
por: Kely Carvalho (mamífera convidada)
Quando fui convidada para escrever no Mamíferas me senti super importante! Exatamente assim! Um espaço lindo como este, com mulheres que admiro e aprendi a gostar e a respeitar.
Mas aí veio a pergunta: escrever sobre o que? Pensei, pensei, matutei... Tantas coisas que a maternidade nos faz refletir, nos faz reelaborar.
Pensei em escrever sobre a influência que a fonoaudiologia embutiu em mim, nas decisões que tomei com os meus filhos neste âmbito: usar ou não chupeta? Mamadeira? Copo com ou sem vávula? Mas não consegui, não era sobre isso que desejava escrever.
Comecei então um mergulho. Um mergulho lá atrás quando tive o Antônio, meu filho mais velho, hoje com seis anos. Engravidei sem planejar, eu tinha 20 anos e já namorava o Marcelo há dois. Morávamos em cidades diferentes e a gravidez foi um susto.
Passado o baque inicial, nos casamos, me mudei para São Paulo aos cinco meses de gestação, troquei de faculdade, comecei uma nova vida. Estudei quatro meses e logo já estava com um barrigão imenso. Decidi que não trancaria a faculdade mesmo após o bebê nascer, afinal eu tinha que provar para um monte de gente, inclusive para mim mesma, que eu ia dar conta de tudo.
Quando meu filho nasceu eu murchei. Sentia uma tristeza, um aperto no peito. Chorava dia e noite. Eu, ele e o pai. Tive problemas com amamentação, não conseguia (ou não procurei???) orientação mesmo fazendo faculdade de fonoaudiologia e isso me machucava demais.
Sempre que preparava a mamadeira eu tinha vergonha de oferecê-la, vergonha por não estar sendo capaz. Foram quase 50 dias assim: choro, choro, insônia, desânimo, perdi 18 kg nesse período. Costumo dizer que tive um pé na depressão pós parto.
Voltei para a faculdade três meses depois do nascimento do Antônio, ele já estava desmamado. Na época, me agarrei com todas as forças aos estudos. Parecia que só isso me salvaria daquela tristeza que sentia. Eu queria fazer todas as disciplinas, todos os estágios. Queria ser uma aluna “normal”, muitas vezes me achando meio heroína.
Fiquei atolada de coisas para fazer e as fazia. Às vezes, saia de casa cedinho e só voltava à noite. O Antônio, depois da choradeira inicial, sempre foi um bebê tranqüilo, o chamado “bebê bonzinho”. Não estranhava ninguém, ia no colo de todo mundo, não dava trabalho e quando tinha dois anos ficou dois meses no ES com os avós.
Aos dois anos e oito meses entrou na escola. Não chorou nos primeiros dias e era o aluno mais “obediente” da sala dele. Eu achava o comportamento dele maravilhoso, afinal meu filho era tão “independente”, tão tranqüilo, tão comportado...
Em 2004, fiz uma disciplina na faculdade sobre amamentação. Chorava durante todas as aulas, por que descobri que não havia conseguido amamentar meu filho devido a uma mamoplastia realizada em 2000, mas que havia manobras capazes de prolongar o aleitamento materno. Pena que não as encontrei antes.
Mas foi aí que descobri o que faria depois de formada. Eu ficava indignada por não ter sido orientada pela pediatra, por minha obstetra. Como alguém trabalha com gestante, com recém-nascido e não sabe absolutamente nada sobre amamentação???
Em dezembro de 2005 eu me formei e no mês seguinte descobri que estava grávida do Miguel, hoje com dois anos e cinco meses. Fiz um aprimoramento grávida e só parei às vésperas do parto, achei que fosse fazer tudo igual.
Foi então que comecei a me sentir diferente, querer coisas diferentes. O pós parto foi lindo, sem choro, só sorrisos. Eu dormia bem, comia bem, me sentia tão feliz. Parecia que vivia em dobro a felicidade. Parecia que estava recuperando a tranqüilidade que não tinha conseguido no pós parto do Antônio.
Por meio da translactação, consegui amamentar meu filho até quase os 10 meses. Muito pouco ainda, mas uma vitória para quem só tinha amamentado o primeiro até o terceiro mês. Eu não tinha vontade de sair de perto da cria, de maternar. Era bom pra ele? Era muito melhor pra mim.
Aos poucos voltei a trabalhar, mas me recusava a passar o dia todo fora. Eu podia fazer assim, eu tive esse privilégio. Poderia ter feito assim com o Antônio, poderia ter trancado a faculdade, ter provado nada pra ninguém e ter curtido meu bebê. Mas não foi assim.
Já me culpei demais. Hoje, tento acreditar que eu tive que passar por isso para crescer, para sentir a diferença, para desejar outros filhos. Eu cresci e amadureci porque consigo nitidamente enxergar a diferença.
Não me vejo sem o meu trabalho. Gosto de trabalhar fora. Sinto prazer. Ainda mais poder trabalhar com recém-nascidos, com recém-paridas. Mas é preciso viver o tempo da maternidade, é preciso maternar, é preciso nos respeitar e respeitar nosso bebê nesse momento tão especial.
Talvez se eu tivesse me planejado, talvez se minha carreira já tivesse decolado quando o meu primeiro filho tivesse nascido, talvez se... Poderia citar tanta coisa aqui, mas o talvez não existe. Por que a realidade foi outra, aconteceu de outro jeito.
Por sorte, tive uma segunda chance de viver tudo de uma forma diferente. Sem essa de me sentir menos ou mais mãe. Apenas diferente, do jeito que eu consegui, que eu pude ser.
Imagem: bebê sendo amamentado por translactação https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHkLSPw9Y9jihI6uxvwC89FQlGH_Xh8ozcX_R3ZRbEmjx2EpkqxcYOGORhAffFkeOG2hZYhygDUJEntrE13_D8gifiDXPyICBhCgvc1ngcQELRJCc0KD01ybYe1joLgOMBihJrtTcWOctk/s320/translactação.jpg
3 comentários:
Lindo, Kelusquita! Você é Você!! e dos meninos!!!
mil bjs!
Ai...
É difícil, né?
Parei de amamentar meu mais velho porque fiquei grávida da minha pequenininha, hoje com dois mesinhos....
Até hoje tenho saudades quando vejo ele sugando a mamadeira agarrado em mim a noite, na hora de dormir....
Tô até chorando... não sabia que tinha sido assim...
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