por: Kalu
Batidas na porta do meu escritório em casa:
- Mamãe, flô pa você!
Lá fora um pequeno ser, segurando uma flor amarela que colheu em seu passeio matinal na rua. Virou as costas e foi pegar um livro para ler, acompanhado de uma menina de 15 anos que ajuda nos cuidados dele enquanto trabalho.
Contrariando as previsões que ouvi desde de que ele nasceu, meu filho não se tornou uma criança anti-social por mamar até hoje. Nem manhoso ou inseguro por não receber tapas e gritos. Ele reconhece minha autoridade, sem autoritarismo. Nunca recorri ao autoconsolo, neguei colo, amor ou carinho. E o que vejo é que meu investimento na maternidade geram frutos doces.
Me lembro quando Miguel era recém-nascido. De nada sabia sobre estes pequenos seres. Só me parecia instintivo dar peito e colo sempre que solicitasse. Uma vez me disseram:
- Dê chupeta para você descansar e seu filho não ficar tão dependente de você!
Mas eu não temia a dependência. Estava disposta a me dedicar inteiramente para aquele ser. Era a missão que tinha abraçado. Sabia que como uma lagarta, ele teria seu tempo de ficar no casulo do meu colo, nutrindo-se do essencial: amor, leite e proteção.
Depois o vi tentando voar, ainda no chão. Ia para lá e para cá, sempre buscando meu olhar. Aprendeu a andar segurando nos meus dedos e olhando em meus olhos, entregue na confiança gestada nos primeiros meses. Trocou o balde pela bacia e hoje toma banho de chuveiro. Tira a própria fralda para fazer xixi e me mostra que iniciaremos uma nova etapa da vida.
Hoje ele está com quase 2 anos. Ainda me solicita muitas vezes, mama em livre demanda. Mas já fica bem longe de mim, curtindo o amor das tias e dos avós. Interessa-se por outras crianças, sem morder ou brigar. Tem preferência pelas mais velhas para imitar e aprender o que ainda não sabe. Compreende quase tudo que lhe é solicitado e colabora a maior parte das vezes.
Com ele aprendi que doença é uma forma do organismo criar sua própria identidade. Aliás, nestes 2 primeiros anos entendi o que se passa na vida e no mundo de uma maneira concentrada: as crises são constantes como os aprendizados! Depois de uma febre, o engatinhar, a fala ou uma nova habilidade. Depois de uma regressão alimentar ou de comportamento, um novo momento.
E assim vamos caminhando, eternamente revezando entre os papéis de professor e aluno. Com ele vou aprendendo a ser mãe, assim como ele aprende as habilidades do nosso mundinho, com referências culturais e sociais de nossa casa. Juntos, de mãos dadas, oras cantando, oras chorando, mas sempre cientes que nossa ligação é incrivelmente transformadora e além da compreensão.
Imagem: http://img.olhares.com/
9 comentários:
Se eu nao fosse tao heterossexual, eu me ajoelharia e te pediria em casamento agora!
Sua sorte é que eu sou mto biológica...
Que lindooooo! *_*
que lindo Kalu! me identifico muito com seus textos, seu modo de criar o miguel... é um incentivo para continuar seguindo neste caminho com meu pequeno caio, de 9 meses!
eu de novo... aproveitando a deixa: vc ainda dá mamá em livre demanda? bom saber! continuo dando mamá para o Caio, e pretendo seguir assim, mas tenho sentido o mamá algumas vezes atrapalhando a alimentação... aí comecei a tentar dar uma "regulada", mas me senti contrariada por dentro... no seu caso não atrapalha a alimentação? você podia escrever sobre isso!
Thais,
Já me senti muitas vezes como você. Miguel era uma criança gordinha até 6 meses. Depois ficou mais magrinho. Passamos muitas fases que ele trocou a comida pelo mama. Demorei para entender mas isso não é atrapalhar a alimentação. Eu vejo que em tudo, nada é linear. Começam a comer, depois regridesm, depois avançam, retrocedem. A pior coisa que fiz foi regular o peito. ele ficava P da vida. Chorava horrores. E eu me sentindo indo com a maré e contra minha intuição. Foi qd o pediatra dele disse: até 1 ano o melhor alimento para seu filho é o LM. Então desencanei. Dava papinha. Se ele queria mamar, dava de mamar. Depois, começava a comer até chamar a atenção dele. Vou escrever sobre isso na sexta.
Beijos
Dydy, Thaís e Lele: obrigada pelas lindas palavras.
Beijos
legal Kalu, vou aguardar o texto de amanhã então!
bjs
Thais,
Tá la! Espere que goste.
Kalu, é muito bom ler seus textos. Fico sempre muito comovida e me vejo refletida nas suas atitudes. A Nina está com mania de puxar cabelos e por mais que isso me incomode, e por mais que eu fale com firmeza para ela não fazer mais isso,sempre matenho uma atitude amorosa, seja qual for a situação.
Bjs,
Tati.
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