É inegável que toda mãe quer o melhor para seu filho. Minha mãe fez duas cesarianas, ofereceu-me complemento quando tinha 1 mês e desmamou-me com 4 por conta da gravidez da minha irmã. E no discurso dela, todas as decisões tomadas foram pela busca do melhor para todos. Mas, como nascem as mamíferas?
Bem, existem alguns pontos comuns neste universo que chamamos de mamíferas. Mulheres que buscaram um parto mais humano, às vezes depois de uma cesárea ou um parto muito aquém dos seus sonhos; A luta pela amamentação exclusiva e prolongada; Os filhos que são olhados muito além de pesos e medidas; A gestação tem menos exames e mais relação.
Algumas mamíferas praticam cama compartilhada, não acham que colo e choro podem estragar um bebê. Outras tratam com homeopatia, consideram a febre sinal de saúde e não medicam por qualquer bobagem.
Nós mamíferas não encontramos apoio no mundo comum. Como encontramos tantas informações diferentes na terra dos palpites? Afinal existem pouquíssimos ginecologistas que são a favor de um parto normal. Natural então.... Poucos pediatras apoiam a amamentação exclusiva e prolongada. Como nos encontramos? Como nascemos?
Acho que cada uma tem sua história. A minha começou quando estava 26 semanas e resolvi ir a uma palestra do GAMA. Lá fiquei sabendo de várias coisas que nem imaginava:
- Um bebê pode nascer com mais de 40 semanas;
- Cordão no pescoço não é indicação de cesariana;
- Não é preciso fazer ultrasson em todas as consultas de pré-natal (sim, meu médico só me pesava e fazia ultrasson)
- Não existe mulher que não tenha contração ou dilatação;
- Não é preciso raspar os pêlos, fazer lavagem intestinal, exame de toque, episiotomia antes do parto;
- A ocitocina dada no soro acelera o trabalho de parto, mas faz com que as contrações sejam mais intensas e dolorosas fazendo com que a mulher tenha maischance de pedir anestesia;
- O cordão não precisa ser cortado imediatamente;
- O bebê não precisa ser aspirado, retorcido ou receber colírio de nitrato de prata.
Neste dia, com estas informações, algo mudou dentro de mim. O nascimento poderia ser um evento biológico, divino e mais humanizado. Estava acompanhada de minha mãe que viu cair por terra todos seus falhos argumentos. Depois fui compartilhar de minhas descobertas com meu médico. Demorou algumas consultas para que conseguisse falar. Ele estava sempre com o consultório cheio e quando mencionava discutirmos o parto ele dizia que era precoce esta conversa. Foi então que um dia entrei no consultório, já com 33 semanas, e disparei a falar:
- Dr, não quero anestesia, raspagem de pêlos, episiotomia. Quero ter o direito de caminhar e comer durante o trabalho de parto, assim como escolher a melhor posição para meu filho nascer. Terei uma doula para me acompanhar. Você aceita fazer um parto assim?
Com uma cara de desdém ele me disse:
- Em 30 anos de profissão nunca fiz um parto que uma mulher não pedisse anestesia. A ocitocina vai acelerar seu trabalho de parto evitando que você tenha uma ruptura de útero. A episiotomia evita que você não precise fazer tanta força e tenha que realizar depois uma cirurgia de períneo. Dependendo do tamanho do bebê você pode ter lacerações que irão compromenter para sempre sua vida sexual. Mas se você quer um parto assim, acho que você não precisa de médico. A medicina oferece soluções para facilitar a vida e tecnologia para amenizar o sofrimento da mãe e bebê.
Como já tinha tomado a pílula vermelha, sabia que tudo aquilo não passava de terrorismo. Aquelas informações poderiam ter me seduzido, mas porque não surtiram efeito?
Ao meu ver eu já havia passado por questionamentos sobre a medicina tradicional em minha vida. Fazia 10 anos que me tratava por homeopatia, 4 que praticava yoga e meditação e 3 que estudava reiki. Sabia que doença tem um fundo emocional; que dor não é sofrimento; que febre é cura. Na hora de meu filho nascer, negar o que a terra doa palpites me oferecia foi algo muito fácil.
Parti para convencer meu marido para aceitar um Parto Domiciliar e o resultado foi um parto dos sonhos. Menos de 1 hora de trabalho de parto, só senti dor no expulsivo, quase não houve tempo da enfermeira chegar. Miguel não chorou ao nascer, mamou com o cordão conectado que foi cortado pelo pai. 40 minutos depois do parto levantei e fui tomar banho.
