por: Kalu
Quando a gente engravida, principalmente do primeiro filho, surge aquele receio de fazer tudo certo. Eu, por exemplo, nunca tinha segurado um recém nascido no colo, não sabia nada sobre banho, amamentação, desenvolvimento, ganho de peso, introdução de alimentos, nascimento dos dentes. Depois de me preparar para o parto, com meu filho nos braços pensei: e agora?
Pronto, tornei-me presa fácil para os palpiteiros de plantão. E como existem, de todos os lados, com a melhor das boas intenções. Lembro que depois do parto chamei uma massagista para ajudar na retenção de líquído. Estava super certa de não dar chupeta para ele, nem mamadeira. A moça chegou e começou a dizer que chupeta alcalmava, que o filho dela era um doce porque ela atendeu a necessidade dele de sugar. Fiquei balançada, falei para meu marido comprar e quando dei para o Miguel ele vomitou. Mesmo aquele ato parecendo errado para meus instintos, resolvi ceder. O vômito do Miguel foi o símbolo de que era preciso que eu desenhasse o caminho educacional de meu filho. Meu filho sempre mamou muito. Alguém sempre olhava e dizia: ele mama demais, por isso regurgita. Você tem que estabelecer limites, dar mamar de três em três horas. Tentei um dia, dois... Foi aquele sofrimento familiar. Meu filho queria chupeitar. E que mal há nisso? Estava a inteira disposição dele, não me sentia cansada. Decidi deixar que ele mamasse o quanto quisesse e a paz voltou a reinar. Outro dia, em um restaurante, uma mulher do amigo do meu marido ficou a me olhar, dando de mamar para o Miguel com uma cara de reprovação. Ela comentou:
- Ele está fazendo seu peio de chupeta.
Prontamente respondi:
- Melhor do que fazer a chupeta de peito.
Os palpiteiros indicaram milhões de livros para que eu aprendesse a cuidar do meu filho. Eu comecei a ler aquele nada "encantador". Sempre olhei para ele como um ser único, além de tabelas de pesos e medidas. Nada daquilo parecia coerente para mim. Aposentei os livros de auto-ajuda para mães americanas e parti para algo que fazia mais sentido para mim. A antroposofia é um convite para que olhemos nossos filhos como almas em corpos pequenos, a sermos expectadores da obra divina. Não estimular, não enquadrar. Deixar a febre cumprir seu papel de fortalecer o sistema imunológico e formatar o EU da criança. Acolher, observar e principalmente ouvir a voz interior.
Na última consulta disse para o pediatra da dificuldade que tenho em fazer o Miguel comer. Ele disse:
- O Miguel come, mas do jeito dele. Ele mama e animicamente ele mostra a gratidão pelo amor que o envolve nos braços. Porque, se ele pudesse, entraria dentro de você para imergir neste amor que você emana.
Tinha mil peguntas se ele não precisava de vitaminas. O pediatra brincou com o Miguel e disse que ele transbordava saúde e amor. Nem precisei questionar sobre estes subterfúgios externos.
Acalmei meu coração e tive a certeza que quando nasce uma criança, seu manual é colocado no fundo do coração de sua mãe. Para alcançar este conhecimento, é preciso silenciar a mente e os conceitos. Seguir a voz do coração.
Para mim, a experiência do parto fez nascer uma leoa. Sigo meus instinos nos momentos de dificuldades. Assim, como sempre despertei segundos antes dele acordar, acredito que minhas escolhas coerentes com a consciência de nossa família, ajudarão meu filho a desenvolver plenamente suas potencialidades.
Imagem: http://www.gettyimages.com.br/
Um comentário:
Estou com meu filho de 17 dias no colo, tentando desesperadamente entendê-lo e entender-me. Tento ignorar os palpiteiros, mas às vezes minhas dúvidas e inseguranças me pregam peças.
Foi ótimo ler seu texto para clarear minhas idéias, pois eu sei o que fazer e não devia duvidar disso: meu coração!
Beijos e obrigasda
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