por: Tata
Uma querida e assídua leitora do Mamíferas, a Bebel, sugeriu recentemente, em um email enviado para nós, que falássemos aqui sobre o pré-natal humanizado, e o que ele tem de diferente.
Bom, pra ser bem sincera, por experiência mesmo eu só posso falar de um dos lados dessa questão. Nas minhas duas gravidezes, fui acompanhada por profissionais humanizadíssimos. Na primeira, por um obstetra. Nessa, por uma parteira (enfermeira obstetra). Ambos absolutamente adeptos da humanização, do parto natural, domiciliar, etc. Então, felizmente, não posso dizer o que seria um pré-natal 'desumanizado'.
Mas já ouvi muitos comentários e estorinhas de amigas, ou nas listas de discussão de que participo, e sempre acabo ouvindo aqui e ali coisinhas de deixar a gente de cabelo em pé. Então vou falar desses detalhes aqui, atitudes bacanas ou não no atendimento à gestante, e das coisas que eu acredito que são importantes, e fazem esse acompanhamento ser mais ou menos humano.
A neurose com o peso, por exemplo, é algo que, pelo que leio e escuto por aí, incomoda muitas gestantes, que mês a mês tremem diante da balança, com medo da "bronca" que levarão de seu médico se por ventura tiverem engordado algumas graminhas a mais do que o estipulado para aquele período. Sei que há obstetras que chegam ao absurdo de dizer, de forma taxativa e redutora, que o ideal é engordar um quilo por mês. Ora, e desde quando grávidas são saídas de forminhas de bolo, todas iguaizinhas, sem particularidades ou necessidades individuais?
É claro que não é legal largar mão totalmente, e engordar horrores durante a gestação, até porque o sobrepeso não faz bem para a saúde - nem a da gestante, nem a do bebê - , e pode ocasionar problemas como pressão alta e diabetes gestacional, entre outros. Mas cada organismo reage de um jeito à gestação, e à preparação de um novo ser. O ideal, acredito eu, é alimentar-se bem, saudavelmente, sem neuroses e sem abrir mão de uma escorregadinha aqui, outra acolá. Aliás, como a gente deveria fazer sempre, não só durante a gestação. Pelo menos foi essa a orientação que eu tive, durante as duas gravidezes.
O excesso de exames também parece ser algo bastante questionável, e rotina nos consultórios dos obstetras "não-humanizados". Aparelhos de ultrassom no consultório, exames mensais de sangue, urina e sabe-se lá mais o quê, coleta disso, coleta daquilo, translucência nucal, morfológicos a torto e a direito, curva glicêmica de rotina.
Eu, nas minhas duas gravidezes, fiz pouquíssimos exames. Apenas o necessário, mesmo. Ultrassons mensais? De jeito nenhum. Fiz para saber o sexo, por uma vontade minha, mesmo. Fora isso, optei por não fazer a translucência em nenhuma das duas gestações, e exames de sangue, as sorologias de costume e hemograma pra descartar anemia. Foi mais do que suficiente, tanto da primeira vez, como agora.
Acho que a postura dos profissionais, em relação aos exames, deveria ser dar a suas pacientes a oportunidade de fazer uma escolha informada. Ao invés de ir entupindo a pobre da grávida de pedidos de exames sem nem dizer para que servem, com aquele ar de superioridade que não deixa dúvidas de que todos são absolutamente necessários e indispensáveis, explicar cada um deles para a gestante, sua função e/ou utilidade, quais as possibidades de diagnóstico e o que ela poderá fazer com elas, sempre deixando claro que a decisão de fazer ou não o exame x ou y é dela, e que uma relação bacana entre cuidador e paciente significa compartilhar responsabilidades e escolhas.
Tem também as vacinas. Anti-tetânica, acho que é a mais rotineira. Não me lembro agora se há alguma outra que também seja indicada para gestantes. Bem, eu não tomei a anti-tetânica, em nenhuma das duas gestações. Conversei a respeito com meus cuidadores, e chegamos à conclusão de que era uma intervenção desnecessária. Mas pelo que sei, é ponto que não se discute, para a maioria dos obstetras. Tem que tomar, e ponto final.
A atenção com as dúvidas, perguntas e questões da gestante também é um ponto importantíssimo, em um pré-natal humanizado. É muito positivo que a gestante se informe, tome as decisões conscientemente, ao invés de simplesmente seguir indicações que não sabe de onde vêm, nem por que devem ser seguidas. Um cuidador humanizado respeita a inteligência e a autonomia de sua paciente, incentiva-a a se informar e a decidir com responsabilidade e consciência. Um cuidador não-humanizado acha que sabe de tudo, afinal foi ele quem estudou para isso, e torce o nariz diante do menor questionamento.
Acho que outro ponto essencial para um pré-natal humanizado é a criação de um laço de carinho entre a gestante e seu cuidador. Pelo menos pra mim, isso é importantíssimo. Um parto é um evento delicado, poético, transformador. Íntimo, pessoal. Exige confiança, entrega, afinidade. Como conseguir isso com um médico que mal te olha nos olhos durante a consulta, e para quem você não é mais que um prontuário, entre dezenas de outros? Eu, sinceramente, não conseguiria.
