Às vezes me sinto sozinha sobre as decisões em relação à educação do Miguel. Em meu meio familiar e de amigos não há ninguém que tenha uma conduta semelhante a minha. Todo tempo sou questionada e pareço, muitas vezes, um livro de argumentação. Além das listas, minhas companheiras de blog e você, leitora, me sinto caminhando no deserto.
Meus companheiros são os livros de antroposofia, os depoimentos da lista e minha intuição. Meu marido sempre me elogia, mas nunca corre atrás de informações. Um dia deu um tapa na mão do Miguel. Falei sobre a violência doméstica, sobre a legitimação da agressão. Ele concordou e nunca mais o fez. Outra vez, o Miguel bateu a cabeça no móvel e ele prontamente bateu no objeto e disse:
- Feio, feio!
Lá fui eu explicar que ele faria o mesmo com as pessoas. Nas férias, o pessoal da minha família pegava uma coisa do Miguel e dizia:
- Isso é meu!
Logo ele gritava:
- É meu!!!!
E eu explicava para não fazer isso para que ele não ficasse egoísta, que o melhor era pegar algo e dar para ele e dizer: Eu empresto.
Muitas vezes me sinto uma chata vigilante. Mas fico perplexa com a incapaciade das pessoas pensarem nas consequências dos seus atos, no desrespeito constante com as crianças e comigo.
Em meio a um churrasco sempre ouço críticas por eu não dar carne a meu filho. Argumentam que eu escolhi não comer carne quando adulta. Sempre digo que meu filho poderá escolher o que fazer no futuro, mas terá argumentos da razão de suas restrições.
Quando ele vê as pessoas comendo carne ou tomando refrigerante ele diz:
- Isso caca! Suco bom...
Fui eu quem ensinei e já ouvi horrores por isso. Eu me sinto só a maior parte do tempo, buscando questionar, fazer diferente, oferecer o melhor, ensinar meu companheiro a fazer o mesmo. E no fim sempre me pergunto: será que estou fazendo o certo?
16 comentários:
eu amo as outras mamiferas, ams tu é muita chata, te liga, daqui uns dias ele cresce e vai ver q se tornou um chato por culpa tua
Kalu!!
Também somos vegetarianos e criamos nossa filha assim. Claro que ouvimos críticas, sempre falam o mesmo pra gente: vocês escolheram ser vegetarianos quando adultos, deveriam dar o "prazer"(?) dela comer carne... e desde já a ensino que aquela carne vem daquele bichinho que foi torturado e morto para nada, porque não precisamos de carne para sobreviver (ela só tem um ano, eu sei, mas alguma coisa deve entender).
Continue com suas convicções sim, vc não está fazendo errado, pelo contrário. Quem cria os filhos somos nós, e não os outros. E é isso que falamos para aqueles que nos criticam.
Kalu, entendo perfeitamente o que se passa contigo. Na maioria das vezes me sinto nadando contra a corrente também.
Já tive até que brigar com pessoas da família do meu marido porque queriam dar refrigerante para a minha filha, ela acabou de fazer um ano.
Acho o fim da picada as pessoas tentarem impor o modo como vivem à minha família. Eu não faço isso com a família de ninguém.
Já cansei de ver as outras crianças tomando refrigerante de hora em hora como se fosse água e comendo porcaria o dia todo, nem por isso fui lá dizer aos pais como eles devem criar seus filhos. Cada um cuida da própria família como acha que deve. Quem quer vai atrás de informação e faz suas escolhas. Só digo algo quando pedem a minha opinião e como eu costumo ser sincera, isso acontece poucas vezes.
Sabe, eu não preciso que admirem como criamos os nossos filhos, se apenas nos respeitassem eu já estaria muito satisfeita.
Continue criando seu filho da maneira linda como vem fazendo. Tenho certeza que ele é uma criança muito feliz.
Desculpe-me pelo comentário gigante.
Kalu,
Assim como você sinto-me uma estranha no ninho. Percebo uns olhares tortos, mas raramente as pessoas falam para mim, porque não dou espaço. É assim que posso não agradar, mas ganho respeito.
Sei que sou tachada de chata, dona da razão, metida a sabe tudo, mas ninguém ala na minha cara, porque eu e meu marido nos impomos.
Em dias que estou muito cansada já me questionei, mas era só cansaço mesmo, porque estou muito feliz emfazer o que eu acredito e não seguir com a boiada.
