por: Kalu
Com o Miguel nos braços, conectado ao peito e mamando com volúpia, ouvi a enfermeira me dizer:
- Você sentirá mais uma contração e dará a luz a sua placenta.
E assim aconteceu. Ela nasceu e imediatamente a segurei. Devia ter uns 2 quilos, vermelha e no centro o umbigo. Era a casa do meu filho, um grande pedaço de mim que se desenvolveu para abrigar e nutrir meu anjo. Ela foi colocada carinhosamente em um balde e deixada para ser plantada no dia seguinte.
Meu plano de parto para minha placenta surgiu dias antes do Miguel nascer, quando ganhei de um amigo uma árvore chamada Grumixama, que dá um delicioso fruto semelhante a uma jabuticaba. Ao receber o presente imaginei que debaixo dela poderia estar a minha placenta.
No dia seguinte do nascimento, com o Miguel nos braços, coloquei a placenta em uma cova rasa, recém cavada. Joguei um pouco de terra e disse:
- Que você seja devolvida à grande Mãe Terra e possa nutrir esta árvore. Você é o símbolo de um evento sagrado de nossas vidas.
Em seguida meu marido colocou a pequena muda, acabou de cobrir com terra enquanto cantava um mantra tibetano de paz.
Aqui no quintal ela passou por algumas estações. Eu e Miguel diariamente a visitamos e ele sempre diz:
- É do nenê!
Sempre que passamos por ela, conto a história daquela árvore que cresce enraizada à vida do meu pequeno.
Hoje, em nossa exploração diária, descobri o primeiro fruto, nascido nesta linda e quente primavera. Retirei a jabuticaba e dei para o Miguel comer. Ele deixou um pouquinho e pude sentir o gosto mais doce e inesquecível: o fruto da vida.
Naquele néctar revivi as bênçãos que recaíram sobre mim desde que me tornei mãe, lembranças do meu parto e do ritual que surgiu espontaneamente dentro de mim para sacralizar, através da placenta, a chegada de meu filho a esta vida e a união dele com esta Terra.
Entre lágrimas percebi que coisas simples, feitas com consciência, tornam-se referenciais únicos e simbólicos. Cada vez que vejo aquela árvore que cresce, primavera pós primavera, assim como meu filho, encanto-me com a magia da vida.
E você, o que fez com sua placenta e o que pretede fazer nos próximos partos? Isso é importante para você?
Leia a carta que Aurea escreveu para sua placenta.
Imagem: www.gettyimages.com.br
3 comentários:
que lindo esse texto e a idéia por trás dele Kalu!!! eu me arrependo de não ter olhado com mais atenção para minha placenta, ou mesmo ter pensado num ritual... Quem sabe no próximo parto!
bjs
thaís
Amei seu relato. Ainda não tive filhos mas quero que seja algo assim, intenso, espiritual, divino! Ainda não tenho nada em mente, mas acho q na hr a gente encontra o caminho! A única certeza é q quero um parto domiciliar, apesar do meu marido se apavorar com a idéia pq moramos no meio do mato, há 15 km da cidade!
Adoro as coisas q vc escreve!
Beijo!
Que bonito o seu relato! No meu caso, não tive nenhum apego à minha placenta. É como se a vida útil dela se encerrasse ali, no final do parto, e a vida do meu filho seguiria sozinha, independente dela a partir daquele momento. Só me lembro de ter visto aquela coisa gosmenta, parecida com um fígado de boi. Não dei importancia... Naquela hora, só tinha olhos para o meu Gabriel. :o)
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