Disponibilidade é outra palavra-chave. Poder ligar para o seu cuidador, entrar em contato para tirar dúvidas, aliviar ansiedades, faz toda a diferença. Há médicos que só atendem a paciente durante o horário das consultas, e já deixam claro que, caso haja algum problema entre elas, o caminho é procurar um PS. Complicado.
Certamente, tem muitos outros pontos que permitem diferenciar um pré-natal e um cuidador humanizados, de outros que não o são. Aproveitem os comentários para me ajudar a lembrar deles, e se for o caso, depois eu volto com um outro post para cobrir o que ficou faltando neste aqui.
Mas acho que o mais importante é lembrar que não tem nada mais bacana do que a gente se sentir em sintonia com o profissional que nos acompanha. Gestar, parir, são momentos únicos na vida de uma mulher. E as pessoas que nos acompanham nessa caminhada tão transformadora deveriam ser escolhidos a dedo. Não é pra qualquer um, não.
E vocês? Que experiências - positivas ou negativas - tiveram com seus cuidadores durante a gestação e o parto?
Imagem: www.gettyimages.com
8 comentários:
Bom, eu tb não posso dizer muito pq minha gravidez vem sendo acompanhada por uma GO humanizada. Mas a primeiríssima consulta como gestante foi com a minha ginecologista (que é uma ótima ginecologista, mas é a típica cesarista). O que mais me incomodou nessa consulta foi que ela durou 15 mins, ela não tirou nenhuma dúvida minha, não me examinou e me chamou de pré-histórica por querer um parto natural. hhahahahahahahaha
Enfim, depois disso nunca mais voltei nela...
Beijo
Olha, eu tive que rodar muito até achar o cuidador ideal pra mim.
Em uma dessas várias consultas, ouvi uma médica dizer que já deixaria meu parto marcado para 12/05 porque depois disso ela iria viajar! Eu surtei é lógico! Como assim ela quer adiantar o nascimento da minha filha, arranca-la de mim antes da hora, pq tem compromissos profissionais?
Detalhe que a minha pequena nasceu em 2/6, quase 1 mês depois!
Mas acabei fazendo o pré natal com o médico que cuidou do mioma da minha mãe por 10 anos, então já tinhamos uma relação mais do que familiar!
Todos esses percalços que vc citou eu não enfrentei nenhum, nem vacina, nem mil exames... ultrasson fiz 3, mas só 1 a pedido do médico..as outras foram de pura ansiedade minha (1 qdo descobri e outra nas ultimas semanas).
É importante não desanimar nessa busca, pois são pessoas que ficam marcadas pro resto das nossas vidas!
Beijos!
Tata, gostei muito do post! Parabéns pelo primeiro ano do Mamíferas.
Abraços!
Gostei do post.
Tive acompanhamento de minha ginecologista/obstetra nos dois partos. Considero ela uma pessoa razoável, no meio do caminho, super aberta às perguntas, embora siga os protocolos de exames e afins e, caso a mãe não manifeste suas vontades, acaba marcando a "desnecesárea" talvez por costume e conveniência. Vou chamá-la de uma profissional semi-humanizada, rs.
Acatei o que achava importante e descartei o que pra mim não funcionaria, sem ficar na neura de achar o profissional perfeito. A vacina anti tetânica é um exemplo. Nas duas gestações ela me receitou, e eu simplesmente ignorei. Ela me cobrava rindo, e eu dizia que aquilo não faria. O que ela poderia fazer? Me obrigar é que não. Nós nos entendemos muito bem nessa dinâmica.
Lembro bem que no segundo parto quase joguei a toalha de tanta dor, e foi ela quem me encorajou a não desistir daquilo que disse ser o mais importante pra mim, na primeira consulta: o parto normal.
Acho, portanto, em minha humilde vivência, que se uma pulguinha ou outra incomodar durante o pré-natal, não é motivo de mudar de profissional. Desde que o respeito impere, a humanização também depende da manifestação da nossa vontade, seja ela qual for.
Beijos a todas as grávidas iluminadas!
Eu fiz um pré-natal de Mãezinha até 37 semanas. Ele me pesava, dava bronca se eu engordava e me colocava no ultrasson, gravando todos eles em todas as consultas. Quando meu filho, no ultrasson apareceu que estava bem acima do peso indicado (GIG) ele me pediu um exame de diabetes gestacional. Uma intervenção absolutamente desnecessária. E ainda não falava de parto de jeito nenhum. Quando resolvi falar do que querida ou não queria o cara surtou.
Depois em BH fui acompanhada por enfermeiras obstetras que iam a minha casa. A gente falava de tudo, do parto, das ações durante eles, tomando um gostoso chá e curtindo a relação, os laços. Elas escutavam o coraçãozinho do bebê. Pediram um exame de estreptococus que hoje não faria novamente. E um ultrasson com 40 semanas para checar o tamanho do bebê. No mais a diferença de tratamento era absurda.
