar em realidade minha fantasia. Na linguagem adulta era uma menina mentirosa. Através daquela história pude compreender que só seria capaz de me "transformar em uma menina de verdade", se deixasse de mentir. Havia também esta busca por me tornar uma menina de verdade, para ser aceita.
João Soares, que trabalha com crianças carentes de favelas de São Paulo, conta que todas elas amam a história de João e Maria. É fácil entender porque: muitas delas precisam, através da narrativa, elaborar o sentimento de abandono. Mas este sentimento é comum a todas as crianças, porque, uma vez ou outra, vão lidar com o medo de estarem longe dos pais, em uma floresta escura.
A partir dos 3 anos as crianças se mostram bastante interessadas nas histórias. Elas projetam todos os seus medos e sentimentos que acreditam ser inadequados na figura do Lobo Mau, Bicho-papão. Já a face da bruxa e madrasta ajuda a compreender a própria mãe quando esta deixa de ser boa, para tomar uma atitude mais enérgica, por exemplo.
É importante conhecer a história anteriormente e de preferência contar sem o livro nas mãos, olhando bem fundo nos olhos da criança. É uma possibilidade de soltar a imaginação dando vozes aos personagens. As gravuras podem agradar as crianças, mas retiram a possibilidade delas construirem em suas imaginações a figura dos personagens. Para crianças de 3 a 10 anos, é importante não mudar em nada a história. A repetição é fundamental para que elas elaborem seus sentimentos. e prepare-se para contar a mesma história muitas vezes. E conte "di novo", até que os pequenos peçam por uma nova história.
E também não vale mudar o fim da história para torná-la politicamente correta. Quando o lobo-mau ou a bruxa morre na história, são os medos mais profundos e nãos expressos dos pequenos que morrem com eles. Isso faz com que "surja" uma cura psicológica. Deixe sua criança interior aflorar e mergulhar nestas lindas histórias. Elas são remédio, trabalham questões importantes, como a diferença do Patinho feio; o abandono de João e Maria; o esforço recompensado dos Três Porquinhos.
Para crianças mais velhas, a partir dos 11 anos, as histórias mais elaboradas como os mitos indianos e da mitologia Grega podem ajudar a lidar com questões que surgem nesta época, como o conflito com os pais, o nascimento de um herói. Outra dica importante é escolher contos, mitos e histórias que tragam valores embutidos, como a não-violência, a cooperação, altruísmo. Mas evite "dar lições de morais", porque esta atitude pode minar o efeito da história.
Escolha contos "clássicos", sem modernidades, porque eles trazem um reflexo da psiquê mais pura. Na cultura Sulfi, quando uma pessoa costumava "enlouquecer", o tratamento recomendado era ouvir histórias para que pudesse recobrar sua "sobriedade". Por isso se seu temor é que com contos de fadas as crianças habitem apenas o mundo da fantasia, saiba que na realidade estas histórias ajudarão os pequenos a lidar com os sentimentos na vida real.
Na era tecnológica em que as histórias parecem reaiss e são projetadas em imagens prontas numa caixa preta, a possibilidade de estimular a imaginação é um retrocesso necessário e mamífero.
E você, costumava ouvir contos de fadas? Qual marcou sua infãncia? E seus filhos? Qual a história preferida deles?
Para saber mais:
Psicanálise dos Contos de Fadas, de Bruno Bettelheim
Imagem: http://4.bp.blogspot.com/
7 comentários:
Oi, Kalu!
A história que mais me marcava era a dos 3 Porquinhos, isso porque - quando pequeno - éramos apenas em 03 (eu e mais dois irmãos mais velhos).
Sempre procurei desenhos em que formavam trio, eles tb. Power Rangers e afins onde a turma era de 05 pessoas complicava a imaginação, pq p/ identificar um personagem ele tinha de estar lá.
Limitação da imaginação? Sim, claro, mas isso porque a minha casa era rodeada por ceticismo de manhã à noite, então pouca coisa saía para fora e viajava livremente.
Acabei desenvolvendo uma imaginação "particular", que levei anos para dissolvê-la: na minha imaginação havia esse mundo lindo onde acontecia o que eu quisesse, e muitas vezes fugia para lá quando algo na realidade não corria conforme eu gostaria.
Creio que meus irmãos foram muito bons na formação da minha personalidade e compreensão do mundo, mas eles mesmo tinham suas próprias limitações.
Eu nunca entendia o porquê da bruxa derreter, mas eu sabia exatamente porque o lobo enorme e gigante assombrava os três porcos pequenos e inofensivos: abuso de poder. Eu apanhava na escola quando pequeno. =P
Um grande abraço e parabéns pelo post. Adorei.
Victor Samuel Bueno Rosa.
Oi, Kalu!
Achei o post muito precioso. Minha Alice está entrando nessa fase. Ela tem um ano e nove meses e já prefere as historinhas às cançoes antes de dormir. Ela adora João e Maria. Fico preocupada em provocar medo nela, afinal é pequenininha, mas vc esclareceu bem que isso ajuda a formá-la. Procuro não deixar o final bonito, mas contar os contos como eles são. Vc acha que isso não interfere negativamente na auto-estima da Alice? Obrigada pelo texto!
Lívia
Há outros dois livros muito interessantes sbre ess assunto:
PEDAGOGIA DO AMOR, Gabriel Chalita e A ANSIEDADE E FORMAS DE LIDAR COM ELA NOS CONTOS DE FADA, Verena Kast (apesar do nome, não é auto-ajuda).
Adorei o post!
Beijos
Obrigada por todos os comentários. Victor, a Bruxa, o Lobo eles personificam nossos medos que precisam morrer para fazer florescer a coragem. Se você apanhava na escola talevez sentisse medo que se projetava no lobo.
Livia, as histórias não devem ser mudadas e certamente não vão interferir de maneira negativa na formação da sua filhota.
Carla, obrigada pela sugestão de leitura.
Oi Kalu!
Meu filhote Uriel adora livros! Tá sempre arrastando um pela casa. :)
Mas quando começo a ler ele vira a página antes de eu terminar, puxa o livro, fecha... ai, não consigo! Aí eu partia pras músicas, outra paixão do pequeno.
Música cantada, bebê quietinho a favorita dele é essa http://www.youtube.com/watch?v=rd-RA81bW6c)... mas confesso não ter caprichado muito na hora de ler historinhas. Talvez inventado, sem a presença de um livro surta mais efeito, né?!
Valeu pelo post! Adorei!
Ahhh, e a história que mais me marcou quando eu era criança foi "o pequeno príncipe". Minha mãe sempre lia pra mim e pros meus irmãos.
E também ADORO o Peter Pan... a idéia de nunca deixar de ser criança, ahh *suspiro*... ;)
Beijinhos
Lívia do Uriel (pulante e caminhante)
Meus pais e avós sempre me contavam histórias, das mais diversas. Eu adorava Cinderela, João e Maria, Pedro e o Lobo, o Cão e a Raposa e Bambi.
Agora, desde cedo (bem cedo mesmo, desde o barrigão) eu conto histórias pra minha filha e as que ela mais gosta são Branca de Neve, Pinóquio, Peter Pan e Bambi. E isso que ela tem 1 ano e 5 meses hehehehe.
Adorei o site Yoga com Histórias! Aqui em casa a minha filha já esta alfabetizada e nos intercalamos: um dia eu conto no outro ela conta. Adora historinhas de animais e fadas.
Postar um comentário