por: Kalu
Apesar de seus 2 anos e 3 meses, Miguel pede para mamar com bastante frequência quando estou com ele. A gente sempre arruma um lugarzinho (nem que seja a mureta de uma rua, debaixo de uma árvore) e saco o peitão de fora para dar de mamar. E sempre lido com olhares reprovantes. Sempre fico pensando, por que será que esta ação chama tanto atenção?
Eu acredito que o que chama atenção é esta expressão máxima do amor. Sim, porque é este sentimento estampado em meu rosto e do meu filho quando estamos neste ato sublime. Afinal, vivemos em uma sociedade acostumada ao caos e a violência, anestesiada sem a capacidade de pensar e fazer uma verdadeira revolução em direção à alegria, paz e amor verdadeiros. E um ato de amor explícito incomoda mais que uma tragédia.
É amor em seu estado mais puro, voltando às origens do cuidar é o que demonstro quando faço
dos meus seios um instrumento de nutrição do corpo e da alma. Amor liquido é o que ofereço quando ele mama e eu olho profundamente em seus olhos, inebriada pela minha própria capacidade de dar e sentir amor.
Eu penso que parir meu filho de uma maneira natural foi minha maior lição de paz. Porque nosso tempo foi respeitado e eu tive que enfrentar meus fantasmas internos e externos para conquistar o sagrado direito de parir em paz. E assim foi, ao som de um mantra suave que ele escorregou para fora de mim e eu, em vez de dor, experimentei prazer, quebrando o paradigma de que parir é sofrer.
Quando penso em um retrato da paz, lembro-me imediatamente de meu filho adormecido e entregue em meu peito. Está é a paz que surge da segurança de poder-se fazer absolutamente dependente de quem aceita ser seu cuidador. Quando estamos aflitos surge aquela sensação de querer colo de mãe. É a lembrança de tempos de entrega profunda ao amor que recebemos.
Às vezes ouço discursos acalorados de mães que se orgulham que seus filhos já mamam suas mamadeiras, sozinhos. Amamentar exige dedicação, esforço. Para quê? Poderia falar dos anticorpos, do equilíbrio nutricional perfeito do leite materno, mas a verdade é que eu me sinto a mulher mais realizada quando amamento. Como se esta parte do corpo finalmente cumprisse seu papel orgânico, indo além da estética.
Já ouvi balelas de que filhos que ficam tão perto da mãe tornem-se crianças inseguras e que estranham o mundo. Eu experimento o contrário: Miguel interage com o mundo porque teve sua sólida base. Acredito que quando os filhos sabem que há um lindo jardim a sua espera, sentem-se seguros e livres para voar por aí, para enfim retornarem para os braços carinhosos e os seio querido.
O mundo enche-se de curiosidade e crítica para quem resolveu pensar e agir de uma maneira diferente aos que todos fazem. Como minha querida Tata diz, aqueles que seguem contra o passo da boiada. A vida pede por um esforço necessário para ir além. Esforço de nascer, crescer de maneira natural... Esforço de acolher por mais tempo, de fazer-se presente com quantidade e qualidade.
Esforço esse que pode ter o doce sabor da certeza que o que fazemos é antes de tudo um ato de amor. E o que é ser mãe senão um constante ato de servir com amor?
E não tem esse papinho de que sou mais mãe ou menos mãe porque não amamentei. Eu sou mais forte do que eu era porque pari de maneira natural, sou mais forte porque amamento. São atos ideológicos, biológicos do qual sinto orgulho e me são uma referência para ir além de mim mesma. Eu tenho plena consciência de meu papel de disseminadora de cultura.
Aliás, nós mulheres temos esse papel. Tanto é que existe um plano de metas para mudança de mentalidade, elaborado na Eco 92, que coloca a mulher como destaque para a formação de novos padrões de pensamento. Você pode sentir a nossa doce responsabilidade com o futuro do planeta?
Minha busca pessoal é pela humanização da vida. É este o legado que quero deixar para meu filho. Isso significa que não precisamos estimular e monitorar tanto nossos filhos e sim oferecer condições para que eles cresçam de uma maneira feliz e saudável.
O mesmo vale para nós. Será que precisamos tudo aquilo que pensamos nos trazer felicidade, sucesso e paz? A mim as coisas mais simples, como amamentar ou carregar meu filho junto ao corpo, rolar na grama ou sentar para meditar, revelam esta simplicidade simples que fazem cócegas na existência.
9 comentários:
Concordo com esse post... Amamentei meu filho durante 2 anos e pra mim era (e é) algo natural... Mas me deparei, muitas vezes com olhares desaprovadores ou aproveitadores... Uma pena ver que a expressão do amor incomoda! Parabés pelo post.
