por: Kalu
Tapas, chineladas e surras de cinta fizeram parte da minha infância. Ainda hoje me lembro com um sentimento de revolta e submissão da violência que sofri. Minha mãe só replicou um modelo que ela aprendeu com a minha avó, e esta, com sua mãe. Assim como se dá com as idéias que a sociedade têm sobre o nascimento. De geração em geração replicam-se mitos e a pseudo glória da cesariana.
Nas conversas de famílias sempre ouvi críticas àqueles que não batem em seus filhos, acompanhadas de um julgamento: Por isso o menino é daquele jeito...
A sociedade valoriza a palmada como forma de educação. Meu questionamento sempre foi: ninguém bate para educar, em um estado calmo e consciente. Os tapas sempre são uma explosão de raiva e ignorância.
Em minha busca pessoal passei a procurar formas de entender a violência. A primeira coisa que descobri é que a agressividade, muitas vezes confundido com violência, é um instinto de sobrevivência. Ela, em si, não é algo ruim. É a agressividade que nos faz reagir em determinadas situações para salvarmos as nossas vidas e de outras pessoas.
Olhando meu filho vejo que a agressividade é a busca por impor suas vontade, que também não é algo negativo. O grande desafio é ensinar como estas vontades podem ser expressas de maneira não violenta. Acredito que o maior de todos os ensinamentos é nosso exemplo. Podemos fazer mil cursos de como falar sem agressividade, entender que chantagem é violência, gritos e descaso também. Mas o que funcionará como exemplo é a maneira como lidamos com as situações em nossas vidas. As crianças têm radares que captam tudo e seguirão os modelos de cordo com suas personalidades.
Por isso meu primeiro passo por uma criação não-violenta foi conhecer e ampliar minha zona de paciência através da meditação, yoga e repetição de mantra. Mantra, aliás, significa feramenta da mente. Sempre que sinto que estou perdendo meu contole, recorro a repetição do mantra para voltar a meu foco e optar por uma ação enérgica, mas sem violência.
Miguel tem 1 ano e 8 meses e se gritei com ele 3 vezes foi muito. Estes gritos foram dados em momentos em que estava descontrolada emocionalmente (cansaço, estresse, TPM). Com cada um deles aprendi a imaginar como naquela situação poderia fazer diferente. Sempre evitei falar não ou exigir cautela extrema. Se o Miguel estava no sofá, geralmente peço: tira o sapato para não sujar o sofá. (rs). Ele pula de um lado para o outro, mas nunca caiu. Também não mexe nas coisas. Sempre que ele chegava perto dizia: este é da mamãe, vamos brincar de outra coisa?
Minha política foi sempre da troca. Se ele pega algo perigoso eu pego algo dele e peço: dá esse para a mamãe? Vamos brincar com este brinquedo. Na maior parte das vezes ele cede e vamos brincar juntos. Aliás, esta negociação só funciona porque estou disponível, tenho tempo para negociar no tempo dele. Nos ataques de birra eu o deixo chorar. Não ignoro, mas também não tento distrair ou abraçar (tentei algumas vezes e o resultado foram uns tapas que recebi). Em minutos ele pede colo e peito, e olho no olho explico que ele pdoeria ter agido de outra forma. E geralmente, nas próximas ocasi~oes semelhantes, ele faz diferente.
A não-violência foi o caminho que encontrei para ser uma mulher mais amorosa, uma mãe menos violenta. Meu exemplo, antes de tudo, é possibilidade de fazer diferente do que vivi e ver se perpetuar um modelo para uma sociedade pacífica. Estou no caminho e busco me aprimorar a cada dia.
. E vocês, como agem com seus filhos? Evitam tapas e gritos?
imagem: http://www.gettyimages.com.br/
4 comentários:
Oi Kalu, eu evito de todas as formas e procuro sempre conversar com ela... e é incrível como isso reflete positivamente, todos a elogiam por ser tão calma, doce e delicada, mas tenho certeza que se ela convivesse num ambiente barulhento e violento também seria assim, vejo pelas pessoas que convivo.
Na escolinha dela tem um menino que sempre morde, chuta, belisca, grita e ela por ser a única menina é alvo constante dele, quando conheci a mãe do garoto entendi tudo! O pobrezinho não tinha absolutamente culpa nenhuma, com uma louca daquelas como mãe... hahaha
Tudo que a gente planta, colhe. isso é fato!
Meu bebê tem dois meses e nessa semana estou passando pelo primeiro enfrentamento (com ele e comigo). O temperamento dele é doce e carinhoso. Mas, tem exagerado na dependência. Só quer dormir comigo e está testando limites: acorda a cada 15 minutos,dá uma espiadinha com um olho e se percebe que não está no colo... lá vem o gritedo. Isso interrompe minhas necessidades de estudar (especialização, preparação para uma seleção para mestrado e um concurso público) e de trabalhar (assessoria de imprensa muuuuuito remota). Estou quase o tempo todo com ele, nunca nego mamá, nem colinho para fazer nana, nem o tempo que ele precisa para pegar no sono... mas, tem sido difícil conviver com a pressão dos compromissos, pouco sono... agora mesmo ele está me interrompendo. Nunca consigo terminar o que comecei. Já explodi com ele duas vezes, falando alto (mesmo sem gritar, fiquei surpresa com minha reação). A sensação é de frustração por não saber controlar a minha angústia, nem ter a possibilidade de dar a ele o carinho que ele espera. Tá ficando difícil não ser violenta...
Stella querida,
Um bebê de 2 meses não tem capacidade de fazer birra. O que eles têm é necessidade de estar perto, de uma mãe disponível. Imagine se vivêssemos na epoca das cavernas? Um bebê fora do colo, seja por segundos, seria devorado por predadores. Estar no colo é uma reação natural. Essas mamadas freqnetes de 15 em 15 minutos fazem parte de um salto de crescimento, adequação de demanda de leite, amadurecimento do sistema digestivo/intestinal. Meu filho, nesta mesma fase passou por isso. Para evitar o estresse, a depressão pós-parto (baby blues) sugiro a você adiar suas atividades profissionais. Sei que nem sempre isso é possível, mas seria o ideal. Querida, o que são 6 meses de exclusividade na vida de um ser humano? Nadinha! São tempos fundamentais para amamentação, vínculo. O que teu filho pede é natural e válido: dedicação exclusiva para ele se desenvolver. Vc usa sling? Ajuda muito! Se quiser conversar mais me escreva kalubrum@yahoo.com.br
Sinta-se abraçada e acolhida.
Oi Kalu,
Compartilho da mesma opinião que você e tento também respeitar os momentos em que meu filho realmente não está bem.Sim, acredito que ele também tem seus momentos de "stress". Quando sinto que ele precisa desabafar, não tenho muita reação para distraí-lo.
Todas as vezes, pego-o no colo, deixo ele chorar um pouquinho e tento conversar perguntando o que pode estar errado, porque ele está choramingando e como ele acha que podemos fazer pra resolver. Todas as vezes, essa maneira de tentar compreendê-lo deu certo e me sinto feliz. Acho que assim, ele começa a se conhecer melhor e eu também.
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