
por: Thaís Stella (Mamífera convidada)
Eu sempre achei que alguma coisa mágica acontecia com as mulheres quando elas engravidavam. Se antes muitas delas eram egoístas e imaturas, a maternidade de repente teria o poder de mudar tudo: elas, na descoberta da gravidez, transformavam-se imediatamente em criaturas abnegadas e cheias de bons instintos. Como? Eu não fazia idéia, porque nunca tinha sido mãe, mas tinha certeza que descobriria quando chegasse a minha vez.
Até que engravidei. E fiquei estarrecida ao ver que, além do resultado positivo do exame, nada mais tinha acontecido. Nenhum sinalzinho, por menor que fosse. Foi assim que comecei. Fiquei esperando pelas mudanças que aconteceriam em mim e me transformariam em mãe. De repente, me isolei de todo mundo e precisei de silêncio. As semanas passavam, e nada demais acontecia, além dos enjôos... Mal sabia eu que tinha entrado no casulo de uma metamorfose...
Não sei precisar quando foi que começou. As lembranças da infância passaram a ser mais freqüentes. Eu me via criança. Lembrei da minha mãe, como nunca. Chorei por coisas que nem me lembrava mais. Desenterrei sensações que há muito estavam enterradas em mim, e que eu achava que não faziam mais a menor diferença na história da minha vida. De mulher bem resolvida que pensava ser, passei um bom tempo voltando a ser uma criança assustada, em busca de um resgate que eu nem mesmo sabia ser tão necessário até então.
E de repente, havia no mundo uma infinidade de novos sentimentos perceptíveis... Cheiros vinham de todos os lados, e eu sabia identificá-los perfeitamente com meu “faro” novo. Palavras não ditas, frases insinuadas, vontades inusitadas. Tudo isso fazia sentido. Meu corpo passou a me dizer exatamente, com riqueza de detalhes, tudo aquilo que ele precisava. Eu mastigava gelo com vontade, depois passava uma semana inteira querendo abóbora, depois veio a fase da melancia. E suco, muito suco de fruta...
E um dia, comecei a sentir meu bebê mexer em mim. Era pela primeira vez o corpinho do meu filho no meu, e minha vontade irresistível de protegê-lo, embalar no colo, contar-lhe lindas histórias e cantar todas as musiquinhas que eu conhecia. E de repente também, pude ver minha mãe, ver de verdade. Provavelmente pela primeira vez na minha vida, eu a enxerguei. Como uma mulher, apenas. Uma mulher assim como eu: imperfeita, vivendo sua própria história, com seus próprios valores, tentando acertar e fazer o seu melhor.
Ela sempre me dizia que eu a entenderia no dia que fosse mãe. Ela tinha razão. Nada mágico acontece quando a gente se torna mãe. A busca dessa elaboração é necessária, mas absolutamente particular. Nosso modo especial de vivenciar a maternidade não se aprende em livro nenhum. A gente é que se permite elaborar aos poucos essa história de amor, repleta todos os dias de sofrimentos e esperanças, sonhos e temores...
Essa gravidez passou tão rápido... Agora que João está para chegar, o meu corpo inteiro se enche de expectativa para recebê-lo, descobrir seu olhar, amamentá-lo pela primeira vez... E é fantástico ter a certeza que ainda temos uma história linda, inteirinha pra viver...
Imagem: www.gettyimages.com.br
3 comentários:
Thaís, é assim mesmo que as coisas vão mudando na gente. Também senti a mesma coisa por minha mãe, a vi como uma mulher com suas inseguranças perante os filhos e a amei mais ainda por isso. E agora que vai nascer teu filho, te digo, é maravilhoso. A minha Juliana tem 2 meses e meio e amo tudo o que estou passando. Felicidades,
Fabiana
Gente, eu amo o blog de vcs!!!
Nunca comento pq nao da tempo, prefiro mesmo é ler, rs. Mas é tudo de bom mesmo, vcs estão fazendo um trabalho lindo.
Acho que derruba várias fichinhas daquelas que precisam ser derrubadas.
Esse blog sim merecia virar livro, seriado e tudo mais!!!
Parabéns!!!
Beijos
Olá!
Descobri este fantástico blog há umas semanas atrás, e hoje vim ler alguns textos de arquivo...
Escolhi este por ser o do dia a seguir em que soube que o meu bébe, finalmente, depois de uma luta dura, estava a caminho...
E leio-o agora, final de Setembro, com o meu João (!!) a chutar bastante, e quase, quase a nascer...
Lindo, lindo!!
Um grande beijinho de Portugal,
Tânia
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