por: Kathy
É interessante repensar essa questão hoje em dia, e por isso resolvi ir no embalo do texto da Kalu e fazer minhas próprias reflexões. Por que afinal eu tive meu filho num hospital se há uns 4 anos, quando eu estava grávida do Samuel, eu já participava de listas de discussão sobre parto humanizado, já sabia dos riscos da cesárea, já tinha certeza absoluta de que eu queria um parto normal, já acompanhava os relatos de partos domiciliares, hospitalares e das cesáreas? O que foi então que me fez encarar um hospital quando finalmente entrei em trabalho de parto?
A resposta tem quatro letrinhas: MEDO! Um medo paralisante! Medo de não me bancar se algo saísse fora do esperado. Medo do que as outras pessoas iriam dizer. Medo de arregar, de não aguentar a dor, de acontecer algo de ruim com meu filho. Medo do desconhecido, do diferente, do incomum. Porque fui criada assim, achando que hospital é o lugar onde os bebês nascem. E isso é uma grande mentira, pois como muito bem retratou o médico obstetra Jorge Kuhn em uma reportagem sobre parto domiciliar publicada na revista Pais e Filhos desse mês: "O parto em hospital é recente. Até 1930, 90% dos partos eram realizados em casa. Entre 1930 e 1970, esse número se inverteu e 90% deles passaram a ser feitos em hospitais." É algo muito recente, mas é tomado como verdade absoluta, como referência de segurança e de tranquilidade.
Eu fui dominada pelo medo, e não percebi que era lá no hospital que estavam as coisas que eu mais temia. E fui tendo que encará-las, uma a uma. Encarar o sistema naquele momento tão delicado, em que eu estava tão fragilizada, foi o meu maior monstro.
Outro dia, conversando com uma amiga que teve parto hospitalar, eu afirmei que meus próximos filhos nascerão em casa. Ela se espantou e respondeu: "Nossa, você é muito corajosa! Eu que sou medrosa prefiro ir pro hospital mesmo!"... Só pude rir!
Coragem é preciso para entrar num carro com contrações para ir pro hospital. Coragem é preciso pra encarar um soro com ocitocina na veia. Coragem é preciso pra fazer uma epsiotomia. Coragem é preciso pra tentar parir naquela terrível posição de frango assado, indo contra a lei da gravidade só pra facilitar a vida do médico. Coragem é preciso pra brigar com a enfermeira por um prato de arroz com feijão quando se está morrendo de fome e a ordem da insttuição é jejuar (prevendo talvez uma cesárea). Coragem é preciso pra gritar com as dezenas de pessoas que entram e saem da sala de parto sem parar que aquele é um momento íntimo, mágico, e que necessita de silêncio, de respeito, de paz!
A verdade é que fui parir no hospital com medo do parto domiciliar, e saí de lá com meu bebê no colo e um medo absurdo de um dia ter que voltar! Além disso, saí também com a certeza de que meu corpo funciona perfeitamente, e que eu só tive um parto normal, e não natural, porque não tive o apoio necessário nos momentos de maior dor. Saí de lá com a certeza de que as pessoas vão sempre achar alguma coisa, já que é impossível agradar a todos, portanto, a única pessoa que a gente tem que agradar somos nós mesmos. Saí de lá com a segurança de que quando a gestação é de baixo risco, como a minha era, e quando está tudo bem com mamãe e bebê, a melhor coisa a se fazer é deixar a natureza agir sozinha. Parto não é mais algo desconhecido pra mim. Já sei como o processo funciona e já sei também o que preciso para me sentir segura durante ele.
Talvez se meu filho tivesse nascido em casa, eu não teria tanta convicção quanto tenho hoje de que sei o que é o melhor pra mim. Portanto, devo concluir que há certos males que vem pra nosso bem, para nosso crescimento e empoderamento. Como diria a rosa do Pequeno Príncipe: “É preciso que eu suporte duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas”
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
5 comentários:
Amei seu post! Eu acho que a gente pari tanta coisa com nossos filhos. Como disse algumas vezes, meu parto domiciliar começou 10 anos antes, quando fiquei internada com uma infecção de garganta. Aquele clima de hospital era a coisa mais apavorante. As intervenções, ser tratada como um protocolo de atividades. Essa minha lagarta me levou a buscar homeopatia, yoga, meditação. Aprendi que a dor é suportável e pode-se encontrar um conforto ao entregar-se a ela. O PD foi uma extensão das minhas escolhas. Tenho certeza que esse post revela sua maturidade e seus filhos nacerão lindamente em casa.
