por: Tata
Mesmo antes de engravidar pela segunda vez, eu tinha duas certezas sobre um próximo parto. Uma delas era de que minhas filhas mais velhas estariam presentes, acompanhariam o nascimento do irmãozinho(a).
Já acompanhei muita discussão sobre isso. Argumentos de que a criança pode ficar traumatizada, assustar-se com a dor da mãe, com possíveis gritos, ou demandar da mãe uma atenção que, naquele momento, por razões óbvias, ela estaria impossibilitada de dar.
Pra mim, a coisa sempre pareceu mais natural. Aliás, como tudo que envolve um nascimento. Somos uma família, o nascimento de mais um bebê é um momento que transformará a vida de todos. Portanto, não há melhor forma de vivenciar esse momento que estando todos juntos, lado a lado, de mãos dadas e corações unidos.
Além disso, um nascimento natural é um evento de muito amor, que envolve uma certa magia, um tanto de poesia. Não consigo acreditar que uma experiência dessas possa trazer qualquer coisa de ruim para uma criança. Pelo contrário, acho que presenciar um nascimento natural, em um ambiente de amor e tranquilidade, é uma experiência que transforma todos que a vivenciam. Não seria diferente com uma criança, que por mais que seja ainda pequenina e não consiga compreender profundamente o que se passa, certamente sente o amor envolvido no nascimento, e é também tocada para sempre por esse sentimento.
Acredito inclusive que estar presente no nascimento de um irmão pode, se não eliminar, pelo menos minimizar bastante os sentimentos de perda e ciúmes que costumam acometer os mais velhos com a chegada dos caçulas. Pra mim, o fato de estar presente no momento de chegada do irmão ao mundo, de recepcioná-lo em seus primeiros momentos de vida, de vivenciar seus primeiros olhares, gestos e sons, desperta na criança um sentimento de que aquele pequenino(a) não chegou para tomar o lugar de ninguém, mas para tornar completa aquela família. Não para dividir, mas para multiplicar o amor.
Desde antes de engravidar, eu já lia pras meninas o livro "Nasce um Bebê... Naturalmente", do qual já falei aqui. E já comentava pra elas, sutilmente: "um dia, quando vocês forem ter um irmãozinho, ele também vai nascer assim, igual ao bebê do livro... e vocês vão poder participar de tudo, igual à menininha do livro!". Elas arregalavam os olhinhos, perguntavam: "verdade, mamãe?". E aqui estamos, nossa hora chegando.
Acho que é bacana, especialmente com crianças que já entendem - caso das minhas, que já têm quase quatro anos e já entendem um bocado de coisas - , explicar como a coisa vai acontecer, explorar as possíveis variantes, contar sim que a mamãe vai sentir dor e talvez grite ou chore um pouco, mas que nada disso é ruim, pelo contrário, é um processo natural que vai trazer o bebê aos nossos braços. Acho que o que mais pode assustar a criança é o desconhecido, a sensação de não saber o que está acontecendo. E isso pode ser resolvido com muita conversa antes do parto. É óbvio que um trabalho de parto é um evento imprevisível, e nunca poderemos explicar com detalhes cada coisinha que acontecerá no momento, mas dá pra cobrir com uma certa dose de sucesso uma porção de variantes, deixando a criança mais tranquila e segura para acompanhar o nascimento.
Outra coisa que acho bem bacana é deixá-los à vontade. Forçar uma participação não desejada pela criança pode ser bem prejudicial. O legal, a meu ver, é possibilitar que a criança esteja perto quando e como desejar, mas caso se sinta incomodada e prefira estar longe, respeitar isso também. É por isso que eu, aqui em casa, pretendo ter uma pessoa (no meu caso, a avó, minha mãe, com quem elas se dão super bem e em quem eu confio plenamente para ficar com elas) para ficar por conta delas. Se elas quiserem ficar por perto, ficarão. Se quiserem sair, podem sair.
É claro que o sentimento da mãe também deve ser levado em conta. Para algumas, mesmo desejando a presença do filho mais velho, na hora P a coisa muda, e elas acabam preferindo que o primogênito fique afastado. Nessa hora, também ajuda ter alguém por conta da criança. Ela pode distrair o pequeno, tirar o foco dele da mãe, levá-lo para fazer outra coisa, e trazê-lo de volta quando for o caso.
Aqui em casa, as meninas estão ansiosíssimas para acompanhar o nascimento da irmã. Vira e mexe perguntam se vai demorar muito, e relembram que a nossa pequena Chiara nascerá "pela xoxotinha da mamãe". Naturalmente, como deve ser.
É claro que, em um parto domiciliar, fica bem mais fácil ter essa flexibilidade quanto à participação (ou não) do filhote mais velho. Afinal, quem faz as regras é você. Mas acredito que mesmo em alguns hospitais, isso seja possível. Já ouvi histórias - poucas, é verdade - onde mesmo em um ambiente hospitalar, o filho mais velho pode estar presente ao nascimento do irmão ou irmã. Em casa, sem dúvida, é mais fácil, mas se você optou por um parto hospitalar e deseja a presença de seu filhote mais velho na hora do nascimento, não custa correr atrás. Tentar, afinal de contas, não paga imposto, como diria minha avó.
Hoje, a apenas algumas semanas do nascimento da nossa caçulinha, posso dizer sem exagero que uma das imagens que mais me causa ternura é pensar em minhas pimentas acarinhando o rostinho da irmã ainda melecadinha, logo após o nascimento. Ou pegando-a no colo, sentadinhas no sofá. Minhas três menininhas se conhecendo, e iniciando uma longa caminhada juntas. Uma caminhada que, não tenho a menor dúvida, será cheia de amor e companheirismo.
Imagem: www.gettyimages.com.br
2 comentários:
quase tive a quarta filha só pra poder oferecer às outras três essa oportunidade. eu daria TUDO pra que elas participassem de um parto meu, já que à época dos meus eu "vivia em trevas" e pari pensando que era parto o parto que deveras não tive. compensei mostrando filmes como birth into being, orgasmic birth, o livro da Naolí. mas nada como participar!
confesso que não vejo a hora de engravidar novamente, para poder vivenciar toda a delícia desse período e do parto domiciliar, que para mim também foi uma experiência incrível! Concordo demais com você sobre a presença dos irmãos no parto!
lindo texto!
bjs
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