Força aí!
ai Kalu, é assim mesmo...
eu só acho que a gente não pode levar as coisas muito a "ferro e fogo" pois fica como a "chata de plantão", a "estraga prazeres", eu pelo menos penso assim, não porque me preocupo em agradar os outros, mas porque independente de minhas convicções eu gosto de ter "amigos" mesmo que eles sejam diferentes de mim.
as pessoas precisam se acostumar com nossas ideias aos poucos, devagar, com jeitinho, e bom humor é o melhor para lidar com situações de conflito, ao invés de vc dizer:
- não é assim fulano! q tal:
- fulaninho lindo, oq vc acha...
sei lá, é so meu jeito mesmo...
beijo pra vc e acredite nas suas convicções pq errando ou acertando a gente é que é a mãe!
Oi Anonimo querido! Aprendi que não é possível ser sempre querida. Este post foi um desabafo de uma mãe que mora longe da família, em outro estado há 2 anos e com uma restrita rede de contatos.
Em meus estudos sobre comunicação não-violenta aprendi a comunicar a partir do coração. Mas quando se faz tudo diferente (leia parto em casa, não-vacinação, homeopatia, brinquedos pedagógicos) os questionamentos são constantes. Ainda bem que existem outra mamiferas que também passam por isso. Obrigada por todos os comentários.
Olá Kalu! Só passei para dizer FORÇA!
Eu aplaudo a maneira como vocês mamíferas se preocupam, se informam e agem para que os filhos cresçam com valores diferentes dos que passam na tevê. E agradeço muito, porque lendo o blog de vocês estou me educando e tenho aprendido muito para que, algum dia, quando for minha vez de ter filhos e educá-los, saiba ouvir mais o coração e a intuição e menos a opinião alheia.
Vocês são dez!
Cumprida, o sorriso do Miguel diz mais sobre a sua maternidade do que mil balanças, exames, ou um coro de pedagogos.
Kalu,
Tenho muitas escolhas a cerca da criação de Luna em comum com a criação que você dá a Miguel.
Alguns até tentam dar pitacos, mas eu ouço e faço "ouvidos de mercador".
Eu tenho tentado fazer meu melhor pela minha filha. Isto é que me move sempre.
Bjkas e força!!!
Kalu, me sinto como você, e concordo com tudo que foi dito, com exceção é claro do anônimo. Também moro longe da família e amigos e não consegui fazer nenhuma amizade mais forte com as mães que conheço por aqui, justamente por serem todas "anti-mamíferas". É duro se sentir diferente, mas se acredito na meu jeito de ser, tenho que aguentar isso.Fico impressionada de perceber que a maioria segue o que os outros fazem, sem pesquisar, sem perguntar, sem ir atrás de opções. Isso serve para o tipo de parto, para alimentação, para educação.Estou procurando escola para o Davi, e uma mãe teve a capacidade me falar para colocar na escola X, porque todos do nosso prédio estudam lá. Quanto aos palpites dos outros sobre alimentação, simplesmente não dou chance deles saberem o que o Davi não come (carne, alguns tipos de doces e refrigerantes basicamente), ajo normalmente, tiro ele do ambiente das comilanças, invento alguma coisa. Acho melhor do que ficar explicando meus motivos. Beijos. Andrea
Eu, como um ´pai que nunca corre atrás de infs´, confio tanto nas que recebo e vejo o fruto disto no sorriso, na alegria e no ótimo genio e comportamento do Miguel que sinto que posso negligenciar este aspecto. Não por desinteresse, mas por existirem tantos outros temas a preocupar e acho este aspecto educacional diferenciado tão certo e em tão boas mãos....
Mas repetir sem originalidade como a maioria faz, faz de vc um ´inserido no meio´ e aí ninguém questiona afinal, vc rema a favor da correnteza igualzinho a todos.....e aí vemos um mundo tão legal e tão cheios de valores importantes que passamos a achar a Xuxa uma ´educadora´, que ensina brincadeiras e etc.
É de morrer de rir!!!Prá não chorar, claro!
Kalu,
tenho certeza de que você goza da sensação de que está fazendo o melhor possível. Acho que isso já é um grande passo. Agora, o que é certo? O que é errado? Estamos sempre questionando dentro de uma lógica que inclui verdades absolutas, como se tudo pudesse ser rotulado. Acho que, talvez, se você puder racionalizar menos e deixar as coisas fluírem um pouco mais, você se sinta melhor e mais confiante.
Boa sorte!
Kalu,
Acho louvável sua preocupação em proporcionar ao seu pequeno filho tudo aquilo que você gostaria de ter recebido ou vivido. Concordo em parte com os seus argumentos, entretanto parece-me que você está tendo dificuldades em dosar seus ideais e relacioná-los com a criação de um novo ser que mais cedo ou mais tarde precisará encarar o mundo lá fora repleto de coisas, pessoas, comidas ou estilos de vida dos quais você o esconde.