Kathy!!
Há algum tempo acompanho o blog Mamiferas e hoje, lendo o seu post, não resisti, vou ter que comentar! Como sou mãe de primeira viagem e já na casa do sexto mês de gestação, não me resta muito a não ser planejar como será o momento especial da minha filha vir ao mundo. Como moro na França, não tenho como pensar na hipótese da cesárea, o que, por um lado foi ótimo, pois vim da cultura de que a cirurgia-cesarea é que era o "normal". Diferentemente do Brasil, aqui a excessão é a cesárea e não só mudei de idéia em relação aos meus antigos conceitos, como também procuro me informar sobre tudo que envolve o nascimento, para que eu esteja tranquila e preparada para as dores num momento tão especial. Aqui também vejo que o parto domiciliar é uma questão de escolha da mãe, e não é vista com tanto alarde (logico que, desde que a gestação não envolva riscos, etc) e é devidamente acompanhada por uma sage-femme, a doula francesa. Eu, ainda, não me sinto segura o suficiente para ter um filho em casa, que é, sem dúvida, uma questão de responsabilidade, mas procuro intervir na forma como desejo o parto, ou seja, requisitando uma luz suave, liberdade de movimento dentro do quarto, a bola suíça para auxiliar na expulsão, amamentar a minha filha antes que seja cortado o cordão umbilical e que ela fique comigo... Se tiver que vir de cócoras, que venha, se for na cama, ok, mas de uma forma que eu me sinta bem. Eu acho que falta aí no Brasil é justamente essa questão de participação ativa da mãe, mesmo que o parto seja realizado no hospital e mais, que não seja cobrado mais caro por isso, pelo contrário, a cesárea envolve custos mais elevados. De qualquer forma, eu admiro muito a postura de vocês, que defendem com a devida seriedade, a questão do nascimento do parto normal e do parto domiciliar. Vejo isso como uma pecinha a mais que se encaixa num grande processo de conscientização de encarar o parto normal, como "normal".
Um grande beijo pra vc!
Kathy,
me identifiquei muito com tudo que vc falou!
A minha experiência é muito parecida com a sua, exceto pelo fato de que quando comecei a me interessar pelo assunto "Parto Natural, etc" já estava com 7 meses de gravidez e não deu muito tempo para me empoderar, mas da próxima a coisa já está sendo beeemmmmm trabalhada!!!
Forte abraço,
Carol
Kathy,
Eu que tb tive um PNH, hj consigo olhar pra trás e ver que em 2o lugar havia medo como razão para não optar por um parto domiciliar. Mas antes do medo, havia uma certa presunção de que eu passaria batido, sem me incomodar muito com as chatices do hospital. Conclusão: cheguei no hospital e a tão esperada sala de parto humanizado não estava livre, achei terrível ter aquela recepção desumana, com cardiotoco deitada, exame de toque, mil perguntas ao mesmo tempo. Conclusão: anestesia, ocitocina foram a salvação naquele contexto. Em casa eu tinha dor, mas estava em estado meditativo, lidando com ela. Achei que uma doula e um neonatologista humanizado fossem o suficiente pra eu não me incomodar com o hospital, mas não foram. E olha que eles foram maravilhosos e eu tive muita sorte com as enfermeiras.
Fico muito feliz por ter tido um parto normal, e concordo com vc, passar por isso foi fundamental, no meu caso, pra deixar de achar que dou conta de tudo e que nem o hospital me incomodaria.Pros próximos, parto em casa, sem sombra de dúvida.
Bjs,
Tati.
Relembrando um papo antigo, continuo afirmando que é preciso ter muita coragem para um parto domiciliar. Não posso dizer que desta água não beberei, mas que no meu caso seriam necessárias muitas lagartas para conhecer as borboletas, rs...Parabéns.
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