por: Tata
Na minha infância, eu assistia desenho. Não, eu não fui uma criança 'bitolada', brinquei muito na rua, ao ar livre, de boneca, queimada, bicicleta, fantasiei muito, inventei o que podia e o que não. Mas também são lembranças gostosas desse tempo as tardes na frente da televisão assistindo nossos desenhos favoritos - por 'nossos', entenda-se meus e do meu irmão mais velho. Corrida Maluca, Pica-Pau, Caverna do Dragão, Zé Colméia, He-Man. Ai, nostalgia...
Hoje, sempre que vejo uma discussão a respeito do efeito dos desenhos na vida das crianças, eu me lembro dessas tardes. Da delícia de perceber que começava um episódio que nunca tínhamos visto. Da expectativa de imaginar como se desenrolaria uma situação complicada. Do riso franco com as trapalhadas dos personagens.
Pra mim, quando criança, o desenho não era uma experiência passiva. Pelo contrário. Era mais um convite à fantasia, entre tantos que encontrávamos nas esquinas do cotidiano. Até hoje guardo comigo a lembrança das tardes que passávamos - eu e meu irmão - brincando de "Changeman", um desenho japonês de gosto duvidoso. Bem, ok, era trash. Mas como a gente se divertia, revivendo as peripécias das personagens que escolhíamos para representar.
Tudo bem, uma coisa é usar a TV como babá eletrônica, largando a criança lá por horas, só para mantê-la quietinha enquanto você se ocupa com outras coisas. A idade da criança também faz toda a diferença, afinal essa febre de dvds 'educativos' para bebês e crianças bem pequenas é realmente uma lástima. Mas eu não acho que a TV seja a vilã absoluta. Acho que tudo depende da forma como a gente se utiliza dela, no dia-a-dia.
Eu, como já disse, vi bastante desenho quando criança. E apesar disso (!!), considero-me uma pessoa razoavelmente culta (rs), tenho uma postura crítica diante do que vejo, ouço, leio. Acima de tudo, curto um bom cinema, um filme "cabeça", coisas que me façam pensar, refletir, questionar. Mas não vou negar que gosto de ter meus momentos pra "descansar os neurônios". No meu caso, faço isso vendo seriados americanos bobos na TV a cabo. Pronto, confessei.
Pois bem. É essa mesma postura equilibrada, nem tanto lá nem tanto cá, que eu mesma tenho quando o assunto é TV, que eu procuro ter com as meninas também. Não as impeço de ver desenho. Mas seleciono muito bem o que elas vêem. Aqui em casa, desenho é sempre de DVD, para evitar o excesso de propagandas e estímulo ao consumismo que assola a programação televisiva, seja dos canais abertos ou pagos. Mas aqueles que a gente sabe que são bacanas, divertidos, enfim, entretenimento de qualidade, a gente deixa ver, sim. Não é todo dia, nem horas e horas seguidas, mas de vez em quando pode. E vira e mexe, a gente até se diverte vendo junto com elas. Outro dia mesmo, ficamos os quatro - a Kiki ainda não tinha nascido! - nos divertindo com as idas e vindas do ogro Shrek e da princesa Fiona, no primeiro desenho da série.
A idade também é um ponto importante. As meninas, quando bebês, não viam TV. E quando começaram a ver, já maiorzinhas, no começo era sempre com um de nós do lado, conversando sobre o que estava acontecendo na telinha, fazendo com que o programa fosse também uma oportunidade de interação. E como são duas, essa interação é mais bacana ainda, porque elas conversam, perguntam as coisas uma pra outra, comentam, fazem piada do que vêem na tela e riem juntas, um barato.
Hoje, eu já vejo os frutos dessa atitude. Para elas, os desenhos servem também como uma porta aberta para a fantasia. Elas reinventam as personagens brincando entre si, imitam, redescobrem, modificam, transformam. Outro dia mesmo, peguei as duas na maior folia, imitando um desenho que tinham visto há pouco tempo, o do menininho "Caillou", que elas adoram, e que por sinal é um retrato delicado e singelo do dia-a-dia de um menininho de 4 anos. As personagens, definidíssimas: Teté era o Caillou, Naná era a mãe, e até a Chiara, nossa caçulinha de pouco menos de um mês de vida, tinha entrado na brincadeira: sem se dar conta, interpretava também uma personagem, Rose, a irmãzinha mais nova de Caillou.
E é assim que elas fazem com tudo o que vêem, lêem, escutam: transformam em matéria prima para o lúdico, para a brincadeira, para a fantasia.