É certo tentar achar uma terceira via que seja mais compatível, entretanto fugir à realidade e abster-se de preparar o seu filho para o mundo pode proporcionar conseqüências desastrosas para o futuro de seu pequeno. Embora eu questione não oferecer proteína animal para uma criança, aceito que não haverá grandes males caso a alimentação seja bem diversificada. Não vacinar uma criança, entretanto, é uma temeridade da mesma intensidade da proibição religiosa de não doar sangue para um enfermo.Um ato de extremo egoísmo é submeter um filho à inúmeras doenças apenas para provar um ideal.
Sou mamífera, praticante de yoga e tive a felicidade de parir meu filho de forma natural numa piscina. Acho um grande desafio tentar criar uma criança de uma forma mais humana, mas sei da importância de preparar o meu pequeno Yan para o mundo ele irá encontrar em sua vida e vivo o desafio de educá-lo para o mundo e espero que minhas palavras despertem em você a consciência do perigo ao qual está subemtendo seu filho.
Kalu, eu ainda não sou uma mamífera. Mas acompanho diariamente o blog e tenho uma admiração muito grande por você. Espero poder seguir o mesmo caminho que você, te tenho como uma inspiração.
Imagino como seja difícil lidar com tudo isso. Já sou tão questionada por todos por ter feito escolhas diferentes pra minha própria vida.. Imagino o chumbo grosso que vai vir quando estiver criando os meus filhos.
Mas, com a mesma certeza de que estou fazendo o melhor pra mim, é que vou seguir na maternidade.
Quando alguém te acusa de privações, perigos e afins, na verdade é o tipo de pessoa que escolheu não questionar. Aceitou o senso comum e vai seguindo. Não se informou tanto, não seguiu seus instintos naturais, não procurou o melhor caminho. Aceitou o caminho já traçado como o melhor. Que pode ser o melhor? Até pode. Mas você sente que seja? Eu não sinto.
Então que sejamos a mudança que queremos ver no mundo.
Beijão pra você!
Muito obrigada por todos os comentários. Acho que no dia que coloquei este texto estava mais "pesada" que o normal. Na maior parte das vezes lido com as diferenças com bastante leveza e alegria, na certeza que estou fazendo o melhor. Aliás, sentir-me diferente sempre foi uma condição, desde o nascimento. Não podia ser diferente com a maternidade. Sempre fui chata por questionar a corrente e remar contra ela.
Muito obrigada por todas as palavras e pela imensa força.
Ananda,
Desculpe, mas sou obrigada a questionar essa sua comparação descabida da não-vacinação com a recusa de uma transfusão de sangue. Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra, são circunstâncias absolutamente diversas, com motivações absurdamente distintas. Veja bem, em uma emergência, uma transfusão de sangue é a ÚNICA chance de se salvar uma vida. Não existem opções, não existem outros caminhos. Ou se faz a transfusão, ou a pessoa morre. Com a vacinação, é bem diferente. Vacinar deve sim ser uma opção. Porque vacinar não é a única forma de cuidar da saúde. Aliás, a comparação mais uma vez se revela absurda, porque quem recusa transfusão de sangue tem motivos religiosos, embasados em crenças pessoais sobre questões espirituais e/ou metafísicas, enquanto que quem não vacina o faz por questões bastante racionais, crenças objetivas e argumentos sólidos. Eu não vacino minhas filhas, e ninguém me convencerá de que as estou expondo ao perigo com essa atitude. Pelo contrário. Para mim, expô-las ao perigo seria bombardear o organismo delas, especialmente em uma fase tão delicada quanto a primeira infância, com uma série de vírus e componentes químicos, para protegê-las de doenças que podem ser evitadas de outra forma. Para quem não vacina, trata-se de enxergar a saúde de outra forma, não apenas como "ausência de doença", mas como algo muito mais amplo e complexo. Cuidar da saúde das minhas fihas não é apenas evitar que elas adoeçam. É estar atenta ao equilíbrio físico/mental/emocional do organismo delas, é cuidar da alimentação, é dar amor, é estar ao lado delas quando algum desequilíbrio se instala e alguma doencinha aparece, e ajudá-las a fortalecer o organismo para que combata por si mesmo a doença que se instalou. Como você pode ver, é algo bem mais complexo do que você pintou no seu comentário. Se estiver disposta a pesquisar um pouco mais sobre a não-vacinação e o grande engodo da indústria farmacêutica, sinta-se à vontade para me escrever (rp-rodrigues@uol.com.br), que podemos conversar mais a respeito.
De resto, Kalu, força na peruca aí, querida, conecte-se com o teu Miguel, deixe falar mais alto o teu coração de mãe, que tudo vai caminhando no rumo certo!
bjos
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