por: Tata
pulsa dentro, aqui no ventre
o meu rebento que eu nunca tive
vive preso ao meu desejo
de concebê-lo, tão calmo e livre
sonho enquanto eu canto
esse acalanto que o faz ninar
durma, que está escuro
não tá seguro pra se acordar
tenho pressa que o mundo mude
de atitude, pra recebê-lo
por enquanto arrumo o quarto
adio o parto, pra protegê-lo
(...) *
o meu rebento que eu nunca tive
vive preso ao meu desejo
de concebê-lo, tão calmo e livre
sonho enquanto eu canto
esse acalanto que o faz ninar
durma, que está escuro
não tá seguro pra se acordar
tenho pressa que o mundo mude
de atitude, pra recebê-lo
por enquanto arrumo o quarto
adio o parto, pra protegê-lo
(...) *
Ouvi muito essa música durante a gravidez das meninas. Antes de engravidar, já a conhecia, mas nunca tinha parado para prestar atenção na letra. E de repente, sem que eu me desse conta, aquelas palavras fizeram todo sentido do mundo pra mim.
É intenso esse sentimento quando a gente está colocando um filhote no mundo. A gente pensa em toda a loucura, a violência, a maldade, as guerras, a sujeira, o egoísmo, enfim, tanta coisa ruim que a gente vê acontecendo todos os dias. Às vezes, dá mesmo medo de trazer uma vidinha tão inocente, tão frágil e suscetível para essa bagunça toda.
Mas tem o lado bom, que vem depois que os filhotes nascem, e a gente vira leoa para defendê-los de qualquer coisa ruim que possa chegar perto. A parte boa é que a gente fica mais consciente, passa a lutar mais pelas coisas que acredita, a se indignar mais pelas coisas erradas.
O que a gente quer para um filho é tudo e mais um pouco. A gente quer vê-los livres, intensos, inteiros, plenitude e pureza. A gente quer embrulhar o mundo, bem embrulhadinho com laço de fita colorida, e colocar nas suas mãos tão pequenas e disponíveis, para que façam dele tudo o que sonharem.
Quando a gente tem um filhote, fazer um mundo melhor passa a ser não mais um sonho distante, um ideal da juventude ou uma utopia esquecida pelo meio do caminho. Passa a ser um imperativo presente. A gente quer mudanças, não para nós, mas para eles. Quer que eles tenham ar puro pra respirar, uma sombra de árvore pra descansar, alguém para dar a mão, um mundo bacana para explorar, descobrir, desvendar.
O mundo não é perfeito. O ser humano é falível, coisas ruins acontecem, não dá pra evitar. Também não dá pra manter os nossos filhotes em uma redoma, protegê-los de tudo. Mais cedo ou mais tarde, eles vão tomar contato com essa loucura toda que está aí, não tem jeito. Não tem como fugir, a não ser que a gente pegue os pequenos nos braços e vá se esconder numa montanha bem isolada no meio do Tibet (e nem assim, que no Tibet a coisa também não anda fácil).
O importante é a gente fazer a nossa parte para mudar, nem que seja um pouquinho. Cada um fazendo a sua parte, cada um dando seu passinho, por menor que seja, no final das contas junta-se tudo e a caminhada toda fez a diferença.
E principalmente, ensiná-los a dar seus passos também. Ensinar a não se anestesiar diante do que está errado, a agir com consciência, a ter compaixão, a fazer não só por si, mas também pelo outro.
Afinal de contas, eles são o futuro. E isso não é só um clichê. É verdade também.
* letra de Ivan Lins, gravada por Leila Pinheiro / Imagem: http://www.gettyimages.com.br/
Um comentário:
Tata, fiquei emocionada com o que você escreveu. Concordo absolutamente, claro. O velho "Lutar com unhas e dentes pra termos direito ao depois"... OU melhor, para eles terem o direito. Danielle Steel uma vez escreveu que, ao aceitarmos a maternidade, entramos em uma dança de amor que não sabemos aonde irá parar. Enfim, to me sentindo rasa demais para escrever coerentemente a respeito. Parabéns e boa sorte para todos´nós.
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