por: Kalu
Quando a gente sai da roda da ignorância e passa a ver o parir com olhos críticos, surge uma bola de crital invisível que prevê o trágico fim para o chegar da vida neste planeta. O pior é quando esta pessoa querida é sua única irmã.
Tudo bem que somos completamente diferentes apesar da diferença ínfima de um ano e um mês de vida.
Gosto de ilustrar nossa diferença, sem juízo de valor, sobre as escolhas por nossos casamentos: eu engravidei de surpresa, fiz uma cerimônia hinduísta apenas para 30 seletas pessoas excluindo todos da minha família e uma festa organizada por amigos queridos, sem bebidas alcólicas e pratos vegetarianos. Minha irmã marcou a igreja Nossa Senhora do Brasil, com mais de 2 anos de antecedência, para o dia 08/08/08 e fez uma festa para mais de 200 pessoas, incluindo todos da minha família, inclusive pessoas que não víamos há mais de 15 anos.
Eis que depois de 1 ano de casada e quase 30 anos ela pensa em engravidar, no fim de 2010.
Ela - Vou mudar meu plano de saúde para um nível superior! Anuncia no jantar em família.
Eu - Por quê?
Ela - Vou engravidar ano que vem e pretendo ter ampla cobertura para a chegada do meu filho.
Eu - Por que você não guarda a diferença que pagaria por mês e quando engravidar paga por um médico humanizado?
Ela - Você acha que sou louca de ter um parto em casa, como você? Quero o melhor hospital de São Paulo e os melhores laboratórios.
Eu - Mas você precisa de apenas uma consulta por mês até 36 semanas, 3 ultrassons, no máximo e no início, um exame de sangue simples.
Ela - Mas eu quero fazer ultrasom todo mês para ter registrado cada etapa do desenvolvimento do bebê.
Eu - Você sabia que ele pode causar alterações para o bebê? Uma pesquisa mostrou que muitos exames deste aumenta a incidência de bebês canhotos, ou seja, uma alteração importante. E não sabemos o que isso pode causar daqui 60 anos. E hospital bom é aquele que respeita as decisões da mulher, aceita doula, permite alojamente conjunto.
Ela - Por que vou querer doula e alojamento conjunto?
Eu - Oras, a doula vai amenizar sua dor, vai cuidar de você em cada etapa do trabalho de parto. E o alojamento conjunto é para você ficar todo tempo com seu bebê.
Ela - Eu prefiro fazer uma cesárea, não sentir dor e não me incomodo que meu filho passe uma noite no berçário para que eu possa dormir.
Eu - Mas você sabia que eles dão NAN no berçário, que esta lacuna na relação pode dificultar a amamentação?
Ela - Eu não me importo. Todo mundo nasce assim. Eu fui para o berçário e você também. Nascemos de cesárea. Estamos aqui vivas e bem. Se parto normal fosse bom o SUS não faria.
Eu - O que??????!!!!! Você sabe que parto normal é muito melhor para a mãe e o bebê. A recuperação da mãe e disposição é muito mais rápida e melhor. Para o bebê é sinal de que estava maduro e ele pode sentir o abraço das entranhas, pode nascer por onde entrou, teve seu tórax comprimido para expelir todo o líquido dos pulmões. E alguns hospitais do SUS, muitos dos partos que ouvimos contar não é nada humano. Aliás, causa muitos traumas porque a mulher muitas vezes não tem acompanhante, não tem assistência, fica abandonada em uma maca e depois recebe todas as intervenções terríveis. O parto humanizado respeita a mulher, usa técnicas não farmacológicas para alívio da dor e transforma o nascer em algo muito significativo. Mas para isso é preciso investir seu dinheiro em médicos humanizados e neonatologistas nesta mesma linha.
Ela - É só não pensar nestas coisas e fazer o que todo mundo faz e ser feliz. Para que complicar? Eu não quero mudar de médico, quero fazer exames nos melhores laboratórios, ultrassom todo mês e que meu filho possa nascer em segurança, no melhor hospital, com UTI à disposição.
Eu - Pelo amor de Deus, pelo menos entra em trabalho de parto, assim é uma certeza que seu bebê estava na hora certa.
Ela - Mas acho que me programar para que meu filho nasça dia 10/10/10 seria bem bacana. Quem sabe às 10h10?
Termino este post com um suspiro profundo desejando do fundo do meu coração que tudo dê certo.
