Poucas coisas angustiam tanto uma mãe quanto a primeira febre de um filho. Bom, a primeira, a segunda, a terceira, a quarta. É duro ver os nossos pequenos amuadinhos, com as bochechinhas vermelhas, os olhos caídos, jogados num canto do sofá sem disposição pra brincar, bagunçar, divertir.
Isso, além da preocupação que vem das informações desencontradas (e muitas vezes equivocadas) que sempre ouvimos por aí e ficam rondando a mente nessas horas mais complicadas: que febre é perigoso, que tem que baixar, que pode dar convulsão, etc, etc, etc.
A gente vive em uma sociedade que cultiva noções um tanto traiçoeiras de saúde. Como se a doença fosse um monstro que se deve combater a qualquer custo, e os incômodos provocados por ela, meros inconvenientes que, quanto mais rápido se puder superar, melhor.
Às vezes a gente se esquece que o corpo humano é um sistema harmônico, integrado, inteiro. Nada acontece por acaso. As doenças não nascem do nada, não chegam sem nenhuma razão, sem qualquer propósito. Eu sempre tive em mente que organismos equilibrados não adoecem, e que se houve condições para que uma doença se instalasse, foi porque um desequilíbrio (mental, emocional, físico, tudo está interligado, as coisas acontecem em conjunto) fez com que o organismo se tornasse mais suscetível. E que essa doença seria uma oportunidade de tratar não apenas o sintoma pontual, mas o doente: reequilibrar meu organismo e torná-lo mais harmônico, integrado e resistente.
Esse, pra mim, sempre foi o grande furo da alopatia, e a razão principal pela qual nunca acreditei nela como meio de tratamento: a crença alopática disseca o paciente, enxerga-o como um amontoado de partes desconexas, não como um todo integrado e interligado, onde nada acontece de forma independente.
As febres infantis são, na maioria das vezes, oportunidades para a criança amadurecer, para debater-se consigo mesma a fim de conhecer-se melhor, e sair fortalecida. Eu, com as minhas meninas, comprovo isso o tempo todo. A cada episódio de febre, passada a crise, elas saem transformadas. É como se tivessem 'passado de fase', subido um degrau.
Minhas filhas tiveram poucos episódios de febre até hoje. Algumas febrinhas bobas, acompanhando processos de gripe ou semelhantes, e poucos episódios de febrão, daqueles de derrubar. Em nenhum deles tomaram antitérmico, nem mesmo medidas mecânicas para baixar a febre, como banhos frios por exemplo. Eu tenho como filosofia deixar a natureza atuar, deixar que o corpo defenda-se sozinho, porque é o que ele precisa para tornar-se mais forte. A gente ajuda com uma homeopatia aqui, com um chazinho acolá, e acima de tudo com muita presença, muito aconchego e muito carinho. E deixa que o organismo faça o papel principal.
Vejo muitas mães dizendo: "ah, mas quando a febre aumenta muito, eu dou antitérmico... não suporto ver meu filho caidinho, é muita judiação!". O problema desse raciocínio é não levar em conta a sabedoria do organismo: se seu filhote está amuadinho, em um ritmo mais lento do que o seu normal, talvez seja porque, naquele momento, isso é tudo o que ele precisa. Talvez seu corpo esteja pedindo uma pausa na agitação cotidiana para reunir forças, superar as dificuldades e seguir em frente, sempre mais fortalecido que antes.
Não, não é nada fácil ver a nossa cria ardendo em febre e resistir à tentação do antitérmico salvador. O sofrimento deles dói mais na gente do que o nosso próprio, disso não há dúvidas.
Mas são oportunidades para um aprendizado nosso também, como mães e pais. Eu, sempre que passo por uma situação dessas e cogito uma atitude mais intervencionista, tento me centrar, tranquilizar e, sobretudo, lembrar de uma frase dita certa vez pela pediatra das meninas, homeopata que não medica febre. Eu disse pra ela que era muito difícil ver as meninas sofrendo e não fazer nada. A resposta: "elas têm toda uma vida pela frente, e nem sempre você vai poder impedir que elas sofram. e não é esse o seu papel. o seu papel é estar do lado, dar carinho, estar presente. mas as dores que elas tiverem que passar na vida são delas, e elas vão ter que vivê-las por si, você goste ou não".
É nessas horas que eu lembro que elas não vieram ao mundo somente para crescer. Vieram para fazer crescer também.
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3 comentários:
adorei o texto Rê, concordo com cada linhazinha, e destaco:
"... elas não vieram ao mundo somente para crescer. Vieram para fazer crescer também."
É isso mesmo, ser mãe fez (e faz, a cada dia) aflorar tantas sementes que dormiam dentro de mim.
beijos!
Rê, adorei também. No começo, com uma pediatra alopata, eu dava antitérmico - e a impressão que tinha era de que o Rô vivia doente. Depois que parei de dar antitérmico, ele vive as crises dele (que ficaram muito mais espaçadas) e eu aceitei que a única coisa que posso fazer é estar ao lado, dar colo, carinho, aconchego. E é muito bonito: apesar de parecer que é deixar sofrer, ambos saímos fortalecidos - ele porque cresceu e eu, porque aprendi mais um pouquinho a vê-lo crescer e dar voltas cada vez maiores para longe de mim.
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