Pra nós, esse é o melhor caminho. Aliás, não só a TV, mas é como eu gosto de agir sempre com elas: ao invés de privá-las ou protegê-las das coisas que eu não acho bacanas, mas que fazem parte do mundo em que vivemos, prefiro mostrá-las e apresentar um olhar crítico, ensiná-las a refletir a respeito, a escolher com critério, a saber o que lhes serve e o que não.
E principalmente, ensinar a elas que qualquer experiência pode ser aprendizado. Que tudo o que nos cai nas mãos pode ser transformado. Que o importante, mais do que as coisas, é como a gente olha pra elas.
Imagem: www.gettyimages.com
12 comentários:
É isso aí, Tata! Você disse tudo sem ser extremista. Não podemos protegê-los tanto a ponto de bitolar, mas tb não queremos super expôr, portanto ensiná-los a ter uma postura crítica desde cedo sobre o que eles veem na TV e futuramente sobre o que vão ler, ouvir falar e discutir, fará com que eles assumam por conta própria esta postura mais crítica. Maravilhoso texto!
Sou de uma geração anterior à sua, mas também curti momentos televisivos memoráveis na infância, primeiro em p & b, já que só na adolescência chegou em casa uma tv colorida. Desenhos de Hannah & Barbera, filmes da Disney repetidos à exaustão nos crepúsculos de sábado, sessões da tarde com filmes antigos...
Ah, sim, Vigilante Rodoviário e Nacional Kid, rsss...
Sou mãe temporã, no entanto, e também não sou dada a extremos: se não emburreci tendo este contato com tv, minha filha também há de ter instrumentos para lidar com esse veículo.
Confesso que fui radical com um produto, no entanto: a senhora Meneghel. Sophia só soube que ela existia depois dos cinco anos, através de amigos da escola. Deixei a curiosidade dela fluir, e a opinião veio logo: "não gosto"!
A Bruninha tem acesso a TV, controlado é lógico mas o tem sim. Eu mesma via e também tenho essas recordações, no canal Ra Tim Bum passam muitos programas antigos que é uma delícia ver junto com ela.
Tive que conciliar como babá eletrônica e a deixo ver enquanto cozinho, porque aí ela não fica perto do fogão e como não gosta de ficar sozinha sempre está perto de mim.
Acredito que quando tiver o irmãozinho esse problema diminui mais, mas ela vê no máximo 1 hora de desenho por dia... não acho que é muito e ela também cria muito em cima dos desenhos que vê.
beijos!
Hahahaha, gostei da "senhora Meneghel". Vou adotar o termo!
Achei perfeito o post, tudo a ver com a minha realidade também. Eu cresci com desenhos, assisti Xuxa (Infelizmente! Minha filha de quatro anos não sabe de sua existência, e na escola, por sorte, ainda não apareceu ninguém com a novidade) e, pasmem, programas de auditório que meu pai sempre gostou. Foi uma perda de tempo, hoje não vejo nada disso, incluindo novelas (detesto!), e o caminho do meio é muito saudável.
Uma amiga não deixa os flhos assistirem TV, e quando a gente se reúne, eles praticamente não brincam com as outras crianças, tiram o atraso ficando o tempo todo vidrados na tela.
Beijos em todas.
A Letícia, com 1 ano e meio, assiste alguns desenhos, sempre comigo do lado. Mas ela gosta mais das aberturas que do programa em si. Os que ela mais gosta são Charlie e Lola (que tem DVD), Castelo Rá Tim Bum e Cocoricó. Os outros ela nem liga.
Então, ela vê bem pouco a TV, pq cada dia ela decide o que vai ver: um dia é um desenho, outro dia outro... E nossas atividades continuam: ela me vê cozinhando e me "ajuda"; me ajuda a estender a roupa, a passar aspirador, adora a hora do banho, brincamos, lemos historinhas, montamos os brinquedos de montar, brincamos de casinha. Não a privo de ver TV, mas ela não passa horas seguidas na frente da telinha, muito menos a uso como babá eletrônica. Agora, o que sempre rola em casa são os CDs que ela mesma pede e, se deixo no rádio, ela liga. Então sempre rola Saltimbancos, Arca de Noé, Palavra Cantada, Cantigas de Roda, Casa de Brinquedos... risos.
Aqui em casa só DVD e video, o que mais me espanta na TV atualmente é a publicidade. Não h´´a lei que regulamente a propaganda voltada para criança aqui no Brasil. Existem paises que é proibido propaganda para esse publico. veja esse video sobre o assunto. No youtube "criança, a alma do negocio". Não consegui o link para por aqui, mas vale apena ver!
