por: Kalu
19 defevereiro de 2007. Foi uma linda segunda-feira de carnaval ensolarada depois de infinitos dias chuvosos. Fomos até uma linda cachoeira deserta aqui do lado de casa e fizemos amor. Ao chegar em casa percebi que havia algo diferente em meu corpo: no lugar do cansaço, dos pés inchados, uma sensação maravilhosa de energia, vontade de abraçar e beijar. A noite chegou tranquila e meu corpo pedia movimento. Saltava agachada no quintal, sem entender o que estava fazendo. Deitamos para dormir mas eu não conseguia. Não era insônia, nem dor, só uma vontade de caminhar.
A noite estava tão estrelada... Fui para o quintal caminhar, meditar. Vi o sol nascer. Fechei os olhos e mergulhei para dentro de mim. Vi seu rosto, exatamente como você o mostra agora. Ao acordar havia uma linda borboleta amarela pousada em meu ventre que voou para cima da florida Acassia.
A manhã nasceu brilhante e havia mais um indício da sua chegada: a marca na calcinha indicava a perda do tampão. As contrações estavam fortes, irregulares, absolutamente indolores. Chamei as parteiras que acompanhariam meu parto. Fiz um delicioso café e decorei a casa com muitas flores nativas. Elas chegaram, avaliaram e concluíram que era mais um alarme falso. Quase meio-dia fui descansar.
Que lindo sonho tive aquele dia: caminhava em um palácio de cristal e debaixo de uma cachoeira, que em vez de água fluia energia, vi um lindo ser angélico surgir e me entregar um bebê brilhante em meus braços. Depertei. eram quase 15 horas da tarde do dia 20 de fevereiro.
Sentia um leve incômodo na lombar. Teria sido da cachoeira, pensava eu? Enquanto seu pai assistia a um filme cubano, senti vontade de me isolar. Fui para seu quarto ajeitar as suas roupinhas. Organizei cada gaveta em um silêncio profundo quebrado apenas por um mantra.
Às 17h a bolsa rompeu. Já não havia dúvidas que sua chegada estava próxima. Seu pai ligou para as enfermeiras e eu decidi tomar um banho, dentro do chuveiro senti uma grande vontade de fazer cocô. Sentada senti uma força grande e algo que parecia revirar minhas entranhas. Não era dor e sim a força mais intensa que senti na minha vida. Passei a não e senti sua cabeça e os fio de seu cabelo.
Como uma fêmea selvagem expulsei seu pai de lá. Em seguida chegou a enfermeira acreditando ser outro alarme falso. Quando ela viu sua cabeça, me levou até o quarto. Ainda me lembro de ter olhado o céu e visto uma estrelinha debaixo de uma lua minguante, a lua de Shiva. Ao som de om namah shivaya, um mantra que significa - eu honro Deus que habita meu coração- você nasceu em mais 2 ou 3 contrações que foram acompanhados de um gemido vindo da alma e uma sensação tão intensa que se assemelhava a um orgasmo.
Às 17h57, hora auspiciosa para meditações, você nasceu e ainda com o cordão veio para meus braços. Cabelos negros que ao longo desses anos clarearam. Boca rosada e um olho de jabuticaba. Me olhou como se agradecesse por minhas escolhas e meu sorriso era minha oração por você ter chegado de uma forma tão sagrada, semeando tantas bençãos em minha vida.
Levantei da cama, enquanto seu pai te segurava, para tomar um delicioso banho. Depois banhei você em uma água barrenta de dar dó. Sentei no sofá da sala, em êxtase, enquanto ligava para os familiares para contar de sua chegada.
Nestes 2 anos estivemos tão unidos que desafiamos a matemática: 1 + 1 era 1. Aos poucos você aprendeu a engatinhar, caminhar, correr e pular. A cada dia busca sua própria identidade, faz suas escolhas individuais. E neste dia, em que você completa 2 anos, vejo que somos 2, unidos pela mágica da relação mãe e filho.
Um dia li que os anjos querem vir à Terra para experimentar o amor. E tenho a certeza que os anjos mais especiais tem a dádiva de receber o prêmio de experimentar o maior amor do mundo, aquele que só quem é mãe é capaz de tentar descrever, sem êxito, porque de tão grande não cabe em palavras.
2 comentários:
Kalu, que lindo isto que escreveu!
Deu pra visualizar cada momento.
Beijos e parabéns pro Miguel e estes dois aninhos de pura alegria.
LINDO! Tô me acabando de chorar aqui...
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