Concordo!
Lindo post!
Tb me sinto assim, do jeitinho q v descreveu e...os olhares ao mesmo tempo q me incomodam me encorajam.
Pena q o Lucas (2a) já ñ mama tantoooo, mas de noite e na madruga o leitinho da mamãe ainda é sagrado, ebaaaa! ainda ñ fui desmamada por inteiro.
Adorei o post!
Acho que a questão da amamentação seja cultural, assim como a questão do parto normal. Devido a isso, infelizente temos esses "olhares desaprovados" de conhecidos e desconhecidos assombrando esse momento precioso.
Continuemos no nosso caminho sublime de propagar esse ato de amor tão maravilhoso que é a amamentação.
Lindo Kalu.
Infelizmente a amamentação incomoda muito. Quando digo que pretendo amamentar pelo menos até os dois anos, me olham como se eu tivesse acabado de descer de uma nave de braços dados com um ET.
Mas também sei que é comum, pois muito raro eu ver um bebê maior que um ano mamando no peito, até fico espantada se vejo, de tão incomum. :(
Lindo, Kalu... pra variar, né?! hehehe
Amo amamentar meu filho, isso é para mim uma recompensa já que, apesar de ter planejado um parto natural domiciliar, tive que tê-lo de parto cesárea pq ele estava pélvico. :(
Aí na maternidade ainda, uma noite ele estava chorando e as enfermeiras o pegaram e levaram. Chamei meu marido e fomos ver para onde elas o tinham levado.
Estavam dando leite para ele. Chorei tanto, mas taaaanto...
Uns 2 dias depois, em casa, eu já tinha muuuuito leite, uma amiga enfermeira, que veio me ajudar com a pegada dele no seio, até se espantou de tanto leite (quando o parto é cesáreo o leite demora muito mais para descer)! É pq eu sempre quis amamentar meu filho, e depois de ter ouvido falarem na maternidade que eu não tinha leite, que era bom pegar no banco, etc, comecei a produzir muito. Tolos, assustam as mães que ainda tão na produção só do colostro!
Graças a deus meu filho é muito forte e saudável, mama bastaaante até hoje (com 1 ano e 3 dias) e acho que não vai se desmamar tão cedo. Às vezes me perguntam até quando pretendo amamentá-lo, aí respondo que vou deixar por conta dele. Fazem cada cara... mas não tô nem aí, nós dois estamos muito felizes assim e pra mim é o que importa! :D
Beijinhoss
Lívia, mamãe do Uriel (http://urieldeluz.blogspot.com/)
Eu por muita falta de preparo e apoio acabei não conseguindo amamentar minha filha, e até hoje digo que não superei isso por completo porque me sinto menos por isso sim. Não que há medidas, mas dentro do que sempre sonhei e quis pra mim não tive força e dicernimento o suficiente pra insistir com a amamentação e superar as dificuldades. Me rendi aos palpites, mamadeira e ao cessar do choro da minha filha... mas me é algo incompleto, é como se faltasse um pedaço... tenho absoluta certeza que farei tudo diferente.
Mas acho que o pior da postura das pessoas são aquelas mais invasivas, que dizem que vc TEM que desmamar, ou as próprias mães que ficam fazendo terrorismo com os filhos para que eles desmamem. Eu conheço tantos casos assim e isso me entristece tanto, por que esse desespero em desmamar? Por que as pessoas querem uma data, um prazo? Por que é tarde pra amamentar? Qual é o medo? Alguém conhece algum adulto que mama no peito? eu não...
Ótimo post.
Beijos!
Costumo dizer que meu parto é algo inacabado em minha vida, mas a amamentação tem me realizado como mulher. Não só como mãe, pois tem muita mãe que não se dispõe a amamentar, mas sinto-me uma fêmea completa, feliz, ao dar e receber este amor que tu tão bem descreveu Kalu.
Viva nossos peitões!
Amamentar é alimentar o corpo, nutrir a alma, fazer vínculos, dialogar sem usar as palavras...
E precisa ter peito para encarar o aleitamento exclusivo e em livre demanda.
Pena que muitas mulheres são convencidas por médicos de que são incapazes de nutrir, de parir, e etc...
Viva a mamifericidade...
hahaha, inventei uma palavra...
Beijos em vcs!
Lindo post!
Nossa, muito lindo Kalu!!!!
Que sintonia...acabei de começar um blog e meu segundo texto também foi sobre amamentação!! Como esse assunto mexe com a gente, né?!
Tb acredito no poder e no papel das mulheres para mudar o mundo, e nada como dar o PEITO (em todos os sentidos) para ajudar alguém a se fortalecer como ser humano.
BJssss
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