por: Tata
Não tem jeito. Depois que os filhos nascem, o relacionamento do casal muda. É muita coisa nova acontecendo, um ritmo novo para a vida e para as rotinas da casa, novas prioridades, novas decisões, novas escolhas que se apresentam. Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.
Além de tudo, marido e mulher, que antes estavam voltados somente um para o outro, passam a exercer dois novos papéis: além de marido e mulher, são agora pai e mãe. A relação, antes uma via de mão dupla que fluía tranquilamente, passa a ser triangulada. Há uma terceira ponta que chega pra transformar tudo, e não deixar pedra sobre pedra.
Sim, os filhos mudam a nossa vida. Não dá pra negar. O relacionamento do casal faz parte disso, e não fica imune, passa a ser outra coisa, diferente do que era antes. Agora, diferente não significa pior. Se a coisa vai rolar de uma forma bacana, trazendo aprendizado e crescimento para todas as partes envolvidas, e inclusive fazendo nascer um relacionamento homem/mulher mais inteiro, intenso e forte do que era antes, só depende de como a gente encara.
Não, não é fácil. Tem os primeiros tempos com o bebê, aqueles meses em que ele é prioridade absoluta, e nessa fase fica mesmo difícil concentrar-se em algo que não seja aquele serzinho tão inteiramente dependente. A mãe amamenta o tempo todo, mal tem tempo para si, os poucos momentos que sobram são usados para comer, tomar um banho de um minuto e meio, tirar um cochilo vapt-vupt no sofá da sala. E o marido, onde fica nessa estória?
Já ouvi de amigas, e não foi uma vez só, que a mulher "tem que tomar cuidado para não esquecer do marido nessa fase". Uma delas chegou a dizer uma vez algo como "contratei logo uma babá, senão eu ia perder o marido e acabar sozinha com meu filho". Não consigo deixar de ficar estarrecida com esse tipo de raciocínio, porque me lembra uma mentalidade do século passado, onde o papel da mulher era "dar conta" de tudo: filhos, marido, casa. Como se a família, e os filhos, e os cuidados com a rotina familiar em geral, não fossem uma responsabilidade conjunta. Como se coubesse à mulher estar com a casa em ordem, a comida quentinha no forno, os filhos arrumadinhos e alimentados, e pronta para receber o marido, calçar-lhe os chinelos e, após servir-lhe o jantar, cumprir com suas "obrigações conjugais". Péra lá, né, gente?
Ter um filho é um projeto conjunto. E não tem melhor forma de viver esse nascimento de uma família do que estando todo mundo junto, todos de mãos dadas, mergulhando lado a lado nessa experiência tão fantástica que é colocar um filhote no mundo. Sim, vão haver dificuldades, cansaços, distâncias temporárias, diferenças. Tudo isso é normal. Mas se a gente encara tudo isso com amor e companheirismo, o resultado final é uma relação a dois redescoberta, renascida, renovada. Um compromisso reafirmado, laços mais fortes, mais verdadeiros. Um amor verdadeiro só tem a crescer com a chegada dos filhos, disso não tenho a menor dúvida.
Uma relação de amor não é só cinema com pipoca, jantares românticos, sexo gostoso e flores no dia dos namorados. Uma relação verdadeira vai muito além disso. É curtir cada passo dado junto, é dar as mãos nos momentos de dificuldade, é poder contar. É passar pelas fases difíceis, superar e rir muito depois, olhando pra trás e relembrando como tudo parecia tão importante, e no entanto passou tão rápido.
Tornar-se pai e mãe não tira da gente ser marido e mulher. Pelo contrário. Se a gente permitir, pode só acrescentar. Porque na relação com um filhote, quando a gente se abre, descobre um infinito de possibilidades. Novas formas de amar, de se doar, de compreender o outro. A gente se descobre mais generoso, mais afetuoso, mais tolerante. Descobre dentro de si um amor que nem sabia que tinha pra dar. E tudo isso também faz da gente melhores companheiros para o homem/a mulher que ama.
E além de tudo, poucas coisas na vida são tão gostosas quanto ver o cara que a gente ama com o nosso filhotinho nos braços, os olhos brilhando de tanta ternura, o companheiro que a gente escolheu carregando nos braços aquele pedacinho misturado de nós dois. Descobrir num olhar distraído, num gesto cotidiano, traços daquele por quem a gente se apaixonou a ponto de querer tornar-se um.
A gente se apaixona de novo, mais e mais, a cada dia.
Imagem: http://gettyimages.com.br/
6 comentários:
UAUUUUUU!!! Muito bom seu texto.
Oi Tata.
Na correria do dia-a-dia a gente nem se dá conta de algumas coisas. Esse seu texto encerra a mais bela, singela e pura verdade, e me faz lembrar de como amo meu marido mais e mais a cada dia, mas de uma forma que tb se transforma a cada dia, especialmente depois que nos tornamos pais.
Incrível como me identifico com várias das coisas que vcs escrevem...acho que sou uma mamífera tb...rs
Me irrita tanto esse papo de que preciso cuidar do meu marido, do meu casamento...isso rela princiapalmente porque me recuso a viajar sozinha com ele, carrego a minha filhota pra todo canto que vamos, ou então simplesmente me recuso a ir. Porque a criança já está praticamente uma adulta, tem quase 3 anos! Se ela mamou até 2 anos e meio, como poderia ter viajado sem ela até então??? Me sinto uma ET às vezes,e vir aqui me faz um bem danado porque leio pessoas que, mais do que me entenderiam, falam minha lingua!
beijo!
Renata
Mamíferas queridas, vocês têm bola de cristal? Esse texto na véspera do meu aniversário de casamento? hahaha
Tata, você falou muito bem sobre essa parceria de ter um filho e formar uma família mamífera.
Bjs,
Dani
Mamãe do Arthur a quase quatro meses
Casada com Emiliano a quase quatro anos
Lindo, lindo, lindo! Parabéns. Sou leitora assídua do mamíferas, mas nunca havia me manifestado nos post's.
Me chamo Suani, sou de Caxias do Sul/RS e tenho dois filhotes lindos, o Murilo de 5 anos fruto de um relacionamento que tive aos meus 18 anos, e agora estou grávida de 6 do Francisco, de um namoro curto mas intenso e apaixonante. Não há como não ter medo desse mundo novo, até então eramos eu e o Murilo, e agora entra uma nova casa, um "marido" e um novo filho. Medo de perder a condição de mulher e ser somente mãe, colocar algo que poderia ser duradouro por causa da rotina do lar e dos filhos me apavora. Esse teu texto me fez refletir e ver que posso sim ter uma família bonita, sermos pai e mãe, mas também homem e mulher.
Post encaminhado para o papai do Francisco, compartilhar uma leitura realista e agradável é ótimo.
Add vocês ao meus links.
Um super beijo!
Suani, Murilo, Francisco.
Achei tão legal seu texto Tata. Eu e meu marido sempre tivemos esse 'temor' em relação a ter filhos...com o passar do tempo fomos ficando mto 'só nós dois' e acabamos achando q um filho poderia abalar esse nosso mundo. Estamos juntos há 7 anos e só agora conseguimos conceber e amadurecer a idéia de ter uma família. A vida é assim mesmo, cada pessoa tem seu pprio tempo né? E acho que foi melhor assim...
Bjos!
Leilah
é verdade
relacionamento´vai alem de cenas de cinema, seja qual for
bjovas
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