por: Cleise Soares, Mamífera Convidada
Quando começou tudo isso? Às vezes eu me pergunto por que foi que me interessei tanto por este assunto de gestantes, maternidade? Descobri que começou no século passado com minha avó Beatriz. Cada gestante que estava para ter um filho na pequena Carmo do Rio Claro, no sul de Minas Gerais, recebia sua visita, com a imagem de Nossa Senhora do Bom Parto debaixo dos braços e uma faixa para amarrar na cintura no momento da chegada do bebê.
Quando começou tudo isso? Às vezes eu me pergunto por que foi que me interessei tanto por este assunto de gestantes, maternidade? Descobri que começou no século passado com minha avó Beatriz. Cada gestante que estava para ter um filho na pequena Carmo do Rio Claro, no sul de Minas Gerais, recebia sua visita, com a imagem de Nossa Senhora do Bom Parto debaixo dos braços e uma faixa para amarrar na cintura no momento da chegada do bebê.
Minha vida corre paralela à minha militância pelas causas. O tempo vai passando, um dia após o outro e quando você vê passaram-se vinte e cinco anos e, de repente, você se torna histórica, testemunha de um período. Eu tenho a alegria de constatar que me tornei testemunha da história da humanização do parto em Belo Horizonte.
Quando engravidei do primeiro filho, Iago, hoje com 23 anos, já havia fundado o Grávida – Grupo pela Garantia à Gravidez Ameaçada - e quando ele nasceu, realizávamos o seminário Maternidade: Direito, Dever, Prazer ou Obrigação, no Mater Dei, maternidade de BH. O filme que passava a todo momento era o meu parto, totalmente anestesiada, entregando ao anestesista o poder de empurrar o nenê de dentro do meu ventre.
Quando engravidei do primeiro filho, Iago, hoje com 23 anos, já havia fundado o Grávida – Grupo pela Garantia à Gravidez Ameaçada - e quando ele nasceu, realizávamos o seminário Maternidade: Direito, Dever, Prazer ou Obrigação, no Mater Dei, maternidade de BH. O filme que passava a todo momento era o meu parto, totalmente anestesiada, entregando ao anestesista o poder de empurrar o nenê de dentro do meu ventre.
Tomei uma dose cavalar de anestesia e não sentia minhas pernas. Mas isso não importava naquela época. O que importava naquele filme era a presença do pai ao meu lado, a grande novidade. Senti-me vitoriosa. Depois, fiquei igual a uma vaca parida, cheia de adrenalina, ligando para Deus e o mundo e quase gritando: Sou mãe!! Sentia uma saciedade física, no meu útero.
Virei mãe do mundo nesta primeira gravidez. Via os mendigos na rua e pensava: - já foi nenê e olha no que deu?! Sensível pensava: só os homens mesmo para fazerem guerra. Uma mulher que governasse com o útero jamais faria a guerra- escrevi na ocasião. Como fazer guerras? E os nossos filhos? Definitivamente guerra é coisa de homens.
Década de 80
Década de 80
As empoderadas de então tinham duas opções em Belo Horizonte para parir de cócoras: Dr. Marco Aurélio Valadares e Dr. Emerson Godói. Logo que engravidei do Iago, meu segundo filho, fui fazer acupuntura com o saudoso Luis Carlos Melão, que já partiu. Meu primeiro parto foi com anestesia, episiotomia, limpeza intestinal, raspagem dos pelos, tudo o que tinha direito no sistema hospitalar. Inclusive o que achei mais chato no parto foi o corte vaginal e os pelos nascendo, super desconfortáveis. Procedimentos iatrogênicos que não são inerentes ao parto, mas criados pela medicina, como é o caso da episiotomia, de 1742 , já derrubada por evidências científicas e ainda hoje em uso.
Fiz a dobradinha Yoga/Acupuntura/Homeopatia. O acupunturista Melão me acompanhou até o hospital. A acupuntura não tirou as dores, mas me colocou numa montanha russa, numa evolução fantástica de parto. Quando senti as primeiras dores, por volta da meia noite fomos fazer o toque no hospital, o médico de plantão disse: vai ser pelas duas da tarde ainda. Fui para casa. Quando chegou 4 da manhã sentia uma dor insuportável. Corremos para o hospital, pegamos o Melão na rua debaixo, ele pôs as agulhas. No caminho mandei ele e as agulhas para longe. Cheguei no hospital e já tinha dilatação completa. Foi o tempo de deitar na cama e Iana nasceu empelicada e eu senti um êxtase indescritível. Dr. Marco Aurélio apadrinhou Iana.
