por: Tata
Só mesmo quem tem gêmeos sabe a ligação inexplicável que eles têm, um com o outro. É uma compreensão mútua que vai além das palavras, além dos olhares, além dos gestos. É uma fluidez de um para o outro que não se explica racionalmente. A gente olha pros dois interagindo e intui uma ligação maior, que nem sabe direito explicar o que é. Mas é.
Eu vivo isso com as minhas meninas desde pequeninas. Elas sempre estiveram juntinhas, para tudo. Nunca tivemos o hábito de sair com uma delas somente, de fazer coisas individualmente. Sempre foi com as duas, pra baixo e pra cima, pra lá e pra cá. Elas sempre juntinhas, vivenciando tudo lado a lado, dividindo tudo, compartilhando tudo.
E eis que ontem, ao deixar a Ana Luz na escolinha de manhã, e voltar com a Estrela no banco de trás do carro para casa - ela estava um pouquinho gripada e não quis ficar, o que respeitei, e a irmã de cara manifestou seu desejo de ficar assim mesmo, o que também respeitei - , dei-me conta de que era a primeira vez que elas ficariam separadas. Sim, em quatro anos, a primeira vez!!
Confesso que passei a tarde toda com um apertozinho no fundo do peito. Olhava a Estrela brincando no chão ao meu lado e imaginava o que a irmã estaria fazendo. Eu tinha deixado bem claro na escola que, caso ela estranhasse ou manifestasse algum incômodo pelo fato de estar sozinha, que eles me chamassem, e eu iria buscá-la. Mas as horas foram passando, e nada do telefone tocar.
No meio da tarde, no horário de costume, lá fomos nós, eu e Estrela, buscar a irmã na escola. Ana Luz nos recebeu com um sorriso franco no rosto, olhinhos brilhando, mas sem nenhum indício de que, antes da nossa chegada, estivesse incomodada, insegura ou chateada. E as duas, logo que se viram, deram um abraço dos mais deliciosos, a Estrela já foi logo tagarelando no ouvido da irmã, contando que tínhamos uma 'surpresa' para ela no carro - uma bolachinha que tínhamos comprado no supermercado mais cedo, e que a Estrela fez questão de ir segurando o caminho todo, 'pra num quebá, sinão a Naná vai ficá tisti!!'. Ana Luz não deixou por menos, e aliou-se logo à irmã na tagarelice, contando que o amiguinho x tinha feito tal coisa na hora do lanche, e que a professora y tinha contado uma estorinha assim e assado. Eu fiquei ali, só olhando, os olhos rasos d'água.
Eu fico feliz demais em ver a relação bonita, forte, intensa que elas têm. E mais feliz ainda de constatar que não há dependência, pelo menos nada além daquela natural, fluida, doce, que a gente tem por quem é importante. Elas são duas menininhas seguras e felizes, prontas para construir relações afetivas saudáveis, belas e sinceras ao longo da vida.
E mais uma vez, constato a importância do respeito. Respeito ao tempo de cada uma - porque jamais lhes foi forçado em ocasiões anteriores que se separassem, quando manifestavam o desejo contrário -, respeito à intensidade da relação delas - porque jamais foi cogitada, por exemplo, a separação na escolinha, em turmas distintas, como vejo tantas mães, pais e psicólogos a dizer ser extremamente importante com gêmeos, para que cada um "construa sua personalidade individualmente" - , respeito ao universo que elas constróem uma com a outra, por vezes impenetrável para nós, que estamos de fora.
Mais uma vez, me dou conta que o bacana mesmo é encarar tudo com mais naturalidade. Menos regras, menos padrões. Menos "tem que ser". Mais fluidez.
Com amor e respeito, as coisas vão acontecendo. No tempo delas. Na hora que têm que acontecer.
Nem antes, nem depois. Apenas, na hora certa.
Imagem: arquivo pessoal
4 comentários:
dificilmente entro aqui para comentar, seguro minha "corujice" de mãe.. mas fiquei tão .. como dizer... "encantada" com este texto que não resisti.. Nada como o tempo, o amor, o respeito.. sem muita teoria, sem muita neura... com amor.. de sua mãe...
Rê, acho que sua capacidade de sensibilizar triplicou com a gravidez... ahahaa ou eu que estou muito sensível, não sei!
Mas o post me deixou até arrepiada...vc é muito especial por ter recebido esse privilégio, uma das mães que eu me orgulho em dizer que conheço!
beijos
Tata, realmente vc tem uma sensibilidade e uma capacidade de expressá-la muito especiais. O texto é simplesmente lindo.
O Mamíferas é leitura fundamental para mim, todos os dias.
Bjs.
obrigada, meninas. realmente vivo esses momentos com a sensibilidade à flor da pele, e é muito bacana ter esse espaço para dividir experiências tão deliciosas com vcs... bjo grande a todas!!
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