15 comentários:
oiê!!!
sabe que na época da minha gravidez foi complicado, com a família lá do brasil. aqui (espanha) também é assim, três ecos no total, gine uma vez ao mês e o exame de sangue no começo. minha família daí surtava, que era pouca eco, que era pouco controle, meu deus, e se algo estivesse errado? depois, o quarto era compartilhado, a criança o tempo todo contigo e nada de NAN nem nada. Outros surtos, tipo bebê com vc, como vc dorme? essa criança tá com fome! etc etc etc... aprendi a não dar mais muita explicação e, numa situaçao dessas, fazer a maior cara de circunstância! :)
um abraço,
karenina
http://www.juliaontheway.blogspot.com/
Desde que comecei a ler o mamíferas me pergunto: _Até que ponto evoluimos Meu Deus? Até onde ser moderno é bom?
Quando me tornar mamífera vou pensar bem.
Olá daqui de Portugal! Já tenho lido o vosso blog e agora resolvi comentar.
Com a gravidez de minha menina apaixonei-me pela maternidade e por isso comecei um caminho do qual não consigo mais sair. tirei o curso de educadora perinatal e agora não quero parar.
Obrigada por este vosso blog tão bom! pela partilha! por ver que existem mulheres como eu.
Relativamente a este post, nem vale a pena comentar, eu já desisti de ter algumas conversas com algumas pessoas porque começo a ficar nervosa, tenho mesmo de me controlar, hehehehe
Beijocas a todas as mamiferas
Adorei o blog! É um prato cheio de informação e vai muito além da maternidade. Ainda não sou mãe, mas os assuntos aqui abordados me interessam muito.
Acredito no parto humanizado, acredito no vegetarianismo. Acredito no poder de escolha e no poder de mudar o que é visto como natural / normal.
Tem uma mensagem do Bertold Brecht que tem muito a ver com o post.
"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de
hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem
sangrenta, de confusão organizada, de arbitraridade
consciente de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.”
Engraçado...
Sua irmã diz que não quer sentir dor.
Será que ela acha que a recuperação da cesárea é indolor???
Oi Kalu. Adoro o MAMIFERAS e sou fã de vcs. Tomara que de tudo certo com sua irmã e que o filhote dela venha com muita saúde. Em relação ao parto pelo SUS, eu ñ tive do que me queixar. Fui super bem atendida e minha filha veio ao mundo quando quis e bem saúdavel. Nem tudo no SUS é ruim. Em relação as ecografias, sei que ficar fazendo varias pode fazer mau ao bebê, mas vc acha que ser canhoto é algo tão ruim assim? Perto de outras coisas que podem acontecer, acho que isso é o de menos.
bjos
Sheila
Primeiramente, parabéns pelo Blog!
Nossa, Kalu, infelizmente, o pensamento de sua irmã ainda é partilhado por milhares de pessoas. Eu estou de 27 semanas e optei por um parto domiciliar. Minha família me achou louca! agora estão aceitando mais. Vamos torcer pra que quando nossos filhos forem grandes esta mentalidade já tenha mudado...
Grande abraço!
Acho que é criado um mito ao redor do medo da dor do parto que elas esquecem realmente o quanto dói uma cirurgia dessas, pq isso não é parto, é cirurgia!
Eu entrei em tp, que evoluiu bem por 5 horas e depois de entrar numa pré-eclampsia fui tive que passar pela cirurgia, algo que me frustrou muito! Mas pelo menos tenho o consolo de saber que ela nasceu quando deveria nascer e quando quis. Tive o mínimo de intervenção possível e meu médico lamentou tanto quanto eu... caso um dia eu engravide de novo, vou tentar até o fim de novo ter o meu tão sonhado parto natural.
Hoje é tudo muito comodo, automático...as pessoas só se preocupam consigo! Fazer um milhão de ultrassons pq ela quer ver, não pq o bebe precisa. Arrancar o filho do útero pq ela não quer sentir dor, não pq está preocupada com o bem estar do filho... é tão difícil escutar essas coisas né?
beijooos!
Meninas, muito obrigada por todos os elogios. este blog só faz sentido por vocês existirem e estarem aqui comentando e acrescentando.
Karenina, eu também aprendi a fazer cara de paisagem, mas quando é a nossa irmã é mais difícil, né? enfim, ela terá o processo dela.
Sinara, também acho que a modernidade esta no reencontro com o natural.
Kel, que bom ter audiência de portugal e saber que existem mamíferas em toda a parte.
Camila, lindo poema! Ilustra bem o post.
Sheila, eu espero que ela não precise usar a UTI e nem outrso recursos médicos. Ah, e o SUS de Bh tb é muito bom. Mas é fato que muitos destes relatos de parto normal cheios de intervenção assustam, né?
