por: Tata
Há pouco mais de um mês, coloquei no blog das meninas uma foto de cada uma saboreando um pirulito - o primeiro da vidinha delas, com pouco mais de 3 anos. Eu nem esperava tanto, mas a reação das pessoas foi curiosa. Muitas amigas me escreveram perguntando como eu havia conseguido "controlar" a alimentação delas por tanto tempo, adiar tanto a hora das porcarias. Todas contavam como haviam tentado a mesma coisa com os próprios filhos, sem sucesso.
Talvez essas mesmas pessoas se surpreendam agora, ao ouvir que, aos 3 anos e 4 meses, minhas filhas nunca tomaram refrigerante, não chupam bala, nunca comeram no McDonald's e nem imaginam o que sejam bolachas recheadas ou salgadinhos de pacote.
Eu acho que uma das premissas básicas pra levar isso numa boa é o exemplo. Das coisas que citei acima, a única que eu mesma consumo, e bem de vez em quando, são as bolachas recheadas. De resto, nem elas, nem eu, nem ninguém aqui em casa.
Sempre acho estranho quando vejo alguém contando: "lá em casa sempre tem refrigerante na geladeira, mas meu filho sabe que não pode tomar", ou "eu consumo porcarias porque não resisto, mas meu filho sabe que é coisa pra gente grande". Pra mim, quando a gente quer ensinar bons hábitos aos filhos, coerência é tudo. A lei do "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço" raramente funciona.
Antes das meninas nascerem, apesar de não consumir porcarias como hábito, minha alimentação tinha muito mais deslizes do que tem hoje. Não que eu seja rigorosíssima, cometo meus excessos de vez em quando e ainda pretendo melhorar bastante nesse sentido, mas com elas, para ensiná-las e preservá-las de hábitos alimentares que futuramente lhes podiam fazer muito mal, passei a fazer escolhas mais cuidadosas, a me alimentar com mais consciência. Sempre penso: se não dou pra elas porque faz mal, porque eu mesma vou consumir? Pra mim, não faz o menor sentido.
Já perdi a conta de quantas vezes ouvi comentários do tipo: "mas elas não comem bala?? tadinhas!!", ou "puxa, mas assim elas vão passar vontade!!". Parece difícil para as pessoas entenderem que não é porque todo mundo faz, que deve ser feito.
Minhas filhas não sofrem pela alimentação que têm, nunca sofreram. No dia a dia, consomem com gosto uma infinidade de frutas, verduras e legumes. Quando vamos fazer a feira juntas, é uma verdadeira festa: "mamãe, compra isso!! mamãe, eu quero aquilo!!!". Outro dia, no supermercado, uma delas chorou desconsoladamente porque não encontrávamos quiabo! Elas não comem porque são forçadas, comem porque gostam, porque sempre nos viram comendo, porque criaram o hábito de se alimentar bem de forma tranquila e natural.
Por outro lado, aos poucos vamos liberando aqui e ali pequenos gostos que, afinal, nós também curtimos: quando vamos a um restaurante e elas capricham no prato de comida, pedimos um sorvete de sobremesa. Sem cobertura, sem melecas adicionais, só o sorvete. Pra elas já basta, elas já saboreiam como quem tem diante de si um verdadeiro manjar dos deuses. Em festinhas de aniversário, elas comem bolo, brigadeiro, sem neuras. Mas o curioso é que elas mesmas já definem seu limite: comem dois, três brigadeiros e já enjoam, dizem que não querem mais. Algumas garfadas de bolo e pronto, já estão satisfeitas. Creio que o primeiro passo para que elas tenham uma relação bacana com a comida, sem deixar de ter prazer em comer mas sem perder de vista a importância dos hábitos saudáveis, já está dado.
Cada família sabe quais são seus valores e limites e, mais uma vez, e como em tudo na maternidade, não existem regras absolutas. O que existe é a coerência, a consciência dos caminhos que se escolhe e, claro, o respeito por quem escolhe diferente.
Não consigo deixar de achar curioso quando ouço argumentos do tipo: "mas o seu filho vive num mundo onde todo mundo come porcarias, por quanto tempo você acredita que vai conseguir mantê-lo afastado disso??". Acho curioso, porque em um mundo tão cheio de caminhos tortos, conceitos deturpados, valores questionáveis e atitudes repreensíveis como o mundo em que vivemos hoje, se criamos os filhos para agir como a maioria, que espécie de futuro estaremos criando?
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Não crio minhas filhas para serem E.T.s, apenas as crio de acordo com o que considero correto. Se há, do lado de fora, meia dúzia ou meio milhão de pessoas pensando igual a mim, sinceramente, isso é o que menos me importa.
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Nossa sociedade associa muito as noções de afeto e comida, principalmente o açúcar. Por isso tantos adultos com problemas de obesidade, com dificuldades para controlar-se diante de um prato de comida, descontando suas frustrações e sentimentos mal-resolvidos na alimentação. Por isso a dificuldade das pessoas de relacionar-se com uma criança, de fazê-la sorrir, de lhe fazer um agrado, sem lançar mão de um docinho aqui, uma porcariazinha acolá.
;ç;;
Mas eu desejo me relacionar com minhas filhas de outra forma. Pela compreensão, pela pele, pelo toque. Pelo coração, não pelo estômago.
Imagem: http://www.gettyimages.com.br/
* Título de livro de Sonia Hirsch
7 comentários:
Por essas e outra sou fã desse blog.
Mais uma vez, disse tudo!
Beijos
Dani Garbellini
Adorei Rê !!
Aqui em casa também estamos em processo de evolução alimentar, estou procurando melhorar cada vez um tico a mais. E Isabela também faz uma festa com brócolis ou vagem !!
Beijocas
Renata, adorei o seu texto. Até imprimi e levei pra minha mãe dizendo: "Olha que legal, as filhas dela só experimentaram pirulito com mais de 03 anos e nem tomam refrigerante". Minha mãe respondeu: "Olha quem está falando, a Sofia nunca comeu bala, pirulito, nem refrigerante...".
Renata, acredito muito no que você falou. Espero que com a Sofia eu consiga mantê-la longe desses doces o maior tempo possível, porque depois ela poderá se esbaldar. Hoje no almoço no Sesc ela pediu xuxu e arroz integral, para os olhares espantosos da fila e o coração orgulhoso da mãe e do pai, rs...
Beijos a vc e suas pimentas
Que lindo! Puxa, quando 'crescer' e tiver meus próprios filhos, quero ter a firmeza de conceitos que você tem e não deixar terceiros interferirem. Parabéns!
Concordo plenamente com vc, e pelos comentários vemos q não somos tão poucas, tenho inclusive a ajuda da escola dos meus meninos, que não vende bala, bolacha recheada e salgadinhos por exemplo. Tenho certeza que estamos criando pessoas mais saudáveis e com recursos para fazer suas escolhas quando a hora chegar.
Bjos e parabéns
RE
Aqui em casa tb não rola doce!
Mas vc sabia que as crianças amamentadas tendem a gostar menos de doce?
bjoas
lindo seu post, re!
o joaquim tb não conhece bolacha recheada e salgadinho de pacote! não chupa bala, nem chiclete. pirulito de vez em qdo ele ganha em alguma loja (odeio essas lojas que dão doces pras crianças!) e eu deixo ele chupar, pq é mto raramente mesmo.
mc donalds ele conhece pq o pai dele leva de vez em qdo, qdo estão no shopping aí em sp. eu nem reclamo, pq, além de ser raramente, acho q é um direito do bruno levar o joaquim aonde ele preferir, desde que não seja um hábito.
os hábitos alimentares dele são bacanas, assim como os nossos. ele come todas as frutas, mtos legumes e verduras. mas infelizmente eu sou viciada em coca zero! estou tentando parar de tomar (de verdade), e sempre evito tomar perto dele, mas de vez em qdo ele acaba vendo na geladeira e eu coloco uns dois dedos pra ele, sempre explicado que faz mal, que tem que evitar... na maioria das vezes consigo trocar por um suco natural... faço a mesma coisa com balas,pirulitos e etc, qdo tem mta criança perto comendo, ofereço pra ele uma fruta ou até mesmo açaí com granola! acho que nesses casos até o chocolate é "menos pior" do q esses doces cheios de açúcar e sem nenhum valor nutritivo, né?!
aqui em casa eu vou negociando e explicando as coisas, mas realmente, o exemplo é tudo nesses casos!
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