Passaram-se os anos. Separei do pai dos primeiros dois filhos e me casei com o Renato. Com 39 anos, engravidei de novo e tive uma filhinha excepcional de nome Verady, que nasceu muito fraquinha e não segurou a vida. Passados dois anos, tive Ayrá Sol com 41 anos, de cócoras, sem anestesia, na Maternidade Santa Fé, em um parto de 8h30. Foi como se Verady houvesse renascido em meus braços. Mergulhei de novo na delícia de ser mãe, amamentar, acolher, nutrir, zelar, estar presente. Valores tão desconsiderados hoje em dia por tantas mães, que depois, lá pela adolescência não compreendem porque não conseguem falar com seus filhos. Link perdido para sempre. Sempre trabalhei com Yoga, artesanato em cerâmica e sempre estive presente fisicamente em casa.
Passaram-se os anos. Separei do pai dos primeiros dois filhos e me casei com o Renato. Com 39 anos, engravidei de novo e tive uma filhinha excepcional de nome Verady, que nasceu muito fraquinha e não segurou a vida. Passados dois anos, tive Ayrá Sol com 41 anos, de cócoras, sem anestesia, na Maternidade Santa Fé, em um parto de 8h30. Foi como se Verady houvesse renascido em meus braços. Mergulhei de novo na delícia de ser mãe, amamentar, acolher, nutrir, zelar, estar presente. Valores tão desconsiderados hoje em dia por tantas mães, que depois, lá pela adolescência não compreendem porque não conseguem falar com seus filhos. Link perdido para sempre. Sempre trabalhei com Yoga, artesanato em cerâmica e sempre estive presente fisicamente em casa.
Enquanto trabalho, presido a ONG, cozinho uma comidinha bem natural para meus filhos. E isso é bom demais! O feminino em nós ama cuidar. As feministas vão me trucidar, mas me sinto muito realizada cuidando do meu lar. Dei dois anos de peito para Ayrá Sol, que é uma menina independente, forte, quase não adoece. E é feliz.
Nascimento da Ong Bem-Nascer
Nascimento da Ong Bem-Nascer
Três anos depois do nascimento de Ayrá Sol, acordei um dia preocupada pensando no Dr. Marco Aurélio que devia ensinar o que sabe para outros médicos. Marquei com ele e fui ao consultório. Planejamos promover uma palestra dele sobre Parto de Cócoras , Ancestral e Moderníssimo – e eu daria o Curso Bem Nascer, de Yoga para casais grávidos. Fizemos um coquetel de lançamento, que contou com a presença de Dr. Emerson Godoy. Nasceu ai o Projeto Bem Nascer, em 2001, que logo editou o Jornal Bem Nascer e organizou as primeiras Rodas de Mães, que hoje se chamam Roda Bem Nascer. Em 2003, com a chegada de outros profissionais a ONG foi oficializada.
A RODA BEM NASCER está crescendo a cada dia. Hoje, fazemos no Parque das Mangabeiras (CEAM-Centro de Educação Ambiental), todo último sábado do mês, 9h30. Faz parte do programa de educação ambiental do parque, trabalhando a ecologia do nascimento, sob minha coordenação. E começamos a RODA BEM NASCER MUNICIPAL, no coreto do Parque Municipal, aos segundo sábados de cada mês, 14h30, sob coordenação da enfermeira Mirian Rego (integrante da Abenfo Nacional e da ONG Bem Nascer). Entrada franca. Todos levam contribuição para o lanche coletivo. Podem participar a gestante, o casal e familiares interessados.
A ong Bem Nascer faz parte da rede BH Pelo Parto Normal, costurada pela pediatra Sônia Lansky (Secretaria Municipal de Saúde) e pela enfermeira obstetra Mirian Rego (professora universitária). Atualmente, a rede pública em Belo Horizonte oferece opções bem interessantes às gestantes. Hoje elas tem o direito de serem atendidas em qualquer um deles em trabalho de parto, podem levar seus acompanhantes e ainda contam com as doulas comunitárias (aquelas que servem ao nascimento) que humildemente se colocam ao lado das gestantes que vão à rede pública, dando conforto naquele momento. Temos ainda opções de partos naturais na Casa de Partos do Hospital Sofia Feldman e na Maternidade Risoleta Neves.
A Rede privada conta com o Núcleo Bem Nascer, médicos pelo parto normal, coordenado por Dr. Marco Aurélio Valadares, constituído por outros três obstetras e uma obstetra atendendo a mulheres que querem ter seus filhos de forma natural.
Quando olho para trás ou revejo a programação dos seminários antigos, vejo que conquistamos muitas coisas. Em pauta na época – alojamento conjunto, já conquistado; acompanhante de parto, direito conquistado e melhores condições para a rede pública – atualmente, oferecendo melhores opções. Os anos dois mil marcam a volta da mulher ao ambiente do parto, através das parteiras acadêmicas, das doulas, das vovós que podem acompanhar as filhas e também a volta do parto domiciliar. Há um grande caminho pela frente, mas acredito que as coisas vão andar mais rápido, porque a Internet faz aumentar as adeptas do parto normal, através das listas, blogs, sites voltados para humanização do nascimento que circulam diariamente.
