Perdi as contas de quantas vezes já ouvi lamentações de mulheres casadas e com filhos sobre a sobrecarga de tarefas. De fato muitas mulheres, além de estarem no mercado de trabalho, disputando de igual para igual com homens e recebendo salários muito mais baixos, ainda acumulam a tarefa solitária de cuidar da casa e da educação dos filhos.
Em contrapartida, existe muito preconceito com as atitudes ditas femininas e masculinas. Meu filho, por exemplo, adora brincar com bonecas. Um dia uma amiguinha trouxe um desses "nenéns" de plástico e ele logo se apoderou, enquanto ela foi brincar com o cão. Miguel levantou a blusa, deu "mamá", trocou a fralda e deu comida. Ele está demonstrando o cuidado que recebe para com aquele objeto e um dia poderá transformar esta brincadeira em realidade sendo um cuidador presente com seu filho. Ouvi de algumas pessoas:
- Ai, não deixa ele fazer isso. É estimular a homesexualidade.
Que coisa mais absurda. Eu quero que meu filho cresça sabendo que homens e mulheres são iguais, que podem e devem dividir as tarefas da casa e com os filhos sem que isso signifique que ele seja mais ou menos homem. Aliás, acho que homens que são capazes de desenvolver seu feminino de maneira mais plena são muito mais felizes. Da mesma forma que meninas que podem vivenciar este universo dito masculino de jogar bola, empinar pipa, subir e árvores, podem explorar uma faceta interior que será importante para o crescimento.
Aqui em casa esta divisão de papéis não é tão clara. Afinal, meu marido sendo 21 anos mais velho do que eu e tendo morado sozinho desde seus 17 anos, possui maior conhecimento de administração do lar do que eu que sou da geração canguru, que saí de casa com 27 anos para me casar e com poucas aptidões de cuidado com o lar. Miguel presencia um pai que faz compras e sacolão, que ajuda a arrumar a casa, cozinha, quando precisa.
Miguel gosta de brincar de fazer "comidinha". Foi quando cogitei comprar um kit de panelinhas para ele e fui criticada em minha família. Eu, sinceramente, não vejo mal algum nisso. Afinal, homens deveriam ajudar suas companheiras na cozinha, o que faria desta atividade algo muito mais prazeroso. Miguel ainda não ganhou este presente porque não achei nada que fosse um pouco mais ecológico.
Eu também tenho horror de meninas criadas como verdadeiras princesinhas: emperiquitadas, com festinhas em que vestem uma roupa e na hora do parabéns aparecem em vestimentas de princesas, presas em sapatos altos. Claro que cada menina terá sua vaidade. Mas criança tem que ser criança, seja menino ou menina, com direito a estar com a roupa sujinha de tanto brincar
No mais, procuro estimular que meu filho guarde suas coisas, que ajude a empregada a varrer, arrumar a cama, lavar o quintal E no meio destas tarefas ele descobre a alegria de ser inteiro, sem julgamentos. Ele cuida de seus bichinhos de pelúcia como seus "filhinhos", joga bola, ajuda a mamãe e o papai na cozinha, experimentando muitas facetas do seu ser.
Eu acho que cada mãe e pai deste planeta tem uma brilhante possibilidade: a de criar pessoas com menos preconceito, mais harmonia, leveza e consciência. Este é um grande legado para o planeta.
Imagem: www.gettyimages.com.br
10 comentários:
Kalu,
Concordo com a sua visão sobre o que fazer com os seus filhos: deixá-los livres para sentir a vida é algo que poucos pais sabem fazer. Eu, por exemplo, não tive tanta sorte como seu filho esta tendo agora, e por isso fico feliz que você seja atenciosa e cuidadosa com os interesses dele - o contrário de várias pessoas que opinam sobre o que você "acharia que talvez pudesse algum dia ser talvez quem sabe" melhor pra ele.
Mas uma coisa é certa: derrubar preconceitos não é fácil e não é tarefa de uma única pessoa, mas você esta fazendo a sua parte. Lembre-se de que é mais fácil para as pessoas entenderem que tais preconceitos são Preconceitos mesmo se eles entenderem isso por si só, senão será uma briga exaustiva para tentar explicar que "não é uma boneca que fará seu filho falar fino", entre outras besteiras.
Continue assim: firme e forte pelo seu filho, sempre pensando no que é bom para ele, e não o que os outros acham que é o ideal para ele.
Abraços,
Victor Samuel Bueno Rosa.
O Ravi tb adora brincar de comidinha!!!
Eu dou para ele uma panela de verdade, macarrão e outras coisas que não fazem muita bagunça, uma fofura...
Ele tb já deu mamá para uma bonequinha...haha!
Eu ouvi um monte de besteiras quando o sam quis ganhar uma pia de dia das crianças, mas é óbvio que nem liguei, e ele ganhou a pia dele...
Carol Flor, Sam tbm já deu mamá pra bichinhos dele, eles repetem o que vivenciam mesmo...
