por: Tata
Ultimamente, parece ter surgido uma nova categoria de filhos: os "filhos-status".
Pra quem nem desconfia do que se trata o termo, explico: os "filhos-status" são aqueles filhos que, para os pais, parecem ter vindo ao mundo com uma 'utilidade' bem definida: ajudá-los a demonstrar o que têm, o que podem, o que fazem.
Os 'filhos-status' são aqueles cujos pais trabalham enlouquecidamente, ou têm milhares de outros compromissos, todos absolutamente inadiáveis, e mal passam uma hora diária com os filhotes, mas pagam a melhor escola do bairro (leia-se a mais cara - um 'pai/mãe' de um 'filho-status' escolhe a escola do filho pelo valor da mensalidade, e não pelo projeto pedagógico), e os levam diariamente para lá no carro do ano, sempre brilhando. São aqueles cujos pais mal os vêem durante a semana, e no final de semana levam a babá a tiracolo, devidamente vestida de branco, para o restaurante, o shopping, ou seja lá qual tenha sido o passeio escolhido para exibir a 'plenitude familiar'. São aqueles cujos pais não têm tempo para ir a um parque, brincar na areia, empurrar no balanço, mas gastam os tubos para fazer a festa de aniversário mais chique, mais ostensiva e mais chamativa do grupinho de amigos.
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Os 'filhos-status' são aqueles cujos pais não lhes lêem historinhas, não sentam no chão para desenhar junto, nem mesmo sabem os hábitos dos filhos, de tão pouco tempo que passam com eles, mas na hora de 'apresentá-los à sociedade' (leia-se levar a festas ou quaisquer outro tipo de eventos em que se vá com as crianças), não hesitam em 'brincar de boneca', e fazer com que o rebento esteja impecável, com a roupa da grife xyz tinindo de nova, o sapatinho brilhando, o cabelo arrumadinho, praticamente uma estátua de cera, perfeitinha e intocável, pronta para ser exibida por aí, feito troféu.
Os 'filhos status' são aqueles cujos pais estão sempre dizendo, nas rodinhas de amigos, especialmente quando conversam com pais de outras crianças: "meu filho faz xyz desde os 3 anos!!!", "meu filho já sabe fazer isso, isso e aquilo!!", "meu filho é o melhor da classe em não-sei-o-quê!!". A maioria dessas informações lhes chegou aos ouvidos por terceiros, porque acompanhar o desenvolvimento e as descobertas da criança que é bom, não lhes interessa. Em relação à criança, seu grande prazer é demonstrar, exibir, ostentar.
Eu já perdi a conta de quantos 'filhos-status' já vi por aí. Uma infinidade de pais e mães que estão mais preocupados em comprar os brinquedos mais caros e em levar as crianças à Disney uma vez por ano, do que em conhecer os próprios filhos, passar tempo junto, dividir momentos, criar boas experiências e lembranças gostosas.
Fico sempre surpresa pela imensa inversão de valores. Um filho deveria vir ao mundo justamente para mostrar-nos a verdadeira importância das coisas. Para lembrar-nos de que os grandes milagres estão nos pequenos detalhes. Que a felicidade é algo muito mais simples, e que o que a gente precisa mesmo para ser feliz não tem nada a ver com valores, preços ou demonstrações do que se tem, ou do que se pode.
O brilho sincero no olhar de um filho, ao contemplar uma borboleta voando, ou uma formiga carregando persistentemente uma folhinha esverdeada, não custa nada. Um sorriso franco em meio a uma brincadeira sem maiores pretensões, também não. Tampouco custa qualquer coisa a alegria imensa de ver um filhote dando seus primeiros passos, falando suas primeiras palavras, aprendendo a fazer algo que antes não fazia, dizendo alguma coisa curiosa ou engraçada, descobrindo o mundo, crescendo, aprendendo a existir.
Maternidade não é ter, não é poder, não é exibir. Maternidade é ser. É entrega, é inteireza.
Maternidade não tem nada a ver com dar. Mas com doar. E doar, a gente doa de si, e não das coisas que se pode comprar, ou pagar.
