por: Tata
Sempre acho estranho quando ouço alguém falar em bebês fazendo manha, bebês agindo assim ou assado para controlar os pais, para dominar a situação, esse tipo de coisa. Eu ouvi muito isso quando as meninas eram pequenas. Lembro especialmente de uma situação aqui em casa, as meninas tinham menos de um mês, uma delas chorou e eu imediatamente a peguei no colo, e uma visita (não muito desejada, diga-se de passagem) logo arriscou um palpite: "Nossa, mas ela já está muito manhosa. Não pode ficar tanto no colo assim não. Acostuma elas assim que você vai ver quando elas estiverem pesadas...".
Já imaginam, né? Sim, cara de paisagem. Mas sempre fico passada quando ouço esse tipo de comentário, principalmente por me dar conta do quão comum e repetitivo é esse tipo de raciocínio na nossa sociedade.
Eu não acredito em bebês fazendo manha, em bebês mimados, mal-acostumados, mal-educados (acreditem, eu já ouvi isso) ou qualquer rótulo semelhante. Eu acredito que bebês têm necessidades vitais, instintivas, e profundamente sinceras. Para sentirem-se seguros em um mundo tão estranho, tão barulhento, tão cheio de novidades, e tão diferente de tudo o que estavam acostumados no aconchego do ventre materno, precisam de proximidade, de calor, de pele, de toque. Simples, não? Mas tanta gente insiste em complicar.
Eu nunca me preocupei em "acostumar mal" minhas meninas. Simplesmente porque não compartilho dessa opinião que "carinho demais estraga". Eu acho que carinho, amor, aconchego, nada disso tem medida. Quanto mais, melhor. E isso não só enquanto são bebezinhos, não. Acho que carinho, colo, afeto, toque, é bom pra vida inteira, sem economia.
Minhas filhas sempre tiveram - e têm - todo colo do mundo. Todo carinho, todo aconchego. E não acredito que isso as tenha "estragado" de forma alguma, pelo contrário. São duas menininhas felizes e sorridentes, de bem com a vida, com seus momentos de braveza como qualquer criança - e aliás, qual é o adulto que não tem vontade de esmurrar uma parede de vez em quando? - mas nada que precise ser rotulado como um problema.
Aliás, minha teoria a respeito - que vem sendo largamente comprovada pela minha experiência com as pimentas - vai exatamente no sentido contrário. Para mim, a criança que tem mais colo, proximidade, carinho, peito, nessa primeira fase da vida, é exatamente aquela que vai se sentir mais segura para exercer sua independência - quando chegar a hora, porque afinal, há hora para tudo nessa vida, não é mesmo?
Por outro lado, aquela criança que é desde cedo 'moldada' para a independência, com pouco colo 'para não acostumar', com disciplina desde bem pequenino 'para não ficar mimado', aquela criança que é constantemente deixada sozinha num berço ou num carrinho mesmo pedindo atenção, porque afinal 'chorar nunca matou ninguém', acredito que tenha mais dificuldades de adquirir segurança e confiança nos que a cercam. Afinal, foi-lhe constantemente reafirmado que ela deveria se virar sozinha, certo?
Eu acho que vivemos em uma época exageradamente aficcionada pela noção de independência. É como se, quando se tem um filho, fosse necessário doutriná-lo para bastar a si mesmo o mais rápido possível, para ser auto-suficiente o quanto antes, para precisar o mínimo possível de atenção, carinho, aconchego ou o que for, sob pena de tornar-se um 'pequeno tirano' futuramente. Pra mim, um absurdo total.
Nossos filhos crescem muito, muito rápido. E rápido tornam-se independentes, rápido ampliam as fronteiras de seus mundinhos, rápido se desaninham de nossas asas e vão bater as suas.
Quando isso acontecer com as minhas, sei que não vou poder conter um tantinho de tristeza, afinal, mãe é mãe, né? Mas vou estar com o coração tranquilo, feliz da vida de saber que dei o melhor de mim para que esse dia chegasse, e elas pudessem voar com tranquilidade, alegria e leveza. Livres, feito dois passarinhos.
Imagem: http://www.gettyimages.com/
7 comentários:
Concordo plenamente com você!
Todo mundo precisa de colo, sempre, a vida toda...esse papo de independência e auto-suficiência me deixam doente...eu mesma fui criada assim, pra ser "mocinha" logo cedo...não gostei não...
Abraço,
Leilah
Ah Rê,
Putz, muito bom !
bjs
Eu concordo com tudinho mesmo, e sempre ouço alguém me dizer "Deixa chorar!" eu pergunto na lata: "Você gosta de ser largado chorando? Precisando de alguém e ninguém te atender?"...acho muito injusto isso e quero que minha filha saiba que comigo ela pode contar sempre, e acho que é pra isso que a gente serve também, pra dar colo sempre que eles precisarem....
beijos
Caramba, como agente ouve isso. Quem é mãe recentemente então. TODO MUNDO DIZ que estamos acostumendo mal as crianças.
PArce que cresceram e esqueceram que carinho é bom.
: )
tata, lendo você lembro da minha mãe imediatamente. Foi assim que fui criada: com muito amor, muita dedicação!!!
Peço a Deus que eu consiga fazer o mesmo pela minha filhota.
Bjkas,
Carol
Tata, falou tudo!
Colo sempre!!! enquanto pedirem e quiserem!
Suas palavras me dão forças para continuar acreditando que estamos criando adultos felizes...
bjo
PS: porque suas imagens não aparecem mais???
Concordo TO-TAL-MEN-TE!
Sempre achei surreais:
* livros disciplinadores - sei que há alguns "ensinando" pais a "ensinarem" os filhos a terem noites "maravilhosas" de sono, em seus berços "maravilhosos bem longe dos pais, eu mesma ganhei um desses, que por sinal nunca li -
* a ideia de que às vezes é preciso deixar o bebê chorando pra "educar"
* comentários do tipo "é bom pra incentivar a ser independente" quando se refere a bebês de poucos meses.
Gente, essas ciranças tem tanto tempo pela frente pra serem independentes...deixem que sejam dependentes enquanto são filhotes. Já houvi dizer que o filhore humano é considerado filhote até em torno dos 3 anos, e acredito muito na ideia de que é preciso ser muito dependente nesse período, é preciso ganhar muito colo etc pra que tenham bases seguras pra ganhar o mundo quando fora hora. Aos poucos, é claro, é preciso que os deixemos ir conquistando essa independência, mas eles mesmos nos darão os sinais quando for a hora.
Essas bizarrices que escutamos são, pra mim, justificativas para as próprias mães, que não querem filhotes dependendo delas.
beijo
Renata
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