Sam, querido, que bom vc vir aqui comentar no nosso bloguinho, fiquei feliz demais... Big beijo!
Olha Kalu, sei exatamente o que é viver esse preconceito bobo. A família do pai da minha filha é evangélica, daquelas hiper bitoladas e machistas...tanto que ele mesmo não sabe lavar um copo! Depende da mulherada pra tudo.
Há um tempo atrás minha filha pediu um caminhãozinho e minha mãe deu. Ela passou semanas puxando ele pra lá e pra cá, enchia a caçamba de brinquedos e eles enchiam minha cabeça de criticas! Dizendo que ela ia virar sapatão, que menina tem que brincar só de boneca... eu até tentava argumentar mas muitas vezes desistia sem sucesso. O próprio pai dela me questionou e eu perguntei "se um dia ela quiser ter um caminhão, não vai poder pq é mulher?" ele sabe bem como eu sou...
Enfim, e que medo todo é esse de estimular a homossexualidade? Porque esse preconceito tão gigantesco com tudo? Essa cabeça entrevada?
Depois veio o priminho da Bruna, que ficou apaixonado pelas bonecas dela quando tinha 8 meses e a galera dá-lhe falando mil coisas. Eu já irritadíssima com a história, fui bem mal-educada e soltei: "vocês acham que quando ele segura essa boneca ele pensa:'que vontade de ser gay!!!!'", o pessoal me olhou impressionado mas por hora funcionou, pra mim ninguém fala mais nada... hahahaha
Muito bom o post!
beijos!
Adorei o texto!!!
Um novo maculino só será possível se nós os educarmos de forma diferente. Muitos beijossss
Muito legal este tema!!!
Tenho filhas, mas sempre tive a convicção que se tivesse filho o educaria de uma forma diferente da que fui educada. Fico irritada quando vejo amigas minhas mães de meninos incentivando comportamentos que elas gostariam que seus maridos não tivessem, ou desestimulando outros, que queriam que tivessem, ou seja, não percebem que continuam formando homens como antigamente e depois as noras e netos que sofram?!?
Santa ignorância!!!!
Bjs
Nossa, esse texto caiu do céu, estava conversando com minha prima exatamente sobre isso. Sou totalmente de acordo que crianças sejam educadas de maneira igualitária sem essa teoria de "coisa de menino" e "coisa de menina". Apesar de morar numa cidade visto como "atrasada" fui criada brincando de boneca com os meninOs da rua, jogando bola, bolda de gude, carrinho, era tudo uma mistura muito saudável e sem nenhuma conotação sexual, a maldade está nos olhos de quem vê.
Não acredito que um brinquedo faça seu filho virar homo ou hetero, e mesmo que faça que mal há? Se amamos alguém, é pelo o que a pessoa é e não por sua opção sexual, ou pior ainda possivel opção sexual.
Seria bom que os olhores tortos não existissem e que as pessoas tomasse ciência do que é amar.
Olá!
Ahh, é verdade mesmo, esses preconceitos são tão bobos!!!
Depois fica um monte de esposas reclamando que seus maridos não fazem nada em casa, que não ajudam... mas também pudera, quando crianças só podiam brincar de bola e "coisas de meninos"... assim cria-se maridos que não sabem nem arrumar a cama, pais que não sabem pegar um bebê no colo, etc.
Como mães de meninos temos essa chave na mão... e as mães de meninas também! Não criam suas filhas submissas...
Muito bom o texto. Meu filho adora vassouras, e sempre digo "tomara que continue adorando quando crescer, pq aí ajuda a mamãe e a esposa" hehehehe...
Ahh, Kalu, esse site (http://www.bohney.com.br/) tem brinquedos de madeira muito legais, de repente tem o que procuras para o Miguel!
Beijinhos
Lívia mamãe do Uriel
Super apoiada. Minha filha AMA brincar de carrinhos e ganhou um de Natal da avó. achei o máximo. Assim como, se tiver um filho, vou incentivá-lo a brincar com os brinquedos que desejar, além, é claro, de ajudar nas tarefas domésticas. Assim terei uma filha qudirigirá muito bem e um filho que fará as coisas da casa tanto quanto eu, o pai dele, a irmã e a futura mulher.
Oi Kalu,
Sabe que eu sempre tive muito medo de ser mãe de menino, pois sempre achei uma responsabilidade tremenda esta criação. E também sofro pacas com a Isadora que está no auge de sua vaidade, "peruices" e tudo o mais e não tem jeito, há coisas que são dela e pronto, tenho que adminitrar. Mas, me preocupo demais com esta criação do Pietro. Ele, como todo irmão, já adora as bonecas da Isa, panelinhas e não vejo, e pretendo não ver, problema algum nisto. Ele também dorme com lençóis e fronha rosa, herdados da irmã, quero que estas coisas não signifiquem nada, sabe... Mas, voltando, acho muita responsabilidade educar menino, não quero reproduzir coisas que critico tanto... Vamos ver o que consigo!
Deborah
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