Aqui em casa a gente não tem TV. Tomamos essa decisão muito antes do Uriel surgir em nossas vidas, e vou contar uma coisa: não faz falta! Lógico que às vezes dá vontade de ver um filminho, e eu adoro ver, aí a gente assiste no computador, já disposto na frente do sofá (que é um puffzão) e com o monitor maior. E é bem bom assim!
Às vezes o Uriel quer ver uma coisinha, fica apontando pro monitor falando "té té té" e aí coloco alguns desenhinhos de +/- 1 minutinho, esses que falei aqui http://fadalin.blogspot.com/search/label/televis%C3%A3o (mais que isso ele não tem paciência).
Muito bom teu post. Assunto bem importante de se tratar. Nós, apesar de não termos tv, também não somos radicais, e é sempre esse caminho que temos que estar trilhando, o do equilíbrio!
Beijinhos
Opa, assino embaixo! Muito parecido com o que rola aqui em casa, aliás!
Outro dia Samuel assistiu pica-pau pela primeira vez... Politicamente incorreto? Talvez? Mas as gargalhadas que ele dava foram impagáveis! E eu lembrava do episódio de quando era criança. Imaginem só quantas vezes já assisti!
Xuxa, xuxa... É, na escola eles acabam conhecendo a moçoila... Fazer o que né? Eu prefiro ignorá-la também. Cresci dançando ilariê e doce mel, sim, mas hoje sei que tem coisa bem melhor pro meu filhote assistir.
Beijocas!
Meninas, muito interessante o tema, mas aqui em casa só filmes em DVD, e bem escolhidos, quase todo dia ele assiste um pouco. Mas EU não gosto dos desenhos que rolam na TV aberta, mesmo os que eu assistia na infância, acho que eles abordam questões políticas manipulativas, portanto prefiro vetar. E TV a cabo não temos, eu acho ótimo porque, ô tentação inútil..... Principalmente para mim que fui criada por babás e ficava a manhã inteira na programação plin plin, acho que perdi um tempo danado que eu podia estar vivendo, aprendendo, descobrindo....
Beijo
Aqui em casa a tv não é conectada à antena, só temos para assistir dvd. Arthur gosta de Cocoricó, mas não fica nem um minuto inteiro em frente à tv, exceto na música de encerramento, que adora ficar fazendo tchau, tchau, tchau.
Como ele fica na casa da minha mãe durante o dia, às vezes minha mãe coloca na Cultura, mas ele não dá bola. Meu pai assiste muito futebol, tanto que se ele pega um controle remoto, aponta para a tv e fala: gol.
Acho que estamos num bom caminho, com a tv sendo algo existente, mas pouquísssimo presente em nossas vidas.
Tata, adorei o texto. Bjs
Meu esposo e eu somos "micromaníacos", então decidimos não assistir à tv diariamente. Claro, temos uma, mas nem sempre é ligada. Quanto ao meu filhinho, eu sou chata, muito chata em relação ao que ele vai assistir, especialmente aos desenhos da tv aberta - na verdade, tecnicamente ele não vê nenhum. Mas ele tem bastantes dvds e sempre pede aquele que tem vontade de ver. Normalmente fazemos isso depois das cinco. Ficamos juntos, às vezes estouramos pipoca e levamos para o sofá. É sempre muito divertido! Entretanto, ele não tem paciência de ficar mais que dez minutos focado em uma só coisa, e eu não acho isso necessariamente ruim. Xuxa? So sorry, mas nesse aspecto eu sou extremista mesmo. O que a Tata sugeriu é o mais adequado: ficar assistindo junto com a criança e conversando sobre o que rola na telinha. Só que nem todas as mães dispõem do tempo indispensável para isso, então, acaba-se tendo que fazer uma seleção mais rigorosa, ao menos enquanto eles são tão pequenos. Penso que, com o passar dos anos, Estêvão vai requerer autonomia para ver os canias abertos e todos os desenhos que hoje eu classifico de impróprios. Nessa ocasião, então, será o momento de conversarmos sobre as formas de encarar as informações que ele vai receber, mas por agora, enquanto ele é tão pequeno, sinto que a seleção tem que ser atenta mesmo, e que caiba aos pais / principais cuidadores orientar isso.
Nada de extremos, mas sempre bom senso! :-)
Concordo com vc, sou tb da geração Pica-pau, caverna do dragão. E adoro chegar na sala no meio do dessenho e ouvir o Antonio fazer uma síntese do que aconteceu até o momento. Significa que ele tá compreendendo o que tá assistindo.
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