
por: Taís Viana (Mamífera Convidada)
Dia desses comecei a reparar que muita gente que eu conheci começou a aparecer na revista Exame. Tenho feito desde então um exercício de realidade paralela...
Uma "versão" anterior de mim formou-se em engenharia, foi trabalhar em consultoria de estratégia, cresceu super rápido no trabalho. Foi uma workaholic inveterada e ganhava um salário obsceno. As pessoas achavam que eu seria aquela tia solteirona, com um trabalho glamouroso, que nunca casou e teve filhos. Apesar de eu ser uma pessoa naturalmente solitária e não sentir falta na época de ter filhos e muito menos marido, minha última revolução pessoal me tirou desse caminho.
Espantosamente, "juntei" com o namorado há 6 anos, noivamos, casamos, botei mais um sobrenome e hoje sou uma típica mãe que trabalha de casa, atolada em afazeres domésticos e profissionais. Engordei 10 kg, dependo financeiramente do marido, não lembro quando foi a última vez que botei um salto alto, não sei mais o que é acordar tarde, aprendi a cozinhar, sei quantos cocôs minha filha fez no dia, sei pra quê serve cada um dos produtos de limpeza e agora tenho rotina.
No começo do ano entrei em crise. Queria pôr a filha debaixo do braço, fazer as malas e mandar às favas o marido, a casa, os 10 kg a mais e a rotina. Eu já estava no limite com minha "versão" atual. Fiz terapia, massoterapia, reiki, meditei, acendi incenso, vela, rezei, fiz outra terapia, tricô, briguei, esbravejei, chorei.
Quando minha realidade paralela começou a aparecer na revista Exame, comecei a ver tudo o que eu tinha perdido. A essa altura eu poderia já ser literalmente milionária, viver viajando, conhecendo lugares e pessoas exóticas. Continuaria magra e muito chic! Namoraria um cara lindo, 10 anos mais novo. Teria uma governanta pra cuidar da casa pra que eu não tivesse que me preocupar com isso. Não cozinharia um ovo frito, mas comeria nos melhores restaurantes do mundo. Frustrei-me. E chorei mais um pouco. Perdi o sagrado sono das mães algumas noites.
Tentei descobrir como fazer pra voltar naquele caminho. Mas um dia desses, como todos os outros, minha filhota entrou engatinhando no escritório de casa. Sorriu como só ela sabe fazer. Queria colo e "mamá". Larguei o projeto, fomos para o quarto e fiquei olhando seu rostinho enquanto ela adormecia. Chorei de novo. Agradeci mentalmente meu marido por ter me dado a melhor coisa da minha vida.
Minha "versão" atual ainda está em construção, precisando de ajustes, mas agora sabe que é melhor que a anterior. Minha vida agora é um filminho básico de sessão da tarde. Mas com final feliz.
Imagem: http://www.gettyimages.com.br/
5 comentários:
Quem nunca pensou como seria a vida se algumas decisões tivessem sido diferentes?
Acredito que tais reflexões não acontecem por acaso. São fruto de algumas dúvidas e incertezas sobre onde estamos e para onde iremos, mesmo que seja apenas para reafirmar nossas escolhas.
Obrigada pelo texto.
Taís, querida moderadora desmorada, lindo seu filme de sessão da tarde. Eu tb estou reiventando uma nova realidade. Ser mãe despertou em mim o melhor que podia existir, uma pessoa que eu não conhecia, uma alma feminina e doce. Que bom que podemos ver outros mundos, não é?
Beijos no seu coração, e todas as mamíferas tb.
Taís, acho que isto anda acontecendo muito, ultimamante: mulheres que "largam tudo" pra cuidar de filho, casa e marido. Depois de anos de luta pra se "emancipar", claro que assusta voltar a ser "mulherzinha".Vc OPTOU por isso. Se pretende ter mais filhos, tenha logo, e daqui há uns..5 anos pode "retomar" sua vida. Os filhos crescem e não dependem tanto da gente. Viva este momento, já que o outro já foi vivido. E relaxa!
Tais querida, A-DO-REI!!!
Toda mãe passa por isso em maior ou menor grau, e essa parte da historia, de filme de sessão da tarde com final feliz é a melhor...rsssss
Já te achava uma mulher maravilhosa, e agora te admiro ainda mais!
Acredito, que os filhos são as maiores riquezas que podemos ter e que não há dinheiro que pague a alegria de ser mãe!
Beijos
Rosana Oshiro
Tais,
Numa versão menos glamourosa, vc contou um pouquinho da minha vida.
E te digo, essa minha versão atual, é de longe (mas muito longe mesmo) a mais feliz.
Sim, as vezes, dá vontade de ter minha graninha...Comprar minhas doideiras sem dar satisfação...
Mais, essas vontades passam tão rápido, que sinceramente nem sinto.
Estou tentando construir algo pra mim , mas algo que me deixe próxima a minha Cora, mantendo mais ou menos a mesma rotina.
Por hora, estamos no mesmo filminho básico de sessão da tarde, com final feliz sim!
bjs, adorei sua participação.
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