Kathy, eu falei para ela sobre a dor da cesárea e ela me disse que falou com várias mulheres e que elas não sentiram nada. Aì eu disse, mas tem que tomar atibiótico e antinflamatório, que vai para o leite e pra seu bebê. E ela disse, ai, que que tem? Isso porque ela é dentista....
Kate, espero que o normal seja nascer de novo de parto normal, né? rs
Cacau, cesárea é para casos como o seu, né? E de fato há o medo da dor e o desconhecimento do feminino... Uma pena.
ihhhhh kalu, isso tá com a maior cara de provocação... acho que a sua irmã tá mesmo é querendo e chocar (não que ela não pense assim) mas qdo engravidar as coisas podem mudar bastante...
qto ao diálogo, achei bem que ela tava querendo te provocar um pouquinho, será?
bj carol
Carol,
Pior que não, sabe? Ela tem outro etilo de vida. Minha mãe acha o máximo tudo que fiz e acha que pode conseguir mudar a mentalidade da minha irmã. Eu acho que ela fará ma cesárea eletiva.
Kalu, pode apostar que o enxoval ela vai fazer em Miami. ;)
Mas, brincadeiras a parte, é muito triste ver alguém tão próximo, com total acesso a esse mundo de informações que as 'maternas' tem a oferecer, fazendo escolhas tão infelizes. Triste, muito triste mesmo.
Bjs
uma pena, né?
mas são as escolhas de cada uma... ela nunca vai saber o que está perdendo!
Desculpe-me mas ri ao final do post, não um riso de critica, mas da situação.
Não julgo a opinião de nenhuma das duas, apesar de me filiar a sua corrente, acho que cada pessoa tem um ritmo, suas certezas por mais que nos pareça absurda é o ritmo dela, se ela for fazer do jeito que outra pessoa julga ser certo sairá tudo errado, porque vai haver antes de tudo insegurança, incertezas, não haverá relaxamento nem confiança o que tornará o parto um tormento. É o que eu acredito, antes de tudo respeitar as diferenças. Não sou mãe, mas pretendo daqui a uns 3 anos ter meus treinos, e como tenho um sonho forte de ser mãe vou me informando o quanto posso, por mim teria parto em casa, totalmente humanizado, com direito a minha irmã (q foi quem me apresentou o parto humanizado), meu noivo ao meu lado, sem nenhum procedimento cirurgico ou afim, porém conheço pessoas que só querem cesaria para se programar, pq acham que é melhor, pq acreditam que é melhor, e não acho que temos o direito de criticá-las, apenas desejar que tudo saia bem, que mesmo que o procedimento seja "errado" aos nossos olhos mas que dê certo, que o bebê nasça com saúde e sem danos e que a recuperação da mãe seja maravilhosa.
Hoje há uma corrente onde muitas pessoas acham que só é mãe de verdade se for através de parto normal, se amamentar exclusivamente até os 6 meses... não acho que é bem assim não, a gente luta tanto para que o "sistema" (q agora é o parto cesariano) mude e para isso acabamos por, de certa forma, impor um outro modelo.
Bom, é isso ai.
Rafaela,
Concordo com você que as pessoas devem ser reseitadas. Mas vivemos uma era de epidemia de cirurgia cesariana. Seos médicos do plano indicassem uma cirurgia de coração para um paciente sadio, isso seria um crime. Mas no caso do nascimento não é assim. O que quis dizer para minha irmã é, se você optou por uma cesárea, saiba que ela é uma cirurgia, pelo menos entre em trabalho de parto. Porque hoje vemos história de cirurgias em mães e bebês sadios com 37 semanas. Isso é um crime. Mas acontece bem mais que imaginamos. Devemos respeitar as escolhas e mostrar que as escolhas nem sempre são nossas. Por exemplo, a questão da amamentação. Na década de 60 foi feita uma campanha com pediatras para introdução do leite ninho. As mulheres saiam dos hospitais com uma lata e uma mamadeira. Claro que tem mulher que por problemas psicológicos ou biológicos não podem amamentar. Mas é raro. O que existe é falta de informação e palpitaria de pessoas contaminadas com idéias que estão inseridas no capitalismo. Os médicos fazem cesáreas porque ganham pouco com o plano, porque tem parceria com o anestesista amigo. E os hospitais ganham coma as internações... Por aí vai. Quando a gente sabe de tudo isso sente vontade de gritar para um mundo surdo.
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