Em todas as revistas, palestras, matérias sobre obesidade infantil fala-se muito do consumo por alimentos errados, principalmente incentivado pela TV e a indútria cultural alimentar que relaciona o alimento com personagens entre outras razões. Mas nunca ouvi nada a respeito da amamentação ou melhor o desmame precoce e a relação profunda com a obesidade.
Investigando minha dificuldade de emagrecer e minha dependência com doces pude mergulhar na minha infância esquecida. Minha mãe me desmamou aos 4 meses orientada por seu obstetra uma vez que estava grávida novamente (coisa que sabemos ser desnecessária). O amor do peito, da presença exclusiva, da dedicação, trocada por um bico artificial e um leite encorpado e adocicado. Meu coração solitário era esquecido uma vez que o estômago cheio e a digestão lenta espantavam minha solidão.
Não é de se estranhar que sempre que eu me sinta triste ou sozinha precise comer para repetir o padrão arraigado na minha lembrança. Foi muito tempo de terapia para entender esta relação comida e sentimento. Mais velha, me lembro hoje com muita reflexão, da sensação maravilhosa de receber um saco de doces do meu tio avô, das balinhas da casa da minha bisavó, da farra dominical que meu pai fazia nos deixando comprar quantos doces coubessem em um saquinho. São sentimentos mediados por açúcar. E quando vem a tristeza..... Da-lhe doces.
Meu filho quando se machuca ou está triste pede meu peito, olhando nos meus olhos ele reencontra seu porto seguro e minhas palavras carinhosas.
Acho que quando se discute a obesidade e outros distúrbios alimentares a amamentação deveria entrar na lista de prioridade. Afinal ela é mais que simplesmente alimentar. É a forma de estabelecer vínculos sentimentais profundos, é a maneira que nós mulheres temos de dizer aos nossos filhos que estamos oferecendo nosso tempo e dedicação cientes que se trata do alimento mais perfeito, pleno, cheio de nutrientes na medida certa e de amor além dela.
Quando estiver cansada e pensar em desmamar lembre-se que este é um ato sagrado, que só uma mãe pode fazer a seu filho. Ouvi o depoimento de uma mãe adotiva que através do estímulo da mama através da translactação consegiu amamentar seu filho adotivo. Ela, a quem a natureza privou de parir, mostrou a consciência da importância deste ato, com lágrimas nos olhos.
Seja uma mulher de peito e amamente com orgulho.
Imagem: Paula Lyn - http://www.paulalyn.com.br/
12 comentários:
Como pai do Miguel, vejo-o completamente saciado de amor e de carinho quando, ao chorar ou se machucar,se aninhar no peito e mamar. Temo até pelo dia do desmame, como será? Como ele reagirá? Como será transitar para a fase seguinte?
Mas creio que será naturalmente,pois ele pode ser dependente quando podia.
Eu conheci o blog depois do nascimento do André e confesso que ele já me transformou de muitas maneiras. Desisti de desmamá-lo depois de "conhecer" vocês, porque até então tinha comigo a idéia de que eu estava "estragando" o bebê e criando uma dependência negativa. Depois de conhecer o blog, fui atrás de mais informações e tenho lido muito sobre isso, e então decidi que vamos desmamar quando o André decidir e ponto final.
Só tenho a agradecer e pedir que vcs continuem sempre com esse trabalho lindo de vocês, mostrando que com muito amor, carinho e paciência tudo fica mais fácil.
um beijo
Cada vez mais reafirmo a mim mesma que coincidências realmente não existem. No último domingo conversava com uma amiga que pretende desmamar sua filha de 01 ano e 03 meses por estar cansada e pq pretende voltar ao trabalho. Sempre entendi que a amamentação precisa ser um ato natural, que tenha de ser tranquilo tanto para a mãe quanto para o bebê, e por isso disse pra ela "se vc não está mais tranquila, então desmame".
