por: Tata
Eu não consigo deixar de me surpreender quando vejo alguém falando de indicações de seu médico - seja obstetra, pediatra ou o que for - como se fossem leis absolutas, indicações inquestionáveis, como se médicos fossem infalíveis, e suas indicações, orientações que devemos obedecer sem demora.
Talvez o problema seja comigo, mas eu não vejo assim. Pra mim, um médico tem que ser meu parceiro. Tem que assumir responsabilidades junto comigo, responder minhas dúvidas e me ajudar a buscar informação. Eu não topo médico que acha que sabe tudo, que se sente onisciente e infalível, e que acha que só porque tem um diploma pendurado na parede, merece ser endeusado e ter suas orientações obedecidas cegamente.
É óbvio que um médico estudou anos e anos para exercer sua profissão, e pode te dar uma visão das situações que você não tem. Para isso a gente se consulta. Agora, daí a dizer que o que ele vai te dizer é lei, e que não caberão questionamentos, discussões e até mesmo decisões diferentes do que foi orientado, é outra história, né?
Eu acho que quando a gente encontra um médico bacana, daqueles que topam uma parceria como a que eu falei lá em cima, que te ajudam a se informar e conhecer todas as nuances de cada situação, é que a relação fica bacana, saudável. Porque a gente pode estudar bem cada situação, e decidir com base no que a gente acredita, com consciência e responsabilidade.
Afinal, é disso que se trata a vida adulta: decidir com consciência, assumir responsabilidades. Enquanto a gente aceita a tutela, deixa que decidam por nós, não crescemos de verdade. Amadurecer é tomar as rédeas das nossas vidas em nossas próprias mãos.
Sim, ter alguém que decida por nós pode ser muito mais cômodo, muito menos trabalhoso. É muito mais fácil depositar todo o peso da responsabilidade nas mãos do 'doutor-sabe-tudo'. Mas se em algum momento não rompemos com essa dependência, e não tomamos para si as decisões que nos cabem, não nos desvinculamos nunca do papel de filha, de "boa menina", de mocinha cordata que aceita os bons conselhos e faz o que lhe dizem que deve ser feito.
Eu, como mãe, não aceito que me tutelem. Seja na gravidez, seja no parto, seja no cuidado com minhas filhas. Se não fosse assim, eu teria feito uma cesárea na primeira gestação, quando o obstetra que me acompanhava foi enfático ao afirmar que gêmeos não poderiam nascer de parto normal. Ou teria dado mamadeira para as minhas filhas antes que elas completassem seu primeiro mês de vida, acatando a orientação do primeiro pediatra, que afirmou sem deixar espaço para questionamentos que eu jamais teria leite suficiente para amamentar gêmeas, que elas não ganhariam peso, que passariam fome.
E eu? Eu fui atrás de profissionais que se afinassem comigo, com minhas crenças, com meus desejos. Fui buscar quem assumisse responsabilidades comigo, quem me respeitasse como mãe e mulher, que pensa e decide por si, ao invés de esperar obediência cega.
E não consigo mesmo fazer diferente. Não adianta, que não consigo passar procuração para que decidam por mim. Pode ser mais trabalhoso, mas eu quero pensar por mim mesma, quero decidir e assumir responsabilidades.
Afinal, eu não sou ovelha, não sou gado para ser tangida. Sou gente, e gente pensa.
Bem, pelo menos deveria.
Imagem: www.gettyimages.com
3 comentários:
Felizmente tem gente que pensa! Compartilho essa indignação depois de algo que li hoje, e que curiosamente me choca, talvez por esperar que os "formadores de opinião" do mundo virtual fossem mais instruídos.
Felizmente, mais uma vez, temos, graças à reviravolta cultural que criamos com o advento da internet, espaço para gritar livremente nossas indignações e compartilhar os resultados de nossas pesquisas e experiências vividas a partir delas.
Tudo de bom para você e para a familinha. :)
é. pensar dá trabalho mesmo, gasta tempo e energia. além do mais nenhuma certeza vem pronta. quem topa assumir o incerto?
mas vamos encontrando nossa turma e ali o apoio necessário para não sucumbir a tanta bobagem arrogante que querem nos enfiar guela abaixo.
beijo, lindona!
Ai, Renata, é duro mesmo... Mas cada um com as suas escolhas, né? Beijos!
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