Podemos constatar isso através da ONG Bem Nascer, que tem sido procurada por pessoas de todo o Brasil. Incrível e tudo começou àquele dia em que sai de casa, numa linda manhã para ir ao consultório do Dr. Marco Aurélio Valadares como mãe, como jornalista, como professora de yoga para gestantes,como mulher que vive no tempo e gosta de participar dele ativamente chamá-lo a fazer o movimento. Sou muito feliz de ter tido meus quatro filhos e de ter parido a ONG Bem Nascer.
9 comentários:
Belíssimo post!
Como é bom saber que existem pessoas preocupadas em dar toda a assistência e informação para as mães no decorrer da gestação. As mamães precisam deste suporte, é importantíssimo. Vai além do curso de aprender a trocar fraldas, mas sim de preparar a mãe para o filho vir ao mundo de forma natural.
Grande beijo!
ESta mulher realmente é uma lenda viva da humanização do nascimento em BH, tendo vivido na pele cada uma das nossas conquistas. Hoje trabalho para esta ONG e me sinto honrada de fazer parte desta história.
Cleise, que frase linda: "O feminino em nós ama cuidar!"
Estou de acordo. Uma ex-professora,totalmente revolucionária, quando eu estava na universidade, me disse que o melhor golpe machista em prol do capitalismo foi a revolução feminista. E ela se arrependia muito de ter queimado sutiã.
Tirou-se a mulher de casa, e quem ficou no lugar? Muitas vezes a TV dizendo o que é preciso consumir para se tornar um garoto legal. Isso ajudou a vaca ir pro brejo!
Admiro demais o trabalho da Cleise! É preciso muita feminilidade para parir 4 filhos, encarar a morte de uma filha e ser mãe de uma ong que ajuda muitas mulheres a serem fêmeas pra daná!
Aplausos merecidos! E parabéns ao blog pela convidada da semana!
Beijos, Geozeli
Muito bom ler a história da Cleise!!!!!
A ong Bem Nascer é linda!
Bah, sem palavras para essa mamífera :), só posso bater palmas e registrar minha profunda admiração pela sua trajetória.
Fico feliz em saber que existem pessoas dispostas a orientar mulheres na questão do parto e afins. Há alguns anos (quando nem pensava em ser mãe) respondia sem piscar que se um dia engravidasse faria cesárea com certeza e ponto.
Hj, quase ganhando minha filhota (e com a cabeça bem mais arejada graças a pessoas que conheci pelo caminho) fui contra vários "conselhos" e sugestões (inclusive troquei de médico aos sete meses de gestação) e bati o pé pelo parto normal sem intervenções. Estou me preparando física e psicologicamente para isso e já perdi a conta das vezes que precisei explicar o pq não aceito a episio, por ex.
Parabéns Cleise!!!!
Obrigada a todos pelos comentários. Aqui em BH, podem contar sempre comigo e com a ong Bem Nascer.
Que coisa mais linda... Estou grávida de pouco mais de 6 semanas e mesmo antes de pensar em engravidar, já pensva em ter um parto natural, humano e cheio e amor... Como é bom saber que existem pessoas assim como vc, que lutam para que essa seja uma realidade de todas nós mulheres, femininas e que amam cuidar!!!
Sábado que vem estarei lá no Parque, me juntando à essa rede e amor!!! Abaços e muita luz nessa caminhada!!! Vanessa!
O meu parto era para ser de cócoras. Houve erro médico: anestesia extra, o dobro da dosagem - no meu caso, estar de cócoras foi um problema adicional- tive que ser levada às pressas para a mesa de cirurgia, com o bebê já nascendo. Corremos risco de morte eu e o bebê. O médico responsável preferiu criar explicações para o ocorrido. Não pôde assumir a verdade. Mas me lembro de tudo - e ele também, tenho certeza. Hoje sei que a maternidade independe disto tudo. De cócoras ou não, todas nós queremos nossos filhos nos braços. E é sempre lindo. Mesmo que o belo resida em superar um erro destes, superar tudo de forma a achar tudo belo ainda assim.
O meu parto era para ser de cócoras. Houve erro médico: anestesia extra, o dobro da dosagem - no meu caso, estar de cócoras foi um problema adicional- tive que ser levada às pressas para a mesa de cirurgia, com o bebê já nascendo. Corremos risco de morte eu e o bebê. O médico responsável preferiu criar explicações para o ocorrido. Não pôde assumir a verdade. Mas me lembro de tudo - e ele também, tenho certeza. Hoje sei que a maternidade independe disto tudo. De cócoras ou não, todas nós queremos nossos filhos nos braços. E é sempre lindo. Mesmo que o belo resida em superar um erro destes, superar tudo de forma a achar tudo belo ainda assim.
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