Miguel mamou exclusivamente no peito até 6 meses e mama até hoje com seus 19 meses. Não toma remédios. Há 4 dias está com febre de mais de 38 graus por conta de uma dor de garganta. Apesar do meu cansaço sei que ele está fortalecendo seu sistema imunológico e eu minhas certezas e virtudes.
Mas eu não seria ninguém sem as listas da materna_sp e best baby. Estas listas para mim são como a voz da minha consciência. Quando uma erva daninha cresce em meu jardim mamífero corro para lá para recuperar minhas certezas.
Agradeço a Áurea (Kathy), que foi minha colega de escola e que resurgiu pouco antes de meu parto e me apresentou este grupo de mulheres, que a meu ver, constroém os alicerces para uma nova sociedade, mais humana e feita de amor, respeito e paz.
E você, como nasceu a mamífera de dentro de sua história?
Imagem: Kalu e Miguel no momento do nascimento, foto tirada pelo paterno Maurício.
6 comentários:
E você ainda quer me agradecer???
Eu que deveria agradecer por poder conviver com tanta coisa boa que você nos ensina todo dia. BEIJOS NOS PÉS, Mamífera!
Aiaiaiai...
Que delícia ler seu post!!!E reler,e ler de novo!
Kalu,muito obrigada pro partilhar conosco suas vivências!
Bjos
Eu ainda não tenho filhos, estamos planejando para o próximo ano, por isso tenho buscando informações, tenho tentado me familiarizar mais com esse processo todo. Sempre quis ter um parto o mais natural possível, mesmo com as pessoas ao redor me colocando milhares de medos e, como trabalho em casa, quero amamentar meu filho o máximo possível. Aqui em casa somos meio naturebas, não nos medicamos, procuramos uma alimentação saudável e orgânica e acho q crescendo num ambiente assim vai ser natural pro meu filho seguir esse caminho...i hope so!
Estou mto feliz por ter encontrado esse espaço, estou me sentindo mto mais segura em relação às minhas intenções. Sempre tive um lado mamífera aqui dentro e a cada dia sinto isso mais forte dentro de mim!! Obrigada!
Durante minha gravidez, eu sentia uqe faltava alguma coisa... Só fui achar depois, na Parto Nosso. De lá passei para a Bestbaby e é sem exagero que digo que é um grupo singular.
Tornar-se uma Mamífera, sair da matrix deixa, em certa medida, um legado de solidão e descompasso. A gente anda contra a maré o tempo todo... Mas o grupo, sem dúvida, dá um apoio extraordinário.
Eu queria muito um PD na próxima gestação, mas sei que será muito difícil morando aqui, porque todo mundo ia ter que viajar, e viajar sem data marcada talvez seja complicado, não sei... Mas quero muitíssimo um parto normal, o mais humanizado possível.E esse é um dos Projetos de vida da gente...
Ai, gente, quando possível, será que rolava um artigo sobre o processo de... Conversão dos nossos esposos? Eu acho muito interessante como isso acontece, e acho que merecia uma entrada aqui, especialmente para quem acessa o Blog e não está na lista.
Um super abraço!
Jobis, sugestão anotada!!
pode deixar que assim que der a gente fala sobre isso aqui!
bjos e obrigada pelos comentários!
Minha experiência de parto foi uma cesárea indesejada e de emergência. Tudo que vc aprendeu no meio da gravidez só aprendi depois que minha filha nasceu, mas ainda assim agradeço por ter aprendido, ainda que tarde!
Tb uso homeopatia há algum tempo, e tive contato com a antroposofia, portanto entendo o que vc diz a repeito da febre, da doença. Embora tenha vacinado minha filha, poucos reméos ela tomou, hoje está com 2 anos e 10 meses. Me tornei uma mãe quase sempre segura. Sei que ainda tenho muito a conquistar, mas não tenho dúvidas de que estou no caminho certo.
Só que agora estou tentando engravidar de novo e pretendo fazer tudo diferente dessa vez. Mas é uma luta contra tudo e contra todos, viu? Difícil escapar das opiniões mainstream que acabam gerando uma tremenda insegurança...
Foi o que disse pra minha terapeuta outro dia: eu tenho convicção do que é o melhor, confio nas pessoas que vão me ajudar, só está faltando confiar em mim mesma. Por que tem sempre alguem tentando nos convencer de que não somos capazes?
Seu post é um ponto de luz na escuridão, um dos poucos que tenho visto ultimamente. E dá força pra continuar nessa luta.
Obrigada.
Um beijo,
Renata
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