Enquanto lia esta postagem começei a relembrar minha infância, marcada tb pela substituição do peito aos 04 meses, pq minha avó achava q o mingau era melhor, e minha relação com doces se tornou identica a da Kalu...
Hj cedo, antes de vir trabalhar meu peito não tinha mais leite e minha filha de 07 meses procurava por ele insistentemente.
Começou a me bater um fio de desespero ao constatar que o leite possa estar secando,ou rareando. O que fazer então qd tanto a mãe qt o bb querem continuar a amamentação e o leite já não é mais o mesmo?
Temo por deixar minha pequena em casa e vir trabalhar, pois mesmo com todas as orientações alimentares, fico em pânico ao pensar que minha avó possa driblar a babá e colocar uma mamadeira na boca da Clarice. Sinto que cada dia é uma pequena guerra para manter as convicções e não deixar fazer com ela o que foi feito comigo e meus irmãos. É como Daniel na cova dos leões...
acho reducionista delegar tao-somente à falta de amamentação o gosto pelos doces... o problema é que doce é mesmo muito bom, como música boa, como sexo e amor juntos, como embalar nossos pequenos... é fácil entregar a culpa a outrem...
acho reducionista delegar tao-somente à falta de amamentação o gosto pelos doces... o problema é que doce é mesmo muito bom, como música boa, como sexo e amor juntos, como embalar nossos pequenos... é fácil entregar a culpa a outrem...
Anônimo,
Não quis dizer que somente o não amamentar cria este vínculo com os doces. Mas é um caminho que poucos se lembram. A Tata escreveu um post maravilhoso aquei sobre açucar e afeto em nossa sociedade. O doce tem essa conotação afetiva. E eu pretenciosante lancei aqui dizendo se não podia ser uma questão arraigada nos leites adocicados oferecdos aos bebês em lugar ao leite materno.
Dani, estes ajustes de demanda são naturais . Tem um bem forte aos 4 meses e por volta dos 7. Eles casam com o periodo dos salos de desenvolvimento dos bebês. Tenha tranquilidade, beba bastanbte água e procure descansar. Conte com a gente para mais orientações.
Beijos
É, vendo por esse lado, isso também tem muito a ver comigo. Sou uma pessoa altamente viciada em comer, vivo lutando contra a balança, para mim comer é prazer puro... e, coincidentemente, fui desmamada aos 3 meses...
Beijos
Kalu, sou cada vez mais fã do seu blog, e de todas as outras mamíferas. É um trabalho realmente inspirador, que vai me ajudar, e muito, quando eu finalmente decidir ser mãe! :) Deixei um selinho para vcs no Guloseima, em homenagem. Bjss
lindo texto, concordo... mas a foto que foto linda!
Eu mamei bastante, até dois anos e meio. Minha relação com comida é tranquila... como bastante, mas não é aquela coisa doentia de, se nao tiver um doce fico mal e tudo mais... eu acredito que além do desmame precoce da atualidade, entra muito a relação do açucar = afeto. Lembro que fiz algumas mamadeiras pra filha de uma amiga minha, então com 13 meses... e quando a mãe da bebê viu eu fazendo, e colocando so um cheirinho de açucar (porque a fórmula ja era adoçada), ela ficou bem brava, dizendo que tadinha da menina, aquilo era pouco e tal.. mas ela tomava tudo, do mesmo jeito.. e sem nem reclamar. Bem, como a filha não era minha, deixei a mãe voltar a fazer os mamás da bebê, mas isso me fez perceber que a necessidade do açúcar nem sempre parte da criança...
Muito linda a história da mãe adotiva que passou a amamentar.
Emocionante.
Adoro assistir a Re amamentando a Nara... cena mais linda.
AXÉ
Gabriel Dread
Nossa, nunca tinha pensado por esse lado.
Fui desmamada aos 3 meses e tenho uma relação extremamente conflituosa com a balança.
Afinal, eu sempre que estou triste, sozinha, irritada, nervosa faço o que? Como. E muito.
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