E quando num final de tarde ensolarado, eu vejo minhas meninas descabeladas, com as roupinhas amarfanhadas, brincando contentes com pedacinhos de papel picado, ou bonequinhas de pano sem grife nem valor econômico, mas com um charme todo irresistível, penso que esse mundo está todo errado.
Bem, ou ele, ou eu.
Imagem recebida por email, sem crédito.
9 comentários:
Eu costumo usar a expressão "filho-biblô", mas é a mesma coisa.Infelizmente essa é a realidade do nosso tempo.
Infelizmente são filhos dos dias de hoje!
Re, e num "dia" como o de hoje, o "dia das mães" onde na maioria das reuniões familiares mostra-se o que se ganhou de mais caro, eu penso: pombas, pq esses pais tem filhos então? a maioria deles se incomoda com um choro, ou com uma birra, ou com a criança que não quer trocar a fralda, e dormem até tarde depois de uma night de cerveja com os amigos onde a babá ficou em casa e vai ficar até tarde do dia com a criança. E crescem menininhos cheios de valentia e "poder", clamando pela atenção dos seus "pais". Tá tudo errado mesmo!!
Re, como sempre, arrasando...
Um pouco disso eu gosto, que são as festas que EU me realizo e alguns passeios...
Mas sabe o que eu sempre me policio? Em participar sempre da vida dele e de corpo e alma...
BEIJOSSS COM SAUDADES E FELIZ DIA DAS MÃES...
êêêê, conheci a Rê! :o))) (q massa!)
Esse ácido-sensível texto me fez lembrar quando eu era estagiária em uma escola super-ultra-chique na época da minha faculdade....são muitas histórias, daria um livro sobre os filhos-status, e o que mais me fazia refletir todo dia quando ia embora era: porque eu muitas vezes sinto pena dessas crianças daqui? Já que estão numa escola 5 estrelas?
FELIZ DIA DAS MÃES
Mari (mãe com filhote na barriga)
Incrível esse texto. Acho muito triste a realidade, mas infelizmente é o que mais vemos atualmente. Triste para os filhos que crescem sem pais e muito triste para os pais, que nunca sequer saberão do que estão abrindo mão, do quão incrível é a experiência e do quanto temos a aprender com os pequenos.
Parabéns pelo texto e feliz dia das mães.
beijos
Parabéns pelo texto e pela sua visão!
Concordo a 100%, eu tb vejo muitos pais desses por aqui e lamento imenso pelos filhos! Chego a sentir dó, mas veja lá se eles compreendem uma coisa dessas?! Uma pena...
Que texto!
Vc escreve brilhantemente,parabéns.É lastimável,mas os "filhos status"se multiplicam cada vez mais.Grande parte das mulheres adiam a maternidade até o limite da idade fértil,priorizando estabilidade na carrereira profissional,adquirir bens...lá com seus 36 anos começam a se indagar se querem ou não ser mãe;então decidem que sim,pois já tem carro do ano,um super apartamento,sucesso profissional,mas aí vem o problema:a fertilidade cai absurdamente após os 36 anos,precisam fazer tratamento para engravidar e conseguem,enfim,ter seus filhos lá pelos 38 ou 39 anos.Meu Deus!Estão quase entrando em menopausa!Óvulos velhos,com maior probabilidade de nascer com síndrome de down.
Sou rígida neste ponto da melhor idade fisiológica para ser mãe;que me desculpem essas mães pós 36 por opção,mas vocês estão na contra mão da natureza.Tenho certeza que a maioria dos filhos status são desse tipo de pais,que esperam primeiro construir patrimônio,para depois dar do bom e do melhor para seu filho(roupas de grife,brinquedos caros,escolinhas caras...mas nem chegama passar uma hora diária com sus filhos).
abraço
Clap, clap, clap! Coisa linda de ler, Re!!!!!
Sei que estou em falta com vc, mas muitas coisas aconteceram... ainda quero mto escrever um texto bacana pra cá. Aparece no msn se puder, pra conversarmos!
Beijo enorme em vc, nas pimentas, nas meninas e filhotes do blog e na chiara na barriga! :)
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