Há quem chame a menstruação de "monstra". Mas ela é o grande presente que nos foi oferecido. Através de nossos ciclos internos de nascimento e morte, nos renovamos. Nosso ventre fica cheio de sangue que se transforma em alimento para a vida que crescerá neste ninho de carne. Quando o ciclo não se completa, o corpo se esvazia em seu luto de vida.
O mundo valorizou o tempo linear e gregoriano. O calendário como dos Maias é lunar, com 28 dias perfeitos. Da mesma forma segue nosso ciclo feminino. O ser humano se afastou da natureza quando dominou seus ciclos. Talvez por isso, hoje, tantas mulheres não gostam de menstruar. Afinal, neste mundo de 60 minutos e 24 horas, precisamos ser produtivos. Exigem que sejamos sempre Luas Cheias, iluminadas, férteis, bem-humoradas. Se abraçamos esta ilusão, nos desconectamos de nossa essência selvagem.
O resultado é que, por vezes, sofremos de depressão, ausência de libido. Se negamos a vida que se mostra para nós sempre, em forma de sangue, acabamos por extinguir a nossa própria força feminina. Surge TPM, as cólicas doloridas, os cistos, miomas e os infinitos efeitos colaterais daquilo que chamam de monstra, as feridas de nossa feminilidade.
Talvez esta dor que muitas mulheres sentem, antes da menstruação, seja o trabalho de parto que todos os meses nosso feminino ferido emite. É nossa mulher selvagem pedindo para nascer e ser acolhida em nós, respeitada em sua face que os homens deformaram e nos fizeram acreditar que é de uma "monstra".
Mas é esta mesma essência que traz a chave de uma nova vida. É ela quem faz nascer a Loba, a Leoa, a Mamífera. Quando a conhecemos de perto, essa mulher selvagem nos faz querer nosso canto solitário para parir e, às vezes no lugar da dor sentir prazer. Acredito que nossa intimidade com ela é quem vai fazer com que nosso parto seja tranquilo e transformador, que os ciclos femininos da amamentação sejam orgânicos e prazerosos.
Essa mulher selvagem nos habita e dá sinais claros de sua existência em forma de sangue. Como a Lua Nova que parece não estar no céu, mas que renova a vida. É nosso presente, nossa limpeza interior, momento de acolhimento. Depois o ciclo se retoma e somos Cheias de novo de nossa maior dádiva, a feminilidade.
Quando abraçamos essa nossa essência, celebramos a paz, a cooperação, aquilo que acolhe. O respeito ao feminino é uma forma de transformar o mundo, tirá-lo da roda masculina, do Yang e dar um pouco mais de flores, silêncios, pausas,úteros e afetos.
Sugestão de Leitura:
Mulheres que correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola: Ao longo dos séculos, as mulheres domesticaram seu lado selvagem, a porção criativa e energética do seu ser. Abordando 19 mitos, esta analista junguiana afia as garras da energia vital feminina.
3 comentários:
Engraçado, outro dia ouvi essa expressão pela primeira vez...achei tão bizarro.
Nunca dei muita importância para a menstruação - nem de forma negativa, nem positiva. Mas foi quando fiquei quase 2 anos sem ela, porque amamentava minha filha, que me dei conta do quanto ela fazia falta.
Sobre o livro indicado, há anos está na minha cabeceira. E minha terapeuta faz um trabalho maravilhoso baseado em alguns contos desse livro: um grupo de mulheres que se reune em 6 encontros mensais, de um dia de duração cada, pra ler os contos e fazer trabalhos corporais, arte-terapia e trocar. Já foram 12 grupos aqui no Rio e atualmente está acontecendo o primeiro em SP. Se tiverem interesse em informações sobre esse trabalho me falem, posso mandar o folder e um email com os detalhes.
Beijo
Renata
Oi Kalu,
Eu sou uma das que chama de "monstra", rsrssr
Gozado, que foi um termo adquirido nas listas, mais por conta da tristeza dela ter vindo, sinônimo de uma não gestação do que por outro motivo.
Qdo adolescente, sempre achei um saco. Sofria muito, cólicas, um horror!!
Depois que Cora nasceu, acho que muita coisa mudou...
Não dou mais a importância negativa que dava antes, não tenho tb mais as cólicas que tinha antes.
O único inconveniente para mim são os absorventes, detesto usar aquilo.
Mais hoje, tenho consciência que a "monstra" faz parte integral da minha vida e da minha existência. Talvez até seja por isso que nunca mais passei mal!!!
Coisas da mulher que nasceu, naquele parto domiciliar....
bjssssssss
Nossa, nunca tive problemas com a menstruação. Sempre levei numa boa...Tenho amigas q usam anticoncepcional ininterruptamente para que ela não venha...acho isso um crime contra a natureza...
Quanto ao livro, já o li uma vez, retomei sua leitura há alguns dias. Acho q agora estou em um outro momento da minha vida onde vou absorvê-lo de maneira diferente, melhor.
Bjos!
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