Num segundo filho seria MUITO mais descolada, exigindo e escolheno um profissional humanizado desde o início.
Que post legal!!!
Infelizmente, fiz meu pré-natal e meu parto com uma médica totalmente cesarista. Era a típica boazinha: tirava dúvidas, conversava, falava que apioava totalmente meu parto natural e talz.
Ela me dava bronca porque eu não estava engordando muito hehehehehe. Ela me disse pra engordar uns 15kg, pq eu era (e sou) muito magrinha. Mas, engordei 10kg.
No parto, óbvio que foi uma desnecesárea terrível. Por falta de dilatação... com certeza ela não quis esperar o tempo certo, mesmo em tendo contrações, e já foi cortando. Sinceramente, eu nem sabia mais o que tava acontecendo, eu não me lembro do parto, de nada. Só lembro que fiquei decepcionada comigo mesma, por não ter lutado.
Hoje sei que não terei o próximo com ela, mesmo porque na última consulta de rotina ela já foi falando "no próximo deixo sua cicatriz mais bonitinha" ARGHH!!! Quero meu parto digno e ninguém tira isso de mim =)
Beijos e parabéns!!!
Tata, adorei o seu posicionamento sobre um pré-natal humanizado!! Principalmente a questão do carinho que acho tão importante e que já me levou à grandes discussões em listas de parto humanizado que acham que quem busca carinho é porque quer médico paizão... enfim.
Bom, no meu pré-natal eu cheguei a passar por 4 obstetras...
A primeira era minha ginecologista, muito boazinha, mas cesarista e atrasada (do tipo que te mnda livrar dos gatos). Depois passei por uma vaginalista, mas a mulher era grossa que só ela, não aguentei. Fui para a terceira que já queria me mandar para a cesárea na primeira consulta alegando que "algum problema eu ia ter para me levar para a cesárea". Finalmente fui para um obstetra dito humanizado, mas que nunca atendeu a nenhum desses quesitos que você colocou. Sempre pediu muitos exames, nunca discutu comigo a necessidade deles, quando questionei um medicamento que ele me passou ele ficou irritado, não respondia às minhas dúvidas de forma direta...quase mudei na última semana e até hoje me arrependo de não ter mudado. Terminei numa cesárea (para mim desnecessárea) depois de 18 horas de TP e ele não teve nem a decência de vir conversar comigo antes... quando vi ele já estava dando ordens para me levarem para o centro cirúrgico. Depois disso vi o quanto é importante essa relação no pré-natal, pois todasas dificuldades que tive de conversa franca nas consultas se replicaram na hora P.
Mas no VBAC vai ser diferente!!!! E vamo que vamo!
meninas, que legal saber de tantas experiências diferentes!!
Lu, pré-histórica foi demais, não? e quinze minutos de consulta... cara, eu sempre me pergunto como é que os médicos de convênio conseguem fazer uma consulta de pré-natal em 15 minutos, criar os laços de que falamos... impossível, né? as minhas consultas com a parteira duram sempre uma hora e meia, duas horas...
Cacau, você tem razão, por mais que seja difícil e às vezes cansativo, vale a pena continuar procurando até a gente achar um profissional afinado com o que a gente quer. afinal, o parto é uma vez só!
Dani, achei interessante vc contar a tua experiência, inclusive pra gente pensar que nem sempre o profissional não ter 100% do que a gente esperava não significa necessariamente que seja um cesarista ou algo que o valha... mas é legal lembrar também que, nesses casos, a gente conta um pouco com a sorte, né? Porque um profissional que não fecha 100% com a gente pode significar, dependendo do andamento do parto, uma intervenção não-desejada, numa hora (tp) em q vc não está em condições de questionar, de bater o pé. Pode, não necessariamente vai, mas pode. Eu, pessoalmente, prefiro estar com alguém que feche 100% comigo, porque assim na hora P posso relaxar e me entregar, sabendo que o profissional que está comigo fecha com tudo o que é importante pra mim...
Kalu, realmente, vivenciar as duas experiências faz a gente ver a diferença gritante entre um atendimento humanizado e outro que não é, né?
Fúlvia, acho que o legal da experiência que você viveu é que você se permitiu aprender e crescer com ela. Afinal, é pra isso que a gente vive, né? E num próximo parto, tenho certeza que você vai trilhar um caminho bem diferente, e ter um parto redentor!
Carol, acho que a tua experiência reflete bem o que eu disse, a importância de estar com alguém que feche com o que a gente deseja e acredita. E eu também acho importantíssima essa relação humana e afetiva mesmo entre cuidador e gestante. Pra mim, faz toda a diferença. Afinal, não é um dentista que vai me extrair um dente, ou um oculista que vai me receitar um par de óculos! É alguém que vai estar presente no nascimento do meu filho, que vai junto comigo recebê-lo no mundo, que vai dividir comigo um dos momentos mais transformadores e inesquecíveis da minha vida... como ter nesse momento alguém sem uma relação mais próxima contigo? Eu não conseguiria...
bjocas a todas, adorei as respostas!
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