- Nossa, como ele é bonitinho e simpático! Por que você não leva ele para uma agência de modelos?
Perdi as contas de quantas vezes ouvi isso de amigos, pessoas desconhecidas que acabamos de conhecer. E minha resposta é sempre a mesma:
- Eu não o exporia a este mundo.
Como jornalista e trabalhando de perto com mundo de modelos e atrizes, posso dizer que explorar a imagem do meu filho está bem longe da minha lista de prioridades. Em primeiro lugar acredito que é um trabalho infantil, do qual não sou a favor. Criança não trabalha. Criança dá trabalho. Esta é minha bandeira.
Ser modelo é um trabalho, já para adultos, que envolve muito estresse. Quando se trata de crianças isso é um pouco pior, uma vez que pouquíssimas agências estão realmente preocupadas com o bem-estar das crianças. Para a grande parte delas é um negócio para atender a uma demanda de um cliente, que precisa ser executado com máximo de qualidade em uma menor tempo possível (time is money).
Uma outra questão é que grande parte da receita das agências se deve aos caríssimos books que elas fazem com a promessa de futuros trabalhos, que raramente acontecem. Além do mais, as crianças maiores nutrem uma grande expectativa de serem valorizadas apenas por suas aparências.
Eu, sinceramente, espero que meu filho seja valorizado e valorize as pessoas além de suas aparências. Que escolha seus amigos pela afinidade ideológica e não pelo que eles podem oferecer. Todas essas questões estão escondidas quando expomos nossos filhos a este mercado que visa apenas o lucro.
Da mesma maneira acredito que uma criança perca muito de sua infância quando possui uma aptidão esportiva e receba uma rotina de treinamento de atleta. É claro que é direito de toda criança ter a oportunidade de desenvolver seus talentos, mas na minha opinião, nunca como obrigação. Praticar para brincar, não para ser o melhor. A maior parte das crianças que são submetidas a esta realidade apenas estão tentando atender as expectativas dos pais e ou professores.
A filha de um conhecido, com apenas 7 anos, já faz dieta e treina com a professora de balet, mais vezes por semana que as demais meninas, porque a escola a vê como uma nova bailarina premiada. A menina tem os pezinhos todos machucados de tanto treinar, não corre para não correr o risco de ferir a perna e o pé. São características que não combinam, a meu ver, com que acredito ser uma boa infância.
A foto deste post foi feita em estúdio por uma amiga. Resolvi fazer para ter umas fotinhos bonitas do meu pequeno. Como não tenho uma excelente fotógrafa debaixo do braço, estressei meu pequeno com os pedidos de "faz assim" e "faz assado". Eu acho que vale fazer esse registro especial das etapas dos pequenos. Mas é importante sempre escolher um bom profissional que respeite o tempo da criança. Minha amiga, vendo que o Miguel não estava sentindo-se agradável, sugeriu colocar uma banheira no quintal. Foi um sucesso.
Enfim, se dependesse de mim não existiriam mais propagandas com animais e crianças, que segundo os publicitários são as que mais fazem sucesso. Principalmente porque vejo que eles não tem dircenimento de escolher se é realmente aquilo que desejam.
E vocês, o que pensam sobre o assunto?
Imagem: Paula Lyn www.paulalyn.com.br
9 comentários:
Concordo totalmente, Kalu.
Também já ouvi muito o comentário "bebê de comercial" e, (momento mãe-coruja on) apesar de certo orgulho de ter um filho lindão (momento mãe-coruja off), jamais faria isso.
No meu "mundo ideal", nas artes as crianças seriam representadas por adultos e, se o desejo dos pequenos existir, não deveria jamais ser transformado em trabalho.
Beijos!
Também concordo plenamente. Coincidentemente, estava no meio do post quando chegou a vizinha - estou na casa da minha mãe - p/ ver meu filho. E o q ela disse: Ai, meu Deus, ele parece boneco, parece bb johnson. Leva ele pra fazer comercial! Imagina a gente vendo ele na tv!
Ri por dentro pela coincidência e respondi: a gente pode fazer um dvd c/ as fotos dele e deixar passando na tv, rsrsrs.
Não entendo pq os programas de erradicação do trabalho infantil não atuam nesse mercado de trabalho. Pra mim, o caso é de lei, deveria ser proibido!
Geozeli, mãe do Francisco de 4 meses
Kalu, também me falam a mesma coisa! Sempre que saio com a Letícia falam "nossa, ela deveria fazer comercial de fraldas, leva ela!!!" e agora, falaram p/ eu levá-la pra fazer o comercial da Oi (pq ela fala "oi" bem bonitinho).
Sim, eu acho a minha filha linda (toda mãe acha isso, né!), mas eu não faria isso com ela: acaba com a vida de crianças/bebê; muda totalmente a rotina; não se tem respeito pelo físico frágil de nossos pequenos; muito desgastante; quem curte mais são os outros, nunca a criança/bebê.
Deixa ela ser criança, brincar, tirar a sonequinha da tarde, aprender a andar, correr, desenhar... se um dia ela decidir, será porque ela decidiu, e não nós ou os outros.
Olá Kalu, primeiramente parabéns pelo teu filho, lindo mesmo! ;)
Corujice de mãe à parte, também já ouvi muito que meu filho é bebê de comercial. Certa vez uma pessoa da família até falou "vamos ganhar dinheiro com esse menino, põe ele para fazer comercial", como se ele fosse uma coisa qualquer.
Quando pequena fiz alguns comerciais e achava legal, mas não era tão novinha como meu bebê, já tinha idade para dizer se queria ou não fazer aquilo.
Mesmo assim, como mãe, não acho legal essa exposição da criança. Na verdade nunca tinha olhado pelo lado do trabalho infantil, mas realmente não deixa de ser.
Concordo que animais e bebês não deveriam ser explorados dessa forma...
Beijinhos,
Lívia (mamãe do Uriel - 10 meses)
Concordo plenamente com isso, e como a responsável pela foto acima, relato meu modo de trabalhar.
Fotografo crianças quase toda semana e o Miguel foi um deles. Não fotografo para agências, somente para as mamães guardarem. Deixo as crianças completamente a vontade. Não forço e nem peço nenhuma pose. Não peço para trocar a roupa (isso quem faz são os pais quando querem).
Elas ficam brincando o tempo todo, ou no estúdio de foto, ou no estúdio de música ao lado, ou no quintal com água como foi também o caso do Miguel. Elas ficam no mundo delas e eu, como profissional, é que tenho que participar desse mundo, e não o contrário, forçando a criança a agir como adulto e como modelo.
Outro ítem importantíssimo: dura enquanto a criança está gostando de estar ali, a partir daí, não adianta, nem as fotos ficariam boas e verdadeiras.
Dura o tempo da criança.
E tem dado certo, ou seja, as mamães que buscam o trabalho têm gostado muito e julgam diferente de tudo que já viram.
Kaluzinha...
Você está corretíssima... deixe seu pequeno ser criança... ser feliz... quando ele crescer terá o direito de decidir qual o melhor caminho...
O meu bêbe decidiu ser músico e está gravando o Caminho das Índias... não é um espetáculo?!
Sinta-se beijada!
Angela Araújo
Kalu, também tenho experiência com isso - sou atriz, e já trabalhei com comerciais, agências, gravações intermináveis, enfim - , e jamais exporia minhas filhas a esse meio. Primeiro pelo desgaste. Até pode ser que em um primeiro momento, role uma diversão pra criança. Mas gravação se arrasta, e depois que já se começou, assinou contrato e assumiu o compromisso, não dá pra tirar o filhote de lá a hora que bater o cansaço, né? Criança tem que brincar, ter liberdade, não compromisso. Outra coisa é a futilidade do meio, que é terrível. Valores totalmente deturpados, um ambiente de vaidade exagerada, competição exacerbada, terrível. Para uma criança, algo extremamente negativo, na minha opinião. Pra um adulto às vezes já é foda de lidar, imagina só um pequenino, um serzinho em formação que absorve tudo ao seu redor.
Também já perdi a conta de quantas vezes me pararam pra dizer que eu tinha que colocar as duas para fazer comerciais - acho que por serem duas, o apelo é ainda maior - , mas nunca nem cogitamos o assunto, e o pai tb é totalmente contra. Deixa elas curtirem a infância delas, que elas vão ter bastante tempo para trabalhar no futuro... :-)
Gente, deixa eu dsfazer um mal-entendido. A Paula, quem fotografou o Miguel, é super respeitosa com o tempo da criança. Vale super a pena fazer umas fotos bacanas para registrar a vida dos pequenos. O que quis dizer é que a expectativa da mãe (pedindo faz assim e assado) cansa os pequenos. Miguel brincou muito, de balde no quintal, da primeira vez (14 meses) fomos a um parque. Mas mesmo assim é cansativo (mas reintero - vale a pena). Imagine fazer isso por obrigação e tendo um script a seguir, com profissionais nem aí para as crianças?
concordo com o post, mas não entendi uma coisa ainda:
se fazer uma sessão de fotos (mesmo que seja apenas entre os pais e a criança) e pedir "faz assim", "faz assado" a estressa (criança), por que é que vale a pena?
não parece algo mais para o deleite dos pais que da própria criança?
se ela se estressou, por um minuto que seja, já não vale a pena, ao meu ver.
nesse caso, valem mais as fotos e os vídeos espontâneos, sem pose, sem premeditações por parte dos pais, não?
eu penso que, se eu não quero pedir para meu filho pousar para uma agência, também não acho justo pedir para ele posar para mim.
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