Quando a gente engravida se depara com os terríveis, implacáveis e indesejáveis palpiteiros de plantão. Eles surgem dos cantos mais inesperados e soltam frases como:
- Nossa, como sua barriga tá pequena! Você está com 5 meses e não aparece nada? Minha prima ficou assim e o neném dela nasceu com o pé no umbigo, uma tragédia!
Depois, quando sua barriga está grande, lá estão eles na espreita:
- Que barriga gigante! Está muito baixa. Vai nascer já! Você vai tentar normal? Shiii. A sobrinha da minha amiga teve um bebê que morreu por_________ .
(a) falta de oxigenação, (b) circular de cordâo, (c) infecção por mecônio.
(a) falta de oxigenação, (b) circular de cordâo, (c) infecção por mecônio.
Minha opinião é que este intensivo da gravidez é apenas um teste de paciência que você vai precisar cursar o doutorado com o bebê no colo. O bebê na barriga, na mente dessas pessoas, é quase patrimônio público. O bebê nascido é uma certeza.
É preciso muita informação, cercar-se de profissionais verdadeiramente capacitados para não cair nas armadilhas da palpitaria.
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Nesta semana reunida com mulheres do ambiente coorporativo, fiquei surpresa com o número de frases de domínio público:
- Minha bebê nasceu de cesárea porque não tive dilatação
- Mas você estava com contrações?
- Não, mas tinha passado da hora. Já estava com 39 semanas.
Outra:
- Marquei cesárea porque minha filha tinha o cordão no pescoço. A gineco não quis arriscar.
Aí solto o discurso que não existe mulher que não tenha dilatação e que um bebê pode nascer com 42 semanas ou mais. E o Miguel nasceu de parto domiciliar com 2 circulares de cordão.
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O difícil não é quando estes palpites vem de pessoas comuns, mas quando surgem de origens perigosas que vestem branco e carregam canudos.
Um outro fato que me choquei foi com os discursos que ouvi sobre amamentação:
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- Minha mulher não tinha leite. O bebê mamava e continuava a chorar de fome. O pediatra mandou dar NAN.
Ou ainda:
- Eu dava peito e complementava com mamadeira. Com o tempo minha filha escolheu a mamadeira. Acho que meu leite era fraco.
Sinceramente eu não acredito que uma mulher não tenha dilatação ou leite (salvo raras anomalias físicas). Acredito que esta mulher cercou-se de pessoas que não acreditam na força do corpo e da natureza, assim como ela mesma. Quando comecei a fazer yoga, minhas mãos chegavam só até o joelho com a coluna dobrada. Eu realmente não tinha flexibilidade. Eu perseverei, mes após mes e hoje consigo apoiar toda a palma no chão. O que me fez continuar? A certeza de que aquela atividade me traria benefícios e não desisti mesmo sentindo muita dor e incômodo.
Acredito que o mesmo se dá com as respostas fisiológicas. Algumas mulheres alcaçarão uma dilatação mais rápida, com a sensação de mais ou menos dor, mas todas terão em tempos diferentes. Uma mulher pode ter dificuldades para amamentar, mas com ajuda, informação correta ela não precisa valer mão dos complementos. A anestesia pode ser substituída por banhos de chuveiro, massagem ou banheira. A necessidade de sugar do bebê aliviada com peito e disposição de uma mãe descansada.
Mas para perseverar é preciso saber o porquê das coisas. Por que o leite materno é melhor? Por que um parto natural é melhor? Sem ter estas respostas claras a gente desiste fácil e aceita as ofertas dos primeiros palpiteiros de plantão.
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Me lembro que uma moça que fazia massagem em mim depois do parto me disse:
- Nossa, seu bebê chora muito. Não deixe de dar chupeta para ele ficar mais calminho. Se chorar você pode comprar NAN (que nunca tinha ouvido falar) e dar para ele. Assim você vai poder descansar. Meu filho é uma criança tranquila porque nunca fui radical.
Esta frase foi um divisor de águas na minha maternidade. A mulher colocou o pé na rua, o Miguel parou de chorar. Coloquei ele no peito, não dei chupeta e muito menos mamadeira. Logo descobri que ele chorou tanto porque identificou logo o perigo da palpitagem. Estes mamíferos sabem o que é bom: peito a vontade, aconchego e tapa-ouvidos à prova da palpitaria.
Imagem: http://www.gettyiamges.com.br/
2 comentários:
É...
palpiteiros são assim, um saco. Ai Deus, que preguiça que dá. Eu vivo ouvindo coisas por aí que só Deus.
Outro dia na minha sala de aula uma menina comentou que a Poodle dela estava com uma barriga enooooorme, quase pra parir. Aí vira uma criatura (e que, diga-se de passagem, quer ser enfermeira obstetra) e solta "Vão fazer cesárea nela?" e a dona da cachorrinha "Não" e a criatura "Será que ela aguenta?"
Ai, socorro! Até as pobres cadelinhas agora estão caindo nas garras da cesárea! Onde esse mundo vai parar?
Kalu,
Conheci o blog de vcs pela indicação da Ti (http://blogdati.wordpress.com/2008/08/31/mamiferas/) e me identifiquei muito!
Tenho dois filhos: Yumi, que nasceu de parto normal e Kazuo, de parto natural. Nem preciso falar que todo mundo me chamava de louca, masoquista e tudo o mais, porque eu queria ter parto natural. Tive e não me arrependi. Aliás, foi a melhor coisa que fiz!
Contei sobre meu parto em http://zdezebra.blogspot.com/2008/08/parto.html .
Também já me irritei muito com os palpites que ouvia quando estava grávida - e com a mania que os outros têm de achar que barriga de grávida é "patrimônio nacional". Se quiser conferir:
http://zdezebra.blogspot.com/2008/01/tira-mo-da-minha-barriga.html
Abraços e parabéns pelos textos e